segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

AVENAL

Desafiado pelo Toino Tchim
Um amigão, afinal
Bastantes dias, vinha, cavei
Na quinta do Avenal
Montados nas bicicletas
Íamos pelo Toxofal
Ali na padaria
Na do Carlos padeiro
Ainda madrugada
Adquiríamos o casqueiro
Da primeira fornada
Tomávamos o “Mata-bicho”
A manhã despontava
De bom vinho
A velha cornada
Dizia o caseiro:
Quem se negue, não é homem
Não é nada!...
A seguir iniciava-se a jornada
O caseiro estimulava
A cada nova rodada:
Quem se negue não é homem
Não é nada!...
Mais vinho servido na canada,
O copo feito de corno de boi
Passara a alvorada.

Daniel Costa

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

MADRUGADAS

DE LISBOA

A vida para ser aventura
É autêntico e íntimo segredo
Segredo e aventura, que perdura
Anos sessenta
Do campo não ficou saudade
Em Lisboa desembarquei
Iniciava a fazer parte da cidade
Aventura com que sempre sonhei
Nas Portas de Santo Antão comecei
Como aprendiz então
Vais à Avenida da Liberdade:
Ordenou o patrão!...
Liberdade, queria,
Onde ficava a Avenida, não sabia
Depressa disse:
Absorveste rápido o que ensinei
Aprendeste, é assim a vida!
Ficas com a chave
Vais trabalhar na “Ginjinha Avenida”
Junto ao Parque Mayer
Mesmo edifício do “Café Lisboa”
Folgas, na semana, um dia
O mesmo que te reservei
Mais, cem paus acrescentarei
Para folgares e entrar
Às dez da noite de Quarta
Fechas às duas do dia seguinte
Regressava, feliz Avenida abaixo
Depois Rua do Benformoso
Passava o chafariz
A seguir
A íngreme Calçada do Monte subia
Largo da Graça e Rua de Santo António
Travessa da Bela Vista, onde vivia
Perto das cinco do outro dia
Por vezes, a porta abria
Na madrugada, a Avenida descia
Nos Restauradores
Trabalhadoras nocturnas de esquinas
Viam-me como se fora freguês indigente
Encontrava-as bamboleantes, traquinas
Ignoravam-me, de repente
Porém, deviam conhecer-me
Ora as meninas!...

Daniel Costa

terça-feira, 25 de novembro de 2008

RESOLUÇÃO

Aconteceu, a João Moisés ter sido afectado pela vulgar patologia da gripe, algo banal, porém talvez pelo infatigável apego e gosto pelo que fazia, aconteceu uma recaída e o resultado foi a necessidade de assistência médica.
Aconteceu, o doutor além de medicamentos adequados, contra vontade do paciente receitou dois dias de baixa, para descanso.
Conformado teve de aceitar, tanto mais que ouviu: Aqui sou eu o médico!
Mal chegado a casa para convalescer, por telefone foi convocado pelo efémero chefe de serviço, era preciso! Foi, cumprir um “dever” acima de tudo!
No fim do mês, não estranhou receber o salário por inteiro. Como não se surpreendeu receber o correspondente à baixa, a contabilidade resolveria!
Já então, em virtude do forte incremento da editora, traduzido na constante entrada de pessoal. O Moiteirim e o Merilim de directores, cada um do seu departamento, promoção e vendas, subiram ao topo do mesmo sector, que se juntara na supervisão.
Maldosamente o tal de Moiteirim, veio com um postal afim, da caixa e questionou sobre o assunto. Julgou, como mau juiz, nem ouviu e João convocado, por necessidade, os dois únicos dias de baixa de doença. Sacrificara a saúde, ao serviço de uma grande empresa e trabalhou dois dias sem qualquer remuneração, inadmissível! Só promovidos e consentidos por quem não sabia estar em lugares de chefia.
A empresa teve culpa, porque alimentava servidores, que sabiam fingir que pensavam, mas actuavam em nome da mesquinhez de princípios.
Entrou uma leva de promotores, talvez por maldade planeada por Merilim. Da sua formação, pela única vez, constou da observação de como formava o seu grupo de agentes de tutela e ele João Moisés, o próprio, em demonstração actuou durante visitas de contactos com sócios.
A acção teve em vista humilhar, tanto mais o João ser considerado exemplar nesse trabalho, que já provara com algo apresentado.
Fez a demonstração a propósito, achou que decorreu impecavelmente.
Finda a qual um dos Afins, estava em formação e para agradar ao “dono”, mostrou cobardia e disse: Foi interessante, porém podia ter sido muito melhor!
A perseguição continuava, outro Afim, já chefe de grupo ordenou, a um chefe de tutela um trabalho fora do horário laboral, este recusou, porque não tinha de receber ordens para transgredir.
O João Moisés assistiu à arrojada cena, um gesto de pura vilania. O colega mesmo assistindo-lhe a razão teve ordem de despedimento.
Por apontamentos pessoais, estavam anotadas todas as horas pós laborais, foi accionado processo.
João Moisés, convidado a ser testemunha do caso, disse ao chefe, muito bem!
- Sabe que o trabalhador tem razão e não espere ver verdades alteradas, arrostou com ameaças, mas a integridade acima de tudo! Acabou por ser dispensado o seu depoimento.
A empresa acabou por pagar e muito justamente, o que lhe veio a ser exigido!
Pequenos factos, denunciadores da perseguição continuavam. A isenção de horário de trabalho seria compensada monetariamente, com prémios de produtividade, por trimestre, o ciclo de entrega da revista com a indicação dos livros disponíveis, recolha dos postais com os pedidos e entregas, enquanto se recebiam as quotas mensais.
João Moisés procurava pôr o seu grupo a funcionar bem, por exemplo, em determinado trimestre tinha saído o livro “Fábrica de Oficiais”, no memo havia uma cena em que um sargento tinha sido violado, por colegas mulheres. Destacado o assunto aos agentes, o livro teve grande sucesso de vendas no sector conduzido por João Moisés. Um marketing útil enquanto interessante no prémio de vendas.
Pois, recebeu indicações da supervisão, que apenas tinha de vender trimestralmente consoante a quotização dos sócios. Efectivamente não havia erro, estavam a ser atingidas metas, que iam contra desígnios pessoais. E as admoestações vinham de supervisores!.... O que seria o último trimestre, pela sua própria contabilização, atingiria um prémio de cerca quatro mil escudos, quantia jeitosa, para a época.
Por interferências na contabilidade, o próprio rapaz Moiteirim conseguiu que ficasse reduzida a dois. Nem assim evitou que fosse a mais elevada de entre as quatro, que então existiam.
O género de perseguição era tal que ao João Moisés chegou receio de entrar acção da própria P.I.D.E. Com essa nada podia, não obstante a sua força interior para brincar ao gato e ao rato, com tamanha irresponsabilidade, dir-se-ia de rapazes imaturos.
Um dia aconteceu que ao chegar ao escritório, um dos Afins entretanto na chefia do departamento, naturalmente para não desagradar ao “dono”, deixara a ordem para não sair sem a vinda do tigre de papel do chefe.
João Moisés, assim procedeu pensando logo no que viria de novo! E o que havia era uma confrontação com um caso de um agente de tutela desonesto, caso que nem podia conhecer a fundo, porque já se apresentava problemático e fora entregue a um ajudante mais disponível, para restabelecer o contacto.
O agente sabia bem a fraude que tinha feito, detectado aqui, fugia para ali, vida e obra complicada! Pensando bem era o chefe que o tinha seleccionado, em última análise era o primeiro culpado, por outro lado, sendo este o responsável pela tutela, era dever de não implicar o colega, que saberia melhor pronunciar-se sobre o assunto, mas isso estaria fora de causa.
A perseguição era dirigida a um alvo certo!
Sem ouvir, o tal Afim decretou o ter de assistir os sócios do sector, de imediato. O João Moisés recusou, então quando devia subir, descia de cavalo a burro?
Jamais! A brincadeira chegara tão longe!
A recusa sortiu efeito, pelo menos para o Moiteirim e consequentemente para o Merilim.
Castigo de dois dias de suspensão, mas a prazo, quando mais convinha aos serviços!
- Ordem emanada do chefe de pessoal!
“Democraticamente”, Moiteirim convocou-o para uma audição. Evidentemente uma ideia patética, só podia esbarrar numa negativa.
- Aplicava sanção, só depois ouvia razões!
Os deuses deviam estar loucos!
Havia tempos João Moisés tinha sido convidado pelo próprio administrador de outra empresa, a funcionar na mesma rua, não dissera sim nem nim. Nos dias de suspensão descansou tranquilo e pensou a melhor maneira de partir para outra.
Concluiu que devia verificar se o convite ainda esperava. Ao ver que sim aceito-o.
Chegado ao Circulo de Leitores, depois da forçada travessia desértica, pediu ao pagador para ser o primeiro a receber. Este bastante amigo, com o seu sorriso malicioso assentiu.
Assim que foi recebido o ordenado, sem mais, disse adeus!...
No mesmo dia, foi escrita uma carta à administração, alegando justa causa, explicando porquê e pedindo contas do que achava ser-lhe devido.
Ninguém teve a coragem de responder, mas a desonesta, a cobarde perseguição acabaria!

Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA

sábado, 22 de novembro de 2008

SONHO LOUCO

Num sonho louco
Guerreiros da história
A todos recordei um pouco
Neros, Napoleões
Também a escória
Vem depois à memória
Viriatos e Sertórios
Mais os bravos navegadores
Esses lusitanos
Ao traçarem novo mundo
Deram volta à história
Os seus feitos anotados
Em versos cantados
Por muitos de pena armados
Vem depois um épico
Chamado Luís Vaz de Camões
Viajando por China e Índias
Numa gigantesca epopeia
Diz ter sido mordido por sereia
Gravou em letra doirada
Indelével e eternamente
O nome da Pátria amada
Pobre feneceu
Evocado em estátuas de bronze
Em eternos pedestais
Parece sempre dizer
Portugueses:

- Aqui estou eu!

Daniel Costa


NOTA À MARGEM:
Ontem, 21/11/2008, fazendo parte do grupo daniel milagre, foi inaugurado tejonorte. Dele farão parte uma série de artigos (capítulos) sob o nome genérico, precisamente, “TEJO NORTE”. Começaram a sair no “Jornal da Amadora”, e constituirão uma novela policial, que vai sendo escrita.

Especialmente para os amigos do Brasil convém informar, que a Amadora é uma cidade junto a Lisboa.
Convido a uma visita.
D.C.


quarta-feira, 19 de novembro de 2008

ESPIAR

Ainda vivo sonhado,
Que cada cidadão
Será um espião
Vou tomar cautela
Com a espionagem
Essa aragem
Que chega a qualquer ponto
Até num encontro
Com a donzela
Não se dá por ela
Mas pode ser arvela
A dar a espiadela
Servindo o patrão
Com vista à solução
De sanar mazela.
A espiadela é palavra mansa
É capa de insignificância
De qualquer ordenança
Que satisfaz vingança
Mesmo sem esperar herdar
Assento naquele lugar
Outro o irá alcançar
Manda-o espiar
E para o recompensar
Põe outro no seu lugar
Mas serei eu espião
Pela simples razão
De ser cidadão?
Oh! Mundo trapalhão!...


M.F. (iniciais do pseudónimo de Daniel Costa) –
in extinto “ Jornal do Oeste”, de Rio Maior em 8/2/1975.

domingo, 16 de novembro de 2008

PERSEGUIÇÃO

Uma empresa pequena ou grande, capitais nacionais ou estrangeiros, visará sempre o lucro, mas terá de ter em conta a elevação da sociedade onde se insere. Isso sairá de dentro para fora, com a valorização do seu capital humano.
Deverá também ter em conta esse objectivo, estimulado com iniciativas empresariais, até com departamento próprio, destinado a criar iniciativas de incentivo. Nem é necessário os chefes ou directores de serviços possuírem coeficientes de inteligência elevados, para entenderem, que a promoção terá de partir do seio da unidade comercial.
Não estará tão distanciado o exemplo de Henri Ford, que proporcionou crédito a todos os empregados, afim de possuírem o automóvel da sua fábrica.
Fazia deles, os clientes por excelência, criando ao mesmo tempo motivo de orgulho, e vontade de seguidores, que por sua vez seriam animados e ficariam motivados, para serem novos clientes.
Era também uma eficaz forma de marketing, e as unidades portuguesas?
Os pensamentos de João Moisés divagavam e navegavam, por este e outros exemplos de visão empresarial. Mostrara-se já homem de estrutura mental para os assimilar.
Podia abrir as mãos e mostrar, como se fazia e devia ser, o motivo da confusão que perpassava nos espíritos de superiores, que iam aproveitando a experiência do jovem. Apenas mostravam que sabiam fingir que pensavam, nada mais!
Como eram incapazes de mostrar, valor inerente aos cargos que ocupavam, preocupavam-se em procurar alinhamentos mentais, à sua altura.
Foi assim que, João Moisés começou a sentir uma tenaz perseguição, algo inconcebível, porque nem sequer era aberta, já que o Administrador catalão senhor Esteve, o trazia de olho e destinava a promoção.
Mas eis o que o homem que viera para Lisboa erguer, o que já estava encaminhado para ser um grande colosso empresarial, foi chamado a gerir outro projecto.
Assim, a perseguição logo se fez mais notada.
Coitados!...
Sabiam fazer de fingidores, não gestores!...
Uma certa perseguição andava já no ar, faltava a coragem de a fazer abertamente. Então quem, era por exemplo, o alto chefe mais directo? Onde estava a rectidão e o poder da democracia que apregoava, quando a palavra não passando de fazer parte de uma frase feita, era quase tabu, dos tempos e do regime vigente?
Pois o Moiteirim, apenas tinha entrado no loby do Merilim, que trouxera alguns colegas, naturalmente fascinados pelo seu poder de conversação, pela elegância pessoal, pela facilidade com que este manipularia pessoalmente o seu mundo, um fácil e conveniente modo de gerir, sem ter de pensar.
Incapaz de ter pensamento próprio, Moiteirim possivelmente teria cedido em holocausto, a cabeça de João Moisés, realmente, talvez fossem necessários dois para o irem derrubando lentamente.
Este, um dia contra o habitual, interferiu no nas suas marcações de contactos externos com agentes de tutela, porque era necessário ficar à disposição, para esclarecer pormenores sobre os sectores formados, a quem precisava de utilizar essa mecânica.
Parecia uma música, porque se via logo não ser necessário, nem para adormecer!
Passava-se algo estranho, porque um dia sem contactar agentes interferia muito no eficaz cumprimento de objectivos, os quais consistiam em prémios maiores ou menores, baseados no coeficiente de vendas, esses seriam uma contrapartida pelo tempo extra de trabalho.
Havia isenção de horário, com contrapartida baseada neles e mesmo assim o sindicato, mesmo fascista, não aceitava que, para o caso, os ordenados não sofressem aumento fixo. Estava ali mais uma pura violação, perpetuada na incompetência, tanto mais que os prémios, por objectivos, também lhe eram favoráveis e o João Moisés gostava do que fazia e com os seus métodos pessoais, estava a conseguir êxito.
De qualquer modo, nunca deixara de funcionar o próprio espírito e o jeito de investigar.
E, esse passara a aplicação, sentindo ele próprio agora a necessidade de o utilizar e passara a haver muitos indícios.
Mas porque havia a lacuna das chefias, diria a incapacidade de fazer implementar as contas e mandar, aquele rebelde a outra freguesia?
Mistério, incompetência, ou o homem seria imprescindível?
De facto os Moiterins, os Merilins e os Afins, eram uma cambada de idiotas, sem saberem valsar!

Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

RECORDAÇÃO

Vou contar um segredo
Sentia frémito, suave vibração
Quando fui guardador de patos
Com a manada ia para o Val Medo
Ninhadas do tipo marrecos *
A mãe sempre criava
Em procura no ciclo da carôcha **
Do guardador porfiava
Na imensidão do campo
Guardar agradava
O mar em frente
No princípio do Verão
Os patos deglutiam o molusco
Com sofreguidão
O pastor olhava patos e vastidão
Podia entregar-se às nostalgias
Muito comuns então
Sonhava com outro mundo
O eterno desconhecido
Seria melhor de antemão
Aquele não o sentia cruel, não
Seria como um universo de papel
Ali andavam os patos
Não se cansavam
Sempre direitinhos
Engordavam como calmos gaiatos
Pareciam gostar da gamela
Muito juntinhos
Não precisavam de trela
Até que valiam vinte paus
Comprava-os o regateiro ***
O que, na sua carroça
Aparecia primeiro
O guardador ainda criança
Saberia ser feliz…
Agora, talvez um bom petiz!...

Daniel Costa

NOTAS:
* Raça de patos comuns
** Chama-se assim à caracoleta no concelho de Peniche
*** Corresponderia ao almocreve