sábado, 3 de maio de 2008

ESQUADRÃO 297 EM ANGOLA - 12

TRÊS-MARIAS – LUACA
Um pelotão, vindo do quartel de Nova Lisboa, estava estacionado na Fazenda Três-Marias, objectivando fazer parte da logística do Esquadrão 297.
Não estava enquadrado com armas pesadas, pelo que logo do comando operacional, avançou para a nova força com essa componente.
A catorze de Novembro, a nomeação chegou ao pelotão a que pertencia o Onofre, para preencher essa lacuna, com o consequente novo destacamento da respectiva esquadra.
A metralhadora pesada Breda, era como que indispensável, em qualquer aquartelamento, em virtude da eficácia que lhe era atribuída.
O serviço nunca precisou de mudar, a vigilância nas viagens entre as Três-Marias e Tari, sempre em todo o caso actividades dissuasoras, era no fundo uma das missões obrigatórias, levar a cabo naquele terreno.
Assim, no dia dezoito, ainda no mês onze, deu-se a primeira deslocação à Fazenda sede do Esquadrão, foi a oportunidade de, pelo apelidado "jornal de caserna", serem postos em dia acontecimentos de toda a índole, a informação era indispensavelmente desejada.
A vinte e dois de Novembro a rádio difundiu o estranho assassinato em Dallas, do Presidente dos Estados Unidos. Era Jonh Fitzgerald Kennedy, exactamente o governante, de uma das maiores potências mundiais. Onofre muito dado a estados nostálgicos, apenas por pensamento, porque nunca divagava para além de se questionar sobre o andamento dos acontecimentos, mesmo de âmbito mundial.
Foi assim que nesse dia, logo concluiu que a guerrilha iria durar mais alguns anos, porque desaparecera um governante de muita influência nas políticas mundiais, mostrando de várias formas, da sua aversão ao colonialismo, porque continuava a motivar o racismo.
Entre as operações de caçadas, sempre infrutíferas, parecia que a guerrilha com os muitos tiroteios, também tinha afastado os animais de caça, que só uma ou outra vez se deixavam ver, a não ser o caso de se apanhar de uma ou outra pacaça, a servir de rancho, onde se verificou ser de carne dura.
A nomeação para serviços, mesmo os dedicados à caça, que poderiam ter a conotação de lúdicos, sempre eram rodeados do necessário aparato militar e bélico, permanente indispensável.
No dia cinco do décimo segundo mês de 1962, soube ter-se a lamentar mais três baixas no esquadrão do comando.
Na Fazenda Três-Marias as deslocações eram em menor quantidade, houve algumas a Quimanoche, para trazer materiais destinados a melhorar aquelas instalações paramilitares.
A maior parte destinavam-se a viagens ao "velho" Tari. Nessas, mais uma vez se reparou na habitual passagem, por um grupo de árvores, em que podia ser observada a graciosidade dos macacos, tipo saguins, que se exibiam entre pequenos ramos, executando um espectáculo inolvidável.
Aquele género de símios, eram já conhecidos em cativeiro na metrópole, mas vistos no seu babitat natural, em grandes grupos era diferente, deveras interessante o seu equilíbrio e como os ramos, mesmo os de diminuto porte os suportavam!...
Dos muitos quilómetros percorridos, só ali se encontrava a espécie.
Foi também, relativamente perto, na fazenda Lifune, onde se podia ver um desses exemplares em cativeiro, que se havia tomado conhecimento da forma de apanhar vivo um desses buliçosos animais.
Munia-se o caçador de uma cabaça previamente tornada oca, com algumas pevides no interior, uma cavidade própria onde o símio pode deitar a mão ao petisco, de que é extremamente guloso.
Sendo um tipo de animal com características de muita esperteza, nesse particular é incapaz de intuir que, só largando as sementes, que apanhara, tornando a mão maior do que o buraco, por onde a fizera entrar, se conseguirá libertar.
Como teima, em não largar o pecúlio e em manter-se na posse do mesmo, facilmente é apanhado vivo pelo caçador!...
Foi na posição Três-Marias que se festejou o Natal de 1962, houve diferença, em relação a outros dias, o rancho do jantar, constituído por galinha corada, foi melhorado, tendo em conta a degustação, no fim um bom brandy.
A apoteose esteve a cargo dos militares nativos, com a execução de um batuque que durou até alta madrugada.
Chegou o fim de 1962, com tempos passados perto do rio de referência, do nome da Fazenda, o Luaca vagueava perto, entre inolvidável paisagem, com inúmeros fraguedos, várias vezes visitado para banhos, com o indispensável acompanhamento bélico, para fazer face a qualquer surpresa.
Nada aconteceria, por aqueles sítios de ataques armados, houve dias em que o labor se resumia a leitura e... "esperar com impaciência as horas da comida"... mais ou menos, como o escritor se referiu a um frade, cuja frase é pouco abonatória, para a espirítualidade do pastor de almas, onde era citado, em criação, Frei Januário,
Um de Janeiro de 1963, entrava-se num novo ciclo anual, para lembrar o Dia de Ano Novo, o rancho foi apresentado com uma soculenta carne, proveniente de matança de porco, um bácoro que por sorte tinha sido apreendido algures em posição terrorista.
A sete do primeiro mês de sessenta e três, o Esquadrão, sempre em serviço, numa das habituais batidas de limpeza, viu-se obrigado a infligir várias baixas, além de que capturou dois rebeldes.
No seguinte, doze, em mais uma batida, numa outra operação, novo êxito em baixas humanas, no campo terrrorista e a captura de vários elementos, entre eles dois considerados muito perigosos e activos.
Por esta altura, o Major Caldeira, entretanto Comandante interino do Batalhão de Cavalaria 350, em virtude de baixa por doença do Tenente-Coronel Costa Gomes, que logo mostrara aversão ao Esquadrão 297, já que o mesmo tinha sido formado de outra incorporação anterior, considerado mais apto, em virtude de ter passado três meses, adido ao Regimento de Infantaria, na cidade de Faro, onde esperou embarque, sempre em preparação militar adequada à guerrilha, o que bastava para detestar qualquer soldado que informasse ter passado aquele tempo adido no sul do país.
Porém, o Major com as provas da acção no terreno, com o notável comando operacional, um dia foi ao seio do Esquadrão para participar numa batida, uma vez que era, agora para ele, no Tari que havia guerreiros a sério.
Lá foi fazer parte do que seria uma grande operação, comandada por um alferes que, talvez por ser familiar do General Governador de Angola, estava a preparar a sua desvinculação do serviço militar.
Esta terá sido uma das circunstâncias do relatório a mencionar a impraticabilidade de prosseguir a operação, por o inimigo se apresentar com efectivos bastante superiores às tropas, que este comandava.
Assim, o Oficial Superior, em Comandante do Batalhão nada viu, porque quem competia conduzir a acção, recusara manifestamente a sua cumplicidade.
Como epílogo, diga-se sem receio, "farsa fardada", o Major Caldeira, o tal "pai da cuca", em conjunto com o Capitão Alves Ribeiro, criaram problemas ao alferes, que depois de deixar o Esquadrão, já estando no aeroporto pronto a embarcar para a metrópole e ver-se livre do serviço militar, acabou nas fileiras, mais propriamente no R.I.L - Regimento de Infantaria de Luanda, que também funcionava como depósito de Adidos, por mais algum tempo.
No fundo, o Onofre apesar da natureza de aventureiro e de ser dado a muitas reflexões, já tinha reparado no caso de, como militar, não ter permanecido mais de três meses seguidos no mesmo local.
No dia vinte de Janeiro, à passagem das onze horas de Domingo, a tropa conheceu um alerta de se manter preparada para qualquer eventualidade, pois havia chegado denúncia, via rádio de aproximação de novas actividades terroristas.
Não havendo algo de anormal, chegou a altura de baixar a guarda.
Na Fazenda o pólo vivencial das actividades, civis de laboração, distava quinhentos metros do núcleo do aquartelamento militar e era cercado de arame de cobre, de noite ligado à electrificação, para uma primeira defesa. Inúmeras vezes ali se encontravam serpentes electrocutadas, ficavam presas. Mais nenhuma espécie do reino animal conheceu ali o seu fim.
A catorze de Novembro, exactamente dois meses, após a chegada à Fazenda, que se situava perto do Rio Luaca, a guarnição de apoio ao pelotão que viera da cidade capital do Huambo, Nova Lisboa, foi rendida por outra de colegas do mesmo Esquadrão.
Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA

18 comentários:

Bandys disse...

Oi Daniel fico muito feliz com suas visitas.
Me responda uma pergunta: Voce fez parte dessa guerra que contas ??
É porque eu estou acompanhando só do ultimo post.
Um grande beijo

Chinha disse...

Que bem conheço estas paragens.....

Beijo e bom domingo

SAM disse...

Acompanhando com atenção, Daniel...


Grande beijo

Anónimo disse...

Muito obrigada pela visita ao meu blog! =)

jo ra tone disse...

Daniel
Ainda bem que essa guerra acabou
Era o que mais temia, ter que ir combater.
Desculpa, mas o ser humano não sabe o que faz.
Cumprimentos

Daniel disse...

bandys

Sim!... A guerrra começou, estava a fazer instrução militar, com destino a ser mobilizado.
Já fui com dossier, para fazer diário, com ideia de publicar. à esse que são devidos os créditos. Seria impossível, de outra maneira lembrar-me, por exemplo, das datas certinhas. Certos factos, não estavam esquecidos, mas colocaria-os em datas posteriores ou anteriores.
Assim há rigor!
Passa quando o entenderes, farei o mesmo.
Beijos
Daniel

Daniel disse...

Olá cinha

Conheces? É lógico e engraçado! possilvelmente depois!
Beijo e desejo de boa semana.

Daniel

Daniel disse...

Olá

Fico agradecido!...
A porta está sempre aberta!

Beijo
Daniel

Daniel disse...

Olá Nadja

Obrigada eu!...
Gostei a passarei!

Daniel

Daniel disse...

jo ra tone

Pois não, sobretudo nas guerras.
Houve muitos sofrimentos, encarei sempre na desportiva, mas!...
A génese da revolução, começou aí, os que defendeu do flagelo, devem-lhe estar gratos!

Cumprimentos
Daniel

Carla disse...

passei para te ler e desejar uma boa semana
beijos

Daniel disse...

Carla

Agradeço e retribuo desejando uma agradável semana.

Beijos
Daniel

o¤° SORRISO °¤o disse...

Oi Daniel.
Vim retribuir a sua visita ao meu blog. Fiquei muito feliz e espero que retorne.

Boa semana para você!
Beijos mil! :-)

Daniel disse...

Agradeço, entra sempre, a casa é tua e a porta está aberta.
Agradeço e passarei.
Retribuo desejos de boa semana, com um beijo.

Daniel

xistosa, josé torres disse...

Tenho que voltar.
Li mas não li ... como gosto!

Daniel disse...

xistosa

Agradeço!...
Volta sempre.

Daniel

xistosa, josé torres disse...

Não caçavam ???
Não havia palancas, pacaças, burros do mato, cabras selvagens, coelhos da pedra, estes até se apanhavam à mão e até javalis ???

Em 69/72, não passei fome, só não gostava de pacaça, mas até gato bravo comi ...

Daniel disse...

Xistosa

No corredor Muxaxuando a Mucondo só havia pacaças. Um dia caçámos um javali, único. Também havia muitas perdizes, há um episódio com essas.
Comer javali ali, foi de maravilha, bife de pacaça parecia sola.
passarão episódios, mas já no Sul, com lebres.

Daniel