ACÁCIO BARRADAS
Trago aqui uma das minhas figuras inesquecíveis, que reparo, ao longo da caminhada foram muitas, se bem que para as considerar assim, apresentaram um grande humanismo, a par de outros valores que mostraram.
Neste caso esteve o jornalista Acácio Barradas, falecido no próximo passado dia 26/l0/2008.
Por uma vida, demasiado absorvente, da minha parte, confesso não lhe ter prestado a atenção que me merecia.
Vi-o pela última vez, a falar para a RTP, num dos programas da série, sobre a Guerra do Ultramar, em que falou sobre Angola, onde de facto tinha trabalhado, como jornalista.
Por 1973, trabalhava no extinto jornal “Diário Popular” e ao mesmo tempo dirigia a revista “Rádio & Televisão”, propriedade da mesma empresa do jornal.
A capa era feita a cores, o que motivava, não ser executada nas oficinas do jornal. Era-o então na empresa, onde trabalhava. Todas Sextas-Feiras, cabia-me apresentar ao Director, para recolher fotografias e outros elementos.
A visita dava-se à tardinha, na mesma hora, em que devia acabar a reunião de agenda, para a feitura do número da semana seguinte. Acontecia por vezes, a mesma ainda não ter começado, era normal dizer que voltaria depois.
Assim procedia, até que um dia Acácio Barradas, olhou-me de frente, mirando os presentes, onde se encontravam nomes, hoje sonantes, das letras e disse: “o Daniel é da casa, deve sentar-se e assistir ás reuniões”.
As fotografias a cores raramente estavam prontas, quando acabavam as reuniões. Enquanto as esperava, fui conhecendo, internamente, todos os mecanismos do jornal, desde oficinas, sala de trabalho dos jornalistas, câmaras escuras (onde se revelam fotografias) a impressionante sala dos telex, com estes ininterruptamente a matraqueando a sós, recebendo notícias de todo o mundo e por fim a própria expedição do jornal,
Foco um episódio a que assisti: tinha-se sido eleição da miss Portugal, muita matéria específica, para a revista.
Ao telefone com Vera Lagoa, que coordenava, sobre algo que envolvia noticiário, havia complicação por problema com Ramiro Valadão, o então, director poderoso da RTP:
- Acácio Barradas:
Quero que o Ramiro Valadão se “F”…
Repare-se: era antes da Revolução, no fim olhei-o, este percebeu:
- Que queres? Para conseguir o que se pretende, no próprio interesse deles, por vezes é necessário ser bruto. Verás que assim consigo! Vê tu que a Vera ainda me disse:
- Ai Acácio!...
Em Janeiro de 1974, dada a escassez de papel, devido ao boicote internacional, que estava a ser feito, ao Governo de Marcelo Caetano, havia escassez de papel, tinha havido necessidade de reduzir páginas do jornal.
Várias rubricas foram omitidas, necessariamente. Uma delas era a secção “Filatelia” de Sábado, conduzida por Costa Júnior. Porém, o Acácio Barradas sabia de andar a trabalhar nela. Sem qualquer intenção dei-lhe conta da saída, no mesmo momento agarrou no telefone, do qual falou com o Costa Júnior, disse:
- “Meu caro, saiu a revista “Franquia”, esta semana tens de fazer a tua secção “Filatelia” e editar texto a propósito”.
Não é que saiu?...
Acácio Barradas, que faleceu com 72 anos, depois de passar pelo “Dário de Notícias”, ainda colaborava no “JL – JORNAL DE LETRAS, ARTES E IDEIAS”.
Um artigo seu, do número de 17 a 23 de Setembro noticiava a morte de um amigo comum, João Leitão, que falecera repentinamente, estando em gozo de féria no Algarve.
Coisas da vida!...
Daniel Costa
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
SELOS DE NATAL1974
VIA VENEZA
A ENTREVISTA COM O CRIADOR DA SÉRIA PORTUGUESA – NATAL DE 1974
Numa gentileza de Danilo Bogoni, chegou-me de Itália uma entrevista a Abílio de Mattos e Silva, Criador dos primeiros selos Natalícios Portugueses, distinguidos com o “VII PRÉMIO DE ENTRETENIMENTO INTERNACIONAL D’ARTE FILATÉLICA SAN GABRIELE” que, tem lugar anualmente em VENEZA e se destina a eleger o mais belo e artístico selo do religiosa do mundo.
A entrevista feita ao criador português é assinada por Gabriele Fabris, não tendo sido fornecido mais qualquer elemento, que indique onde foi originariamente publicada.
De posse da entrevista, contactei Abílio de Mattos e Silva, com quem troquei algumas impressões, colhendo alguns elementos, sobre a personalidade do artista, criador já de uma famosa série portuguesa.
Fiquei a saber que, numa primeira experiência, a série “ESTAÇÃO DE MELHORAMENTO DE PLANTAS” (1970), o autor não encara em concursos, porque diz:
- Quando deito a mão a uma qualquer criação, porque me dedico inteiramente, sofro um grande desgaste intelectual e físico, o qual poderá ou não vir a ser compensado, pois como é óbvio, dos vários trabalhos concorrentes, só um obterá o prémio.
Abílio de Mattos e Silva afirma também, que não terá desenhado mais selos pelo simples facto, de não ser hábito os seus serviços, espera sempre que o convidem, como aconteceu, não só com a série do “NATAL 1974”, que por sinal foi realizada numa má altura da sua vida, no tocante a saúde, mas também com a da “ESTAÇÃO DE MELHORAMENTO DE PLANTAS 1970”
Quando deixei o artista, um homem de 64 anos, mas que, nas suas criações, como a da série denominada “NATAL 1974”, ora premiada e os últimos quadros e ilustrações, da sua autoria, que tive o ensejo de apreciar, sobressai um talento inegavelmente jovem.
Mas, deixo Gabriele Fabris conduzir a conversa e comentar a obra, na sua entrevista que chegou em italiano e que se oferece, numa tradução livre, em português, enquanto chamo a atenção para o portuguesismo e modernidade dos selos.
LISBOA: Abílio Leal de Mattos e Silva, artista português, nascido no Sardoal a 1 de Abril de 1911, actualmente decorador do Ministério da Agricultura, desenhador de maquetes de cena, trajes de teatro, cinema, ballet e ópera, ilustrador e pintor.
São dele os três desenhos da primeira série natalícia de Portugal, emitidos em 1974.
Desenho a desenho de selos emitidos no Natal, estes são característico apontamento no que diz respeito á festa anual, visto que se fazem notar imediatamente. Há neles uma característica especial e um grande estilo. Eles têm o privilégio de apresentar a encenação de um Natal absolutamente nacional e ao mesmo tempo artisticamente válido, porque diverso e tipicamente português.
Eu quis, diz Abílio de Mattos e Silva, na sua segunda experiência filatélica – na minha série não um Natal internacional, mas sim um natal absolutamente português, Eis a razão porque os personagens que ilustram os selos são todos de costumes de hoje.
Assim consegui que a série tenha um traço popular.
Os desenhos apresentados em versão definitiva para a realização, são personagens populares, ou melhor, são pescadores da que recitam (seja-me permitido o termo) a parte dos personagens. Pescadores de uma praia portuguesa muito típica e que o artista दिज़ amar imenso. Esta praia, por uma feliz coincidência, chama-se NAZARÉ, que faz lembrar em sintonia a devoção a Nazareth do Natal de Cristo.
E assim foi-me fácil – é sempre Mattos e Silva a falar – executar estes desenhos, porque conheço muito bem a região, as suas tradições e porque ilustrei há alguns anos um livro dedicado aos trjes da Nazaré, que dento de muito tempo, devido à civilização terão desaparecido.
Os desenhos originais tinham os formatos de 20 X 20 cm, que depois de aprovados pelos técnicos dos correios, foram em selos, pelo processo de impressão offset.
Depois da aceitação dos desenhos Mattos e Silva não seguiu as várias fases de impressão, porque diz – os correios têm bons técnicos e extraordinariamente bem dirigidos por um artista plástico muito qualificado, que os mandou executar na litografia Maia.
Imprimiram nove milhões para o primeiro selo e um milhão para os restantes, compreendendo três taxas, coincidindo como fecho da fase final da celebração do Ano Santo, cujo tema condutor era “a paz fruto da reconciliação”, que não é outra coisa, que uma variante do Hino de Natal “Glória a Deus no Alto dos Céus e paz na terra aos homens de boa vontade”.
Sobre o primeiro valor de 1$50, um insólito Arcanjo S. Gabriel vestindo um branco capote com capucho monacal, anuncia à Virgem – uma doce trabalhadora do campo – a próxima maternidade. Maria toda impregnada das palavras que estão escritas sobre o mastro do estandarte do mastro que Gabriel tem nas mãos: - “Avé Maria Cheia de Graça” – está vestida com uma modesta saia escocesa, uma camisete e tendo a fazer de chapéu, um lenço atado na nuca. Uma pomba branca estilizada, símbolo do espírito, esvoaça suavemente sobre a Virgem da Nazaré.
No segundo valor, de 4$50, Maria apresenta o Menino aos pastores e aos pescadores que curiosos o observam. Uma saia plissada cinge o corpo da Virgem que se cobre com um manto escuro.
À esquerda do grupo e postados em terra, vasos de unguento, juntos a peixes e mais apetrechos usados pelos pescadores da Nazaré, que se vestem com trajes de trabalho dos nossos dias.
O de 10$00, que fecha a série no fundo das palmeiras, José que conduz pela mão o burrico, sobre o qual Maria está sentada protegendo com o mesmo o menino.
O modo como a Virgem vai sentada – volteando as costas para burro – é curioso, estranho e ao mesmo tempo sugestivo.
Em suma, uma série bem realizada, graças sobretudo à notável capacidade artística de Abílio Leal de Mattos e Silva, que nos premeia, como à posteridade – com o conferir de feliz simbolismo e um carácter tipicamente português de grande religiosidade e sentimento. E o tema universal, o pintor conseguiu transportá-lo e ao mesmo tempo quase ambientá-lo na própria terra.
Largamente merecida a atribuição do “San Gabriele”, a esta série considerada por conseguinte a melhor religiosa emitida em no mundo emitida em 1974, até porque a mesma sintetiza completamente a finalidade do prémio evocando o Arcanjo S. Gabriel. Que dizer a mensagem religiosa, transferida e visualizada através de desenhos artisticamente válidos e seguidos pela realização filatélica, tendo também a devida consideração pela finalidade própria dos valores postais.
Entrevista de Gabriele Fabris
NOTA; A primeira introdução foi feita especialmente para a revista FRANQUIA número 10, de Outubro de 1975. A entrevista foi retrovertida do italiano.
Tanto a apresentação, como a retroversão teve a autoria de Daniel Costa.
A ENTREVISTA COM O CRIADOR DA SÉRIA PORTUGUESA – NATAL DE 1974
Numa gentileza de Danilo Bogoni, chegou-me de Itália uma entrevista a Abílio de Mattos e Silva, Criador dos primeiros selos Natalícios Portugueses, distinguidos com o “VII PRÉMIO DE ENTRETENIMENTO INTERNACIONAL D’ARTE FILATÉLICA SAN GABRIELE” que, tem lugar anualmente em VENEZA e se destina a eleger o mais belo e artístico selo do religiosa do mundo.
A entrevista feita ao criador português é assinada por Gabriele Fabris, não tendo sido fornecido mais qualquer elemento, que indique onde foi originariamente publicada.
De posse da entrevista, contactei Abílio de Mattos e Silva, com quem troquei algumas impressões, colhendo alguns elementos, sobre a personalidade do artista, criador já de uma famosa série portuguesa.
Fiquei a saber que, numa primeira experiência, a série “ESTAÇÃO DE MELHORAMENTO DE PLANTAS” (1970), o autor não encara em concursos, porque diz:
- Quando deito a mão a uma qualquer criação, porque me dedico inteiramente, sofro um grande desgaste intelectual e físico, o qual poderá ou não vir a ser compensado, pois como é óbvio, dos vários trabalhos concorrentes, só um obterá o prémio.
Abílio de Mattos e Silva afirma também, que não terá desenhado mais selos pelo simples facto, de não ser hábito os seus serviços, espera sempre que o convidem, como aconteceu, não só com a série do “NATAL 1974”, que por sinal foi realizada numa má altura da sua vida, no tocante a saúde, mas também com a da “ESTAÇÃO DE MELHORAMENTO DE PLANTAS 1970”
Quando deixei o artista, um homem de 64 anos, mas que, nas suas criações, como a da série denominada “NATAL 1974”, ora premiada e os últimos quadros e ilustrações, da sua autoria, que tive o ensejo de apreciar, sobressai um talento inegavelmente jovem.
Mas, deixo Gabriele Fabris conduzir a conversa e comentar a obra, na sua entrevista que chegou em italiano e que se oferece, numa tradução livre, em português, enquanto chamo a atenção para o portuguesismo e modernidade dos selos.
LISBOA: Abílio Leal de Mattos e Silva, artista português, nascido no Sardoal a 1 de Abril de 1911, actualmente decorador do Ministério da Agricultura, desenhador de maquetes de cena, trajes de teatro, cinema, ballet e ópera, ilustrador e pintor.
São dele os três desenhos da primeira série natalícia de Portugal, emitidos em 1974.
Desenho a desenho de selos emitidos no Natal, estes são característico apontamento no que diz respeito á festa anual, visto que se fazem notar imediatamente. Há neles uma característica especial e um grande estilo. Eles têm o privilégio de apresentar a encenação de um Natal absolutamente nacional e ao mesmo tempo artisticamente válido, porque diverso e tipicamente português.
Eu quis, diz Abílio de Mattos e Silva, na sua segunda experiência filatélica – na minha série não um Natal internacional, mas sim um natal absolutamente português, Eis a razão porque os personagens que ilustram os selos são todos de costumes de hoje.
Assim consegui que a série tenha um traço popular.
Os desenhos apresentados em versão definitiva para a realização, são personagens populares, ou melhor, são pescadores da que recitam (seja-me permitido o termo) a parte dos personagens. Pescadores de uma praia portuguesa muito típica e que o artista दिज़ amar imenso. Esta praia, por uma feliz coincidência, chama-se NAZARÉ, que faz lembrar em sintonia a devoção a Nazareth do Natal de Cristo.
E assim foi-me fácil – é sempre Mattos e Silva a falar – executar estes desenhos, porque conheço muito bem a região, as suas tradições e porque ilustrei há alguns anos um livro dedicado aos trjes da Nazaré, que dento de muito tempo, devido à civilização terão desaparecido.
Os desenhos originais tinham os formatos de 20 X 20 cm, que depois de aprovados pelos técnicos dos correios, foram em selos, pelo processo de impressão offset.
Depois da aceitação dos desenhos Mattos e Silva não seguiu as várias fases de impressão, porque diz – os correios têm bons técnicos e extraordinariamente bem dirigidos por um artista plástico muito qualificado, que os mandou executar na litografia Maia.
Imprimiram nove milhões para o primeiro selo e um milhão para os restantes, compreendendo três taxas, coincidindo como fecho da fase final da celebração do Ano Santo, cujo tema condutor era “a paz fruto da reconciliação”, que não é outra coisa, que uma variante do Hino de Natal “Glória a Deus no Alto dos Céus e paz na terra aos homens de boa vontade”.
Sobre o primeiro valor de 1$50, um insólito Arcanjo S. Gabriel vestindo um branco capote com capucho monacal, anuncia à Virgem – uma doce trabalhadora do campo – a próxima maternidade. Maria toda impregnada das palavras que estão escritas sobre o mastro do estandarte do mastro que Gabriel tem nas mãos: - “Avé Maria Cheia de Graça” – está vestida com uma modesta saia escocesa, uma camisete e tendo a fazer de chapéu, um lenço atado na nuca. Uma pomba branca estilizada, símbolo do espírito, esvoaça suavemente sobre a Virgem da Nazaré.
No segundo valor, de 4$50, Maria apresenta o Menino aos pastores e aos pescadores que curiosos o observam. Uma saia plissada cinge o corpo da Virgem que se cobre com um manto escuro.
À esquerda do grupo e postados em terra, vasos de unguento, juntos a peixes e mais apetrechos usados pelos pescadores da Nazaré, que se vestem com trajes de trabalho dos nossos dias.
O de 10$00, que fecha a série no fundo das palmeiras, José que conduz pela mão o burrico, sobre o qual Maria está sentada protegendo com o mesmo o menino.
O modo como a Virgem vai sentada – volteando as costas para burro – é curioso, estranho e ao mesmo tempo sugestivo.
Em suma, uma série bem realizada, graças sobretudo à notável capacidade artística de Abílio Leal de Mattos e Silva, que nos premeia, como à posteridade – com o conferir de feliz simbolismo e um carácter tipicamente português de grande religiosidade e sentimento. E o tema universal, o pintor conseguiu transportá-lo e ao mesmo tempo quase ambientá-lo na própria terra.
Largamente merecida a atribuição do “San Gabriele”, a esta série considerada por conseguinte a melhor religiosa emitida em no mundo emitida em 1974, até porque a mesma sintetiza completamente a finalidade do prémio evocando o Arcanjo S. Gabriel. Que dizer a mensagem religiosa, transferida e visualizada através de desenhos artisticamente válidos e seguidos pela realização filatélica, tendo também a devida consideração pela finalidade própria dos valores postais.
Entrevista de Gabriele Fabris
NOTA; A primeira introdução foi feita especialmente para a revista FRANQUIA número 10, de Outubro de 1975. A entrevista foi retrovertida do italiano.
Tanto a apresentação, como a retroversão teve a autoria de Daniel Costa.
sábado, 25 de outubro de 2008
LISBOA CAFÉ - 21
PRAÇA DO CHILE
A zona era bastante familiar a João Moisés, que frequentara aulas por ali em dois estabelecimentos diferentes. Um na Rua Francisco Sanches, a mesma que entroncava a Sul com a Pascoal de Melo, era nessa no número um, em que se situavam as instalações da sua novíssima ocupação.
No dia vinte e seis da Janeiro entrara numa editora e tanto que o que desejara! Visto que por oposição a gráficas, era estar do lado de lá, talvez menos tempestivo, pelo menos para um espírito irrequieto, como era o caso.
O acompanhamento das várias fases, de cada obra gráfica, tornava-se absorvente.
Dessa tarefa constante dependia o saber o como ia encaminhado cada trabalho. Disso dependia por vezes o frenesim dos clientes. Quem tinha o encargo de os representar internamente, procurando que tudo andasse harmoniosamente, tinha de procurar insistentemente esse desiderato.
Agora iniciara, numa editora, não era o trabalho almejado, mas parecia a contento, uma empresa, cuja casa mãe era alemã, dali criara raízes em Barcelona, que se estavam a estender a Lisboa.
João Moisés seria o nono elemento, contando mesmo com o catalão senhor José Maria Esteve, o Administrador que, de Barcelona tinha a incumbência de instalar o Circulo de Leitores em Portugal, que viria a atingir as centenas de funcionários.
Ao lugar dava-se a designação de inspector de tutela e controlaria externamente um grupo de agentes trabalhadores recrutados em várias ocupações, para exercer serviço de vendas em regime de “part-time”.
Entrar de novo numa empresa, fazer parte do seu lançamento, de conceitos avançadas para a época, tudo era o máximo que se poderia exigir e a confirma-lo estava imediatamente num adequado modo de formação.
Para o verdadeiro lançamento comercial, entenda-se, foi escolhida a zona de Moscavide. Três promotores formadores mais o seu chefe, que tinham vindo de ter formação na congénere de Barcelona e já alguns por formar, entre os quais João Moisés, embora já destinado a outras funções, que no fundo também faziam parte das vendas, deram início ao grande lançamento.
Começou pela entrada num prédio, um dos promotores, dirigiu-se à porteira e pediu para andar na escada e bater a todas as portas afim de fazer o trabalho.
A cordialidade resultou e foi a senhora a primeira a receber a embaixada do Circulo de Leitores e a promoção começou logo assim:
- “Minha senhora se houvesse em Portugal uma empresa que, por uma pequena quota de mensal 37$50 pudesse adquirir, pelo menos um livro de três em três meses, resultaria em hábitos de mais leitura”?
- Resposta:
– Sim!
-“Pois bem essa empresa já existe, chama-se Circulo de Leitores e nasceu na Alemanha, com o nome de Bertelsemenn”. - Deseja aderir?
Evidentemente, o grupo de palavras precisas e concisas, tinha sido estudado e ensaiado, produzindo efeitos visíveis imediatos. Não obstante o novo sócio, receberia um impresso próprio, com o qual teria de confirmar a adesão, dirigindo-o assinado, à firma em carta posterior.
Logo após essa jornada, João Moisés começou as suas funções, entre as quais a de transformar em sectores toda a Lisboa, fazia-o de carro e apeado, no sentido de avaliar o número de sócios existente, consoante alturas de prédios, extractos sociais, escritórios e outros factores.
Cada sector, poderia abranger, várias ruas, uma, parte, lado direito ou esquerdo, partes de rua, de ambos os lados. Tudo era anotado e no caso de ruas partidas, ficava marcado os números de portas onde começava ou acabava.
Para cada seria recrutado um agente de tutela local. Receberia a primeira quota do trimestre, entregaria uma revista com a designação dos livros já editados. Na mesma, aparecia em destaque o considerado livro do mês, o livro de prémio por cada novo sócio, que conseguisse. Um direito atribuído a cada inscrito e o cartão de pedido, a entregar preenchido no mês seguinte com o pagamento da segunda quota.
No terceiro mês efectuaria o pagamento três, contra a entrega dos livros pedidos, que podia, obviamente devia, ultrapassar os 112$50, sendo de imediato liquidada a diferença.
Ali à Praça do Chile no número um da Rua Pascoal de Melo estava a nascer uma nova empresa, em Portugal, uma lufada de novo ar no meio, em 1971, em que afinal já se vivia uma época pré revolucionária.
Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA
A zona era bastante familiar a João Moisés, que frequentara aulas por ali em dois estabelecimentos diferentes. Um na Rua Francisco Sanches, a mesma que entroncava a Sul com a Pascoal de Melo, era nessa no número um, em que se situavam as instalações da sua novíssima ocupação.
No dia vinte e seis da Janeiro entrara numa editora e tanto que o que desejara! Visto que por oposição a gráficas, era estar do lado de lá, talvez menos tempestivo, pelo menos para um espírito irrequieto, como era o caso.
O acompanhamento das várias fases, de cada obra gráfica, tornava-se absorvente.
Dessa tarefa constante dependia o saber o como ia encaminhado cada trabalho. Disso dependia por vezes o frenesim dos clientes. Quem tinha o encargo de os representar internamente, procurando que tudo andasse harmoniosamente, tinha de procurar insistentemente esse desiderato.
Agora iniciara, numa editora, não era o trabalho almejado, mas parecia a contento, uma empresa, cuja casa mãe era alemã, dali criara raízes em Barcelona, que se estavam a estender a Lisboa.
João Moisés seria o nono elemento, contando mesmo com o catalão senhor José Maria Esteve, o Administrador que, de Barcelona tinha a incumbência de instalar o Circulo de Leitores em Portugal, que viria a atingir as centenas de funcionários.
Ao lugar dava-se a designação de inspector de tutela e controlaria externamente um grupo de agentes trabalhadores recrutados em várias ocupações, para exercer serviço de vendas em regime de “part-time”.
Entrar de novo numa empresa, fazer parte do seu lançamento, de conceitos avançadas para a época, tudo era o máximo que se poderia exigir e a confirma-lo estava imediatamente num adequado modo de formação.
Para o verdadeiro lançamento comercial, entenda-se, foi escolhida a zona de Moscavide. Três promotores formadores mais o seu chefe, que tinham vindo de ter formação na congénere de Barcelona e já alguns por formar, entre os quais João Moisés, embora já destinado a outras funções, que no fundo também faziam parte das vendas, deram início ao grande lançamento.
Começou pela entrada num prédio, um dos promotores, dirigiu-se à porteira e pediu para andar na escada e bater a todas as portas afim de fazer o trabalho.
A cordialidade resultou e foi a senhora a primeira a receber a embaixada do Circulo de Leitores e a promoção começou logo assim:
- “Minha senhora se houvesse em Portugal uma empresa que, por uma pequena quota de mensal 37$50 pudesse adquirir, pelo menos um livro de três em três meses, resultaria em hábitos de mais leitura”?
- Resposta:
– Sim!
-“Pois bem essa empresa já existe, chama-se Circulo de Leitores e nasceu na Alemanha, com o nome de Bertelsemenn”. - Deseja aderir?
Evidentemente, o grupo de palavras precisas e concisas, tinha sido estudado e ensaiado, produzindo efeitos visíveis imediatos. Não obstante o novo sócio, receberia um impresso próprio, com o qual teria de confirmar a adesão, dirigindo-o assinado, à firma em carta posterior.
Logo após essa jornada, João Moisés começou as suas funções, entre as quais a de transformar em sectores toda a Lisboa, fazia-o de carro e apeado, no sentido de avaliar o número de sócios existente, consoante alturas de prédios, extractos sociais, escritórios e outros factores.
Cada sector, poderia abranger, várias ruas, uma, parte, lado direito ou esquerdo, partes de rua, de ambos os lados. Tudo era anotado e no caso de ruas partidas, ficava marcado os números de portas onde começava ou acabava.
Para cada seria recrutado um agente de tutela local. Receberia a primeira quota do trimestre, entregaria uma revista com a designação dos livros já editados. Na mesma, aparecia em destaque o considerado livro do mês, o livro de prémio por cada novo sócio, que conseguisse. Um direito atribuído a cada inscrito e o cartão de pedido, a entregar preenchido no mês seguinte com o pagamento da segunda quota.
No terceiro mês efectuaria o pagamento três, contra a entrega dos livros pedidos, que podia, obviamente devia, ultrapassar os 112$50, sendo de imediato liquidada a diferença.
Ali à Praça do Chile no número um da Rua Pascoal de Melo estava a nascer uma nova empresa, em Portugal, uma lufada de novo ar no meio, em 1971, em que afinal já se vivia uma época pré revolucionária.
Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
PENSAMENTO GRANDES ESPÍRITOS
Daniel:Vamos selar a nossa amizade? Um beijo, Renata - obrigado, um pensamento para ti:
Pensamento
As árvores de que se conhecem os frutos admiram-se.
Daniel Costa
Pensamento
As árvores de que se conhecem os frutos admiram-se.
Daniel Costa
terça-feira, 21 de outubro de 2008
MUNDO DA FILATELIA
EÇA DE QUEROZ NO BRASIL
Visto que a língua portuguesa é uma das mais faladas no mundo, é natural que encontremos bastantes cultivadores dos seus selos, para além do rectângulo Ibérico, mesmo se pusermos de parte o Brasil e os novos PALOPS.
O Brasil onde aparecem extraordinárias figuras da literatura, os periódicos, os livros, a rádio ou a televisão, que honram e fazem, cada vez mais versátil a língua lusa.
Não causa estranheza, pois, ter havido neste imenso país, o lançamento, em 21 de Outubro de 1995, de uma série de três selos denominada – LITERATURA – tendo Carlos Drummond de Andrade e Ruben Braga, o grande cronista, repórter, editorialista, poeta, tradutor ambos brasileiros. Apareça junto outra grande figura portuguesa da novelística, do conto, da crónica, da crítica literária e da epistolografia, José Maria Eça de Queiroz.
Isto porque, aparte de se haverem cumprido da 150 anos da morte do escritor, foi um dos maiores expoentes da literatura de língua portuguesa. Segundo João Gaspar Simões, foi ele que deu à literatura de Portugal e do Brasil a sua fluidez e maleabilidade actual.
Bom é que, na realidade, que os filatelistas dedicados a selos que falam de Portugal e da sua história tenham conhecimento desta emissão brasileira. Não deixa de contribuir também para marcar as boas intenções postas, no relacionamento da amizade cultural entre as duas nações irmãs.
Para terminar, podemos adiantar que os selos do Brasil podem encontrar-se nas boas casas filatélicas de Lisboa e Porto.
O texto foi escrito, por Daniel Costa, para a revista Crónica Filatélica, que a Afinsa publicava em Madrid. Saiu no número 129, de Janeiro de 1995.
Daniel Costa
Visto que a língua portuguesa é uma das mais faladas no mundo, é natural que encontremos bastantes cultivadores dos seus selos, para além do rectângulo Ibérico, mesmo se pusermos de parte o Brasil e os novos PALOPS.
O Brasil onde aparecem extraordinárias figuras da literatura, os periódicos, os livros, a rádio ou a televisão, que honram e fazem, cada vez mais versátil a língua lusa.
Não causa estranheza, pois, ter havido neste imenso país, o lançamento, em 21 de Outubro de 1995, de uma série de três selos denominada – LITERATURA – tendo Carlos Drummond de Andrade e Ruben Braga, o grande cronista, repórter, editorialista, poeta, tradutor ambos brasileiros. Apareça junto outra grande figura portuguesa da novelística, do conto, da crónica, da crítica literária e da epistolografia, José Maria Eça de Queiroz.
Isto porque, aparte de se haverem cumprido da 150 anos da morte do escritor, foi um dos maiores expoentes da literatura de língua portuguesa. Segundo João Gaspar Simões, foi ele que deu à literatura de Portugal e do Brasil a sua fluidez e maleabilidade actual.
Bom é que, na realidade, que os filatelistas dedicados a selos que falam de Portugal e da sua história tenham conhecimento desta emissão brasileira. Não deixa de contribuir também para marcar as boas intenções postas, no relacionamento da amizade cultural entre as duas nações irmãs.
Para terminar, podemos adiantar que os selos do Brasil podem encontrar-se nas boas casas filatélicas de Lisboa e Porto.
O texto foi escrito, por Daniel Costa, para a revista Crónica Filatélica, que a Afinsa publicava em Madrid. Saiu no número 129, de Janeiro de 1995.
Daniel Costa
sábado, 18 de outubro de 2008
POEMA CRISE NA FINANÇA
CRISE NA FINANÇA
Sempre assusta a crise
Do mal parece aliança
Parece não haverá dinheiro
Se algum se tem,
Entra-se no banco, empresta-se
Dizem-lhe que deposita
Agora chegou a da finança
Mais uma a tirar esperança
A quem convém
Dizem as culpas serem de todos
Só porque muitos ficam sem dinheiro
A culpa é de alguém, não será do primeiro
Coitado!...
Quem comanda é o financeiro
Ele subirá a outro poleiro
Se menos, empresta
Ainda paga, à banca, dita
Comanda a malvada
Paga a gestores pantomineiras
Dizem: o patrão ganhou boas
Somas avultadas de dinheiros
Reparte lucros, torna-os banqueiros
Criam-se novos poleiros
Exigem pagar a mais banqueiros
Não fazem nada, mas
Afluem dinheiros
Sabem explorar o aforrador
Quais mineiros
Gerem os dinheiros
Na mão uns papéis, uma ilusão
Há crise? Deu o dele
Pode pagar em primeiro
Vai ele subir a outro poleiro
Onde haja outro dinheiro
O pobre fica triste, mas paga
Não se lembrou do colchão
Tudo dava certo, ali à mão
De atalaia vigia, o banqueiro
Isento de culpas, com novo dinheiro
Outro assina na atrapalhação
Hossana ao nosso primeiro!...
Daniel Costa
Sempre assusta a crise
Do mal parece aliança
Parece não haverá dinheiro
Se algum se tem,
Entra-se no banco, empresta-se
Dizem-lhe que deposita
Agora chegou a da finança
Mais uma a tirar esperança
A quem convém
Dizem as culpas serem de todos
Só porque muitos ficam sem dinheiro
A culpa é de alguém, não será do primeiro
Coitado!...
Quem comanda é o financeiro
Ele subirá a outro poleiro
Se menos, empresta
Ainda paga, à banca, dita
Comanda a malvada
Paga a gestores pantomineiras
Dizem: o patrão ganhou boas
Somas avultadas de dinheiros
Reparte lucros, torna-os banqueiros
Criam-se novos poleiros
Exigem pagar a mais banqueiros
Não fazem nada, mas
Afluem dinheiros
Sabem explorar o aforrador
Quais mineiros
Gerem os dinheiros
Na mão uns papéis, uma ilusão
Há crise? Deu o dele
Pode pagar em primeiro
Vai ele subir a outro poleiro
Onde haja outro dinheiro
O pobre fica triste, mas paga
Não se lembrou do colchão
Tudo dava certo, ali à mão
De atalaia vigia, o banqueiro
Isento de culpas, com novo dinheiro
Outro assina na atrapalhação
Hossana ao nosso primeiro!...
Daniel Costa
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
LISBOA CAFÉ - 20
A ÚLTIMA FÁBRICA
DE CARTAS DE JOGAR
O João Moisés teria o raro privilégio de contar naquele outro posto de trabalho, no seio de impressoras gráficas, a estadia na última fábrica de cartas de jogar a par, da impressão em folhas de flandres. No fundo só não ficaria a conhecer, por dentro, o processo de impressão em flexografia.
Sabia apenas tratar-se do único meio onde se empregava a cor do branco, já que nas restantes essa era a do próprio papel.
Não havia encomendas de baralhos de cartas, viriam todos já do estrangeiro, por serem de preço mais acessível devido talvez, à utilização de uma cartolina altamente resistente, enquanto muito flexível, sempre importada de países como a Inglaterra.
Ali estava o pintor João Nascimento, a funcionar como director industrial, cuja flexibilidade na criação de pintura era inegável, a inventar motivos gráficos para cartas, que iam servir de brindes publicitários.
Criou vários, naturalmente adequados ao produto a que se destinavam prestigiar publicitariamente.
A destacar por exemplo, um baralho de cartas para a prestigiada papeleira Sarrió: uma árvore estilizada e projectada, num fundo cinzento, a preto dando a impressão de a mesma estar espelhada em água, aparecendo com prendas dependuradas que são, nem mais nem menos o que o logótipo da firma.
Para as cartas era utilizada uma cartolina corrente, fornecida pela própria Sarrió. Na carta ÁS de espadas estavam sempre presentes as letras Viúva J.J. Nunes & Cª. Lda, aposto também por debaixo desse mesmo valor.
A vertente policial, mas de observação de certas pequenas corrupções, continuava sempre presente no espírito, vive e deixa viver de João Moisés, que no fundo o levavam a parecer inofensivo e a observar com espanto, muitos tipos humanos, bizarrias! Ficavam apenas na conta de bizarrias. No fundo tudo assuntos que só eram possíveis numa cidade como Lisboa, porque na sua diferença abismal da aldeia era suficientemente evoluída, para se detectarem certos comportamentos de fazer pena.
Era uma maneira de tirar dividendos, como as tentativas de Donitz nomeado por Hitler ao alto cargo de comandante, lugar a que se tinha feito demonstrando a mediocridade de pensamento ao preparar-se para negociar, com honra uma rendição condigna do terceiro Reich, com os altos comandos Aliados, que numa última e avassaladora batalha estavam já às portas de Berlim.
Sendo muito tardiamente, só restava ao grande Império, projectado para mil anos, depor armas e sem mais aceitar o que, aceitar todas as imposições – ai dos vencidos!
Com este pensamento foi alertado, na vertente de tratar de vários assuntos de pessoal, por algo parecido, também caricato, a tomada de um privilégio sem sentido:
- Um refeitório. O facto não passava de uma perigosa bizarria, que acabou por ser sanada.
Como era possível a casa de banho da oficina de uma empresa em funcionamento, à hora do almoço, virar refeitório privado?
Quando se tratava de entregar alguma obra, lá ia o João Moisés, que tinha optado por deixar estacionado à porta de casa o seu novinho Ford Escort, em virtude do uso nesses trabalhos ser um facto sem contrapartidas.
Havia dois carros, um conduzido pelo patrão, um Ctroen, daqueles conhecidos como “boca de sapo”, o outro pela patroa, um Ford Cortina. Era dada a liberdade para escolher entre um e outro, como não gostasse de conduzir o da marca francesa, a opção passara a estar tomada.
Em altura que o trânsito fluía em Lisboa, comandado por polícias postados nos cruzamentos mais importantes, fazendo a sua sinalética manual em cima de peanhas, com capacetes altos, imaculadamente brancos e por isso carinhosamente apelidados e conhecidos por cabeças de giz.
No entanto observava-se, ao mandarem avançar ou parar o trânsito, um Cortina velho ser privilegiado em relação a um Escort novo.
O João Moisés deliciava-se com a experiência dessa observação, afinal estava apenas na diferença de custo de cerca de quatro contos no stand, Cortina era de patrão, ainda que o condutor fosse o mesmo!
Das coisas agradáveis foi o ter atendido o actor Rui Mendes, que ao serviço do seu Teatro Aberto, tratou de mandar imprimir um cartaz a anunciar uma nova peça.
Um dia o patrão incumbiu João Moisés de lhe comprar um maço de cigarros no supermercado Pão de Açúcar, nascido recentemente no lado esquerdo. Um encolher de ombros, o habitual esgar de riso interior e mais uma missão cumprida!
Então o patrão não podia deitar a mão a trabalhador menos qualificado?
Bizarria, mais uma das bizarrias, observadas com um atónito prazer – tudo por conta do conhecimento de tipos e comportamentos humanos estranhos!
Decididamente a “Viúva”, só servia como uma outra estação de vida e mais nada, se espremida, Homens e mulheres, em gráfica e um atraso abissal demonstrado! Com tão pouca preparação, a todos os níveis humanos, a empresa tinha de se afundar, cada vez mais!
Em conversa com uma colega desenhadora, o desabafo de João Moisés:
- Aqui todos os funcionários, como eu e a senhora, não passam de uns reles desiludidos! Estamos aqui apenas por engano e de passagem, à espera que novos ventos surjam!...
- Resposta lacónica: - já tinha reparado de facto em si, julgando-o dono de um pensamento e vida interior grandes!
Confortável!... Não se estar sozinho!
O ordenado já só chegava aos pingos, no mínimo até meio do mês seguinte. Subsídios por filhos, que ao tempo entravam e eram distribuídos pelas empresas, também acontecia desumanamente, andarem uns tempos desviados!
Não passaram muitos dias e num sinal de puro desprezo, por aquele tipo de patronato, por justa causa, João Moisés saiu, sem qualquer justificativa.
Tinha de acontecer a perda do ordenado do último mês.
Saiu a tempo, porque segundo veio a saber, logo foi declarada falência!
Todos os salários a ficarem por conta de ganhos e perdas!
Adeus “Viúva”!...
Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA
DE CARTAS DE JOGAR
O João Moisés teria o raro privilégio de contar naquele outro posto de trabalho, no seio de impressoras gráficas, a estadia na última fábrica de cartas de jogar a par, da impressão em folhas de flandres. No fundo só não ficaria a conhecer, por dentro, o processo de impressão em flexografia.
Sabia apenas tratar-se do único meio onde se empregava a cor do branco, já que nas restantes essa era a do próprio papel.
Não havia encomendas de baralhos de cartas, viriam todos já do estrangeiro, por serem de preço mais acessível devido talvez, à utilização de uma cartolina altamente resistente, enquanto muito flexível, sempre importada de países como a Inglaterra.
Ali estava o pintor João Nascimento, a funcionar como director industrial, cuja flexibilidade na criação de pintura era inegável, a inventar motivos gráficos para cartas, que iam servir de brindes publicitários.
Criou vários, naturalmente adequados ao produto a que se destinavam prestigiar publicitariamente.
A destacar por exemplo, um baralho de cartas para a prestigiada papeleira Sarrió: uma árvore estilizada e projectada, num fundo cinzento, a preto dando a impressão de a mesma estar espelhada em água, aparecendo com prendas dependuradas que são, nem mais nem menos o que o logótipo da firma.
Para as cartas era utilizada uma cartolina corrente, fornecida pela própria Sarrió. Na carta ÁS de espadas estavam sempre presentes as letras Viúva J.J. Nunes & Cª. Lda, aposto também por debaixo desse mesmo valor.
A vertente policial, mas de observação de certas pequenas corrupções, continuava sempre presente no espírito, vive e deixa viver de João Moisés, que no fundo o levavam a parecer inofensivo e a observar com espanto, muitos tipos humanos, bizarrias! Ficavam apenas na conta de bizarrias. No fundo tudo assuntos que só eram possíveis numa cidade como Lisboa, porque na sua diferença abismal da aldeia era suficientemente evoluída, para se detectarem certos comportamentos de fazer pena.
Era uma maneira de tirar dividendos, como as tentativas de Donitz nomeado por Hitler ao alto cargo de comandante, lugar a que se tinha feito demonstrando a mediocridade de pensamento ao preparar-se para negociar, com honra uma rendição condigna do terceiro Reich, com os altos comandos Aliados, que numa última e avassaladora batalha estavam já às portas de Berlim.
Sendo muito tardiamente, só restava ao grande Império, projectado para mil anos, depor armas e sem mais aceitar o que, aceitar todas as imposições – ai dos vencidos!
Com este pensamento foi alertado, na vertente de tratar de vários assuntos de pessoal, por algo parecido, também caricato, a tomada de um privilégio sem sentido:
- Um refeitório. O facto não passava de uma perigosa bizarria, que acabou por ser sanada.
Como era possível a casa de banho da oficina de uma empresa em funcionamento, à hora do almoço, virar refeitório privado?
Quando se tratava de entregar alguma obra, lá ia o João Moisés, que tinha optado por deixar estacionado à porta de casa o seu novinho Ford Escort, em virtude do uso nesses trabalhos ser um facto sem contrapartidas.
Havia dois carros, um conduzido pelo patrão, um Ctroen, daqueles conhecidos como “boca de sapo”, o outro pela patroa, um Ford Cortina. Era dada a liberdade para escolher entre um e outro, como não gostasse de conduzir o da marca francesa, a opção passara a estar tomada.
Em altura que o trânsito fluía em Lisboa, comandado por polícias postados nos cruzamentos mais importantes, fazendo a sua sinalética manual em cima de peanhas, com capacetes altos, imaculadamente brancos e por isso carinhosamente apelidados e conhecidos por cabeças de giz.
No entanto observava-se, ao mandarem avançar ou parar o trânsito, um Cortina velho ser privilegiado em relação a um Escort novo.
O João Moisés deliciava-se com a experiência dessa observação, afinal estava apenas na diferença de custo de cerca de quatro contos no stand, Cortina era de patrão, ainda que o condutor fosse o mesmo!
Das coisas agradáveis foi o ter atendido o actor Rui Mendes, que ao serviço do seu Teatro Aberto, tratou de mandar imprimir um cartaz a anunciar uma nova peça.
Um dia o patrão incumbiu João Moisés de lhe comprar um maço de cigarros no supermercado Pão de Açúcar, nascido recentemente no lado esquerdo. Um encolher de ombros, o habitual esgar de riso interior e mais uma missão cumprida!
Então o patrão não podia deitar a mão a trabalhador menos qualificado?
Bizarria, mais uma das bizarrias, observadas com um atónito prazer – tudo por conta do conhecimento de tipos e comportamentos humanos estranhos!
Decididamente a “Viúva”, só servia como uma outra estação de vida e mais nada, se espremida, Homens e mulheres, em gráfica e um atraso abissal demonstrado! Com tão pouca preparação, a todos os níveis humanos, a empresa tinha de se afundar, cada vez mais!
Em conversa com uma colega desenhadora, o desabafo de João Moisés:
- Aqui todos os funcionários, como eu e a senhora, não passam de uns reles desiludidos! Estamos aqui apenas por engano e de passagem, à espera que novos ventos surjam!...
- Resposta lacónica: - já tinha reparado de facto em si, julgando-o dono de um pensamento e vida interior grandes!
Confortável!... Não se estar sozinho!
O ordenado já só chegava aos pingos, no mínimo até meio do mês seguinte. Subsídios por filhos, que ao tempo entravam e eram distribuídos pelas empresas, também acontecia desumanamente, andarem uns tempos desviados!
Não passaram muitos dias e num sinal de puro desprezo, por aquele tipo de patronato, por justa causa, João Moisés saiu, sem qualquer justificativa.
Tinha de acontecer a perda do ordenado do último mês.
Saiu a tempo, porque segundo veio a saber, logo foi declarada falência!
Todos os salários a ficarem por conta de ganhos e perdas!
Adeus “Viúva”!...
Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA
domingo, 12 de outubro de 2008
CRUZEIRO DA ANARQUIA
PLANO PARA SALVAR
PORTUGAL DA CRISE
Todos os meios de comunicação parecem não ser demais para comentarem a crise, que vai aparecendo: Há algo nunca visto, os filhos de algo, vulgo fidalgos, depois de arrebanharem muitos cobres, parecem que se desunham a segurar os cordelinhos, espremendo mais o papel, tentando que a bica da fonte não seque.
E, a malta do governo, com as suas tiradas, para nos fazerem crer, que o nosso país ia em crescendo.
Hoje (12/10/2008), em Paris, reúnem-se os líderes da Zona Euro, para debater a crise, enquanto o nosso primeiro, citado pela revista “DOMINGO”, do “CORREIO DA MANHA”, disse:
- “O Estado não deixara de fazer tudo o que puder.”
- Digo eu, naturalmente, serei mau entendedor!...
- A avaliar pelos feitos Estado, entendo que o que se queria dizer é que era necessário continuar a alagar mais a comunidade dos pobretanas, no sentido de engrossar o lóbi dos coitados, para que votem, perdendo a voz.
Será ser oportuno, postar aqui o seguinte texto apócrifo, que me deram a ler agora. Naturalmente bizarrias de algum anarca.
- Aí… se a alma do rapaz Salazar aparece por cá?!...
Como me prezo de não me considerar egoísta deixo o texto:
Passo 1:
Trocamos a Madeira e os Açores pela Galiza, mas os espanhóis têm levar o Sócrates.
Passo 2:
Os galegos, são boa onda, não dão chatices e ainda ficamos com o dinheiro gerado pela Zara (é só a 3ª maior empresa de vestuário).
A indústria têxtil portuguesa é revitalizada. A Espanha fica encurralada entre os Bascos e o Sócrates.
Passo 3:
Desesperados, os espanhóis tentam devolver o Sócrates, a malta não aceita.
Passo 4:
Oferecem também o País Basco. A malta mantém-se firme e não aceita.
Passo 5:
A Catalunha aproveita a confusão para pedir a independência.
Cada vez mais desesperados, os espanhóis devolvem-nos a Madeira e os Açores e dão-nos ainda o País Basco e a Catalunha.
A contrapartida é termos de ficar com o Sócrates.
A malta arma-se em difícil mas aceita.
Passo 6:
Damos a independência ao País Basco.
A contrapartida é eles ficarem com o Sócrates.
A malta da ETA pensa que pode bem com ele e aceita sem hesitar.
Sem o Sócrates Portugal torna-se um paraíso e a Catalunha não causa problemas.
Passo 7:
Afinal a ETA não aguenta o Sócrates, e o País Basco pede para se tornar território. A malta faz-se difícil mas aceita (apesar de lá estar o Sócrates).
Passo 8:
Fazemos um acordo com o Brasil. Eles enviam-nos o lixo e nós mandamos-lhe o Sócrates.
Passo 9:
O Brasil pede para volta a ser colónia portuguesa. A mata aceita e manda o Sócrates para os Farilhões, das Berlengas apesar das gaivotas poderem as penas e as andorinhas do mar deixarem de pôr ovos.
Passo 10:
Com os jogadores brasileiros mais os portugueses Portugal torna-se campeão do mundo de futebol!
Passo 11:
Os espanhóis ficam tão desmoralizados, que oferecem resistência quando os mandamos para Marrocos.
Passo 12:
Unificamos finalmente a Península Ibérica sob a bandeira portuguesa.
Passo 13:
A dimensão extraordinária adquirida que une a Península e o Brasil, torna-nos verdadeiros senhores do Atlântico. Colocamos portagens no mar, principalmente para os barcos americanos, que são sujeitos a uma sobretaxa tõ elevada que nem o preço do petróleo os salva.
Passo 14:
Economicamente, asfixiados por elas tentam atemorizar-nos com o Bin Laden, mas a malta ameaça enviar-lhe o Sócrates e eles rendem-se incondicionalmente. Está ultrapassada a crise!
Facílimo, hein???
Postagem de Daniel Costa
PORTUGAL DA CRISE
Todos os meios de comunicação parecem não ser demais para comentarem a crise, que vai aparecendo: Há algo nunca visto, os filhos de algo, vulgo fidalgos, depois de arrebanharem muitos cobres, parecem que se desunham a segurar os cordelinhos, espremendo mais o papel, tentando que a bica da fonte não seque.
E, a malta do governo, com as suas tiradas, para nos fazerem crer, que o nosso país ia em crescendo.
Hoje (12/10/2008), em Paris, reúnem-se os líderes da Zona Euro, para debater a crise, enquanto o nosso primeiro, citado pela revista “DOMINGO”, do “CORREIO DA MANHA”, disse:
- “O Estado não deixara de fazer tudo o que puder.”
- Digo eu, naturalmente, serei mau entendedor!...
- A avaliar pelos feitos Estado, entendo que o que se queria dizer é que era necessário continuar a alagar mais a comunidade dos pobretanas, no sentido de engrossar o lóbi dos coitados, para que votem, perdendo a voz.
Será ser oportuno, postar aqui o seguinte texto apócrifo, que me deram a ler agora. Naturalmente bizarrias de algum anarca.
- Aí… se a alma do rapaz Salazar aparece por cá?!...
Como me prezo de não me considerar egoísta deixo o texto:
Passo 1:
Trocamos a Madeira e os Açores pela Galiza, mas os espanhóis têm levar o Sócrates.
Passo 2:
Os galegos, são boa onda, não dão chatices e ainda ficamos com o dinheiro gerado pela Zara (é só a 3ª maior empresa de vestuário).
A indústria têxtil portuguesa é revitalizada. A Espanha fica encurralada entre os Bascos e o Sócrates.
Passo 3:
Desesperados, os espanhóis tentam devolver o Sócrates, a malta não aceita.
Passo 4:
Oferecem também o País Basco. A malta mantém-se firme e não aceita.
Passo 5:
A Catalunha aproveita a confusão para pedir a independência.
Cada vez mais desesperados, os espanhóis devolvem-nos a Madeira e os Açores e dão-nos ainda o País Basco e a Catalunha.
A contrapartida é termos de ficar com o Sócrates.
A malta arma-se em difícil mas aceita.
Passo 6:
Damos a independência ao País Basco.
A contrapartida é eles ficarem com o Sócrates.
A malta da ETA pensa que pode bem com ele e aceita sem hesitar.
Sem o Sócrates Portugal torna-se um paraíso e a Catalunha não causa problemas.
Passo 7:
Afinal a ETA não aguenta o Sócrates, e o País Basco pede para se tornar território. A malta faz-se difícil mas aceita (apesar de lá estar o Sócrates).
Passo 8:
Fazemos um acordo com o Brasil. Eles enviam-nos o lixo e nós mandamos-lhe o Sócrates.
Passo 9:
O Brasil pede para volta a ser colónia portuguesa. A mata aceita e manda o Sócrates para os Farilhões, das Berlengas apesar das gaivotas poderem as penas e as andorinhas do mar deixarem de pôr ovos.
Passo 10:
Com os jogadores brasileiros mais os portugueses Portugal torna-se campeão do mundo de futebol!
Passo 11:
Os espanhóis ficam tão desmoralizados, que oferecem resistência quando os mandamos para Marrocos.
Passo 12:
Unificamos finalmente a Península Ibérica sob a bandeira portuguesa.
Passo 13:
A dimensão extraordinária adquirida que une a Península e o Brasil, torna-nos verdadeiros senhores do Atlântico. Colocamos portagens no mar, principalmente para os barcos americanos, que são sujeitos a uma sobretaxa tõ elevada que nem o preço do petróleo os salva.
Passo 14:
Economicamente, asfixiados por elas tentam atemorizar-nos com o Bin Laden, mas a malta ameaça enviar-lhe o Sócrates e eles rendem-se incondicionalmente. Está ultrapassada a crise!
Facílimo, hein???
Postagem de Daniel Costa
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
TEMPO DE ÁGUA-PÉ
ÁGUA-PÉ - O CHAMPANHE DO POVO
A água-pé é uma bebida feita de uvas, tal como o vinho, segundo me parece, mais utilizada na região centro de Portugal. Na Bufarda ainda considerada região saloia (circundante de Lisboa) dizia-se, com certa verdade, que era o verdadeiro champanhe do povo.
Talvez consiga evocar um pouco a bebida, já que ajudei a fabricá-la na adolescência. No fundo era um vinho mais fraco e sendo mais barato, era o que os patrões utilizavam para dar aos trabalhadores durante o dia, pelo menos no Inverno, porque depois ia torna-se menos convidativa.
Em Lisboa, pelo S. Martinho, toda a gente gostava (ou gosta) de comprar a sua água-pé, para acompanhar as castanhas em muitas casas, no tempo vendiam-na avulso. No entanto nunca me seduzia, porque lhe era atribuído o mesmo preço do vinho, por vezes mais, quando no fundo se adquiria pura e simplesmente um vinho misturado com água.
Também havia quem comprasse umas uvas, esmagando-as em casa num simples alguidar, em seguida deitava o líquido num recipiente próprio, acabava encher de água, deixava ferver e pronto... proclamava ter uma boa água-pé... pois até passava dos dez graus!...
Mas uma vez mais, vinho e água! Ora fazer vinho e depois deitar-lhe água, nunca dá água-pé de jeito, por muito forte que saia.
A verdadeira bebida, que toma a designação, não deve ser feita de vinho mas sim de uva. Procede-se assim: Espreme-se o pé feito do fruto da videira. Por cálculo, saindo o mosto para fazer o vinho. Desmancha-se o pé, espalhando-o por todo o lagar, deita-se a água e em seguida, pisa-se tudo e deixa-se a macerar por cerca de duas horas.
Então, abre-se a bica e enquanto vai escorrendo para o líquido para o tanque, ergue-se toda a massa debaixo da prensa e espreme-se tudo até ao fim.
É assim que resulta o tal “champanhe”.
Que me lembre, já o meu avô produzia uma água-pé de estalar e a do meu pai não lhe ficaria atrás, até parecia ter um gasoso, um sabor do outro mundo. Com piquinhos e tudo.
Estando com a mão na massa, convém dizer que o bagaço, ficando lavado, no fundo era disso que se tratava, já não dava para fazer aguardente bagaceira.
Também do mosto, fervido numa panela, resultava num néctar a que se dava o nome de arrobe, para utilizar na culinária.
Do mesmo também e podia fazer vinho abafado, chamado assim pelo facto de consistir na simplicidade, de não o deixar ferver, abafando-o com álcool vinícola. De imediato fica feita uma bebida melosa. No Oeste usava-se o método, com fins apenas de renovar a garrafeira da casa.
Diga-se que a venda da água-pé, ao público era e creio que ainda é proibida por lei. No tempo da outra "senhora", um dia ouvi pedir um café frio. Questionado o pai sobre o assunto, disse a razão ser simples: quando havia alguém desconhecido por perto pedia-se assim, para evitar complicações, o que era logo entendido.
Isto vem a propósito de ser este mês, o de ir tratando de produzir o apreciado néctar.
Daniel Costa
A água-pé é uma bebida feita de uvas, tal como o vinho, segundo me parece, mais utilizada na região centro de Portugal. Na Bufarda ainda considerada região saloia (circundante de Lisboa) dizia-se, com certa verdade, que era o verdadeiro champanhe do povo.
Talvez consiga evocar um pouco a bebida, já que ajudei a fabricá-la na adolescência. No fundo era um vinho mais fraco e sendo mais barato, era o que os patrões utilizavam para dar aos trabalhadores durante o dia, pelo menos no Inverno, porque depois ia torna-se menos convidativa.
Em Lisboa, pelo S. Martinho, toda a gente gostava (ou gosta) de comprar a sua água-pé, para acompanhar as castanhas em muitas casas, no tempo vendiam-na avulso. No entanto nunca me seduzia, porque lhe era atribuído o mesmo preço do vinho, por vezes mais, quando no fundo se adquiria pura e simplesmente um vinho misturado com água.
Também havia quem comprasse umas uvas, esmagando-as em casa num simples alguidar, em seguida deitava o líquido num recipiente próprio, acabava encher de água, deixava ferver e pronto... proclamava ter uma boa água-pé... pois até passava dos dez graus!...
Mas uma vez mais, vinho e água! Ora fazer vinho e depois deitar-lhe água, nunca dá água-pé de jeito, por muito forte que saia.
A verdadeira bebida, que toma a designação, não deve ser feita de vinho mas sim de uva. Procede-se assim: Espreme-se o pé feito do fruto da videira. Por cálculo, saindo o mosto para fazer o vinho. Desmancha-se o pé, espalhando-o por todo o lagar, deita-se a água e em seguida, pisa-se tudo e deixa-se a macerar por cerca de duas horas.
Então, abre-se a bica e enquanto vai escorrendo para o líquido para o tanque, ergue-se toda a massa debaixo da prensa e espreme-se tudo até ao fim.
É assim que resulta o tal “champanhe”.
Que me lembre, já o meu avô produzia uma água-pé de estalar e a do meu pai não lhe ficaria atrás, até parecia ter um gasoso, um sabor do outro mundo. Com piquinhos e tudo.
Estando com a mão na massa, convém dizer que o bagaço, ficando lavado, no fundo era disso que se tratava, já não dava para fazer aguardente bagaceira.
Também do mosto, fervido numa panela, resultava num néctar a que se dava o nome de arrobe, para utilizar na culinária.
Do mesmo também e podia fazer vinho abafado, chamado assim pelo facto de consistir na simplicidade, de não o deixar ferver, abafando-o com álcool vinícola. De imediato fica feita uma bebida melosa. No Oeste usava-se o método, com fins apenas de renovar a garrafeira da casa.
Diga-se que a venda da água-pé, ao público era e creio que ainda é proibida por lei. No tempo da outra "senhora", um dia ouvi pedir um café frio. Questionado o pai sobre o assunto, disse a razão ser simples: quando havia alguém desconhecido por perto pedia-se assim, para evitar complicações, o que era logo entendido.
Isto vem a propósito de ser este mês, o de ir tratando de produzir o apreciado néctar.
Daniel Costa
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
COISAS DA VIDA
C’EST LA VIE!...
Estávamos no princípio dos anos dos anos setenta, estava o “Círculo de Leitores” a iniciar o lançamento para o grande público, através de promoção porta a porta., por uma equipa de promotores, a quem era ministrado curso acelerado e próprio, para o efeito.
Seguia-se uma outra equipa, chamada de tutela, para dar a assistência necessária, com recebimento de quotas mensais (27$50), entrega de revista grátis, com descriminação dos livros, que iam sendo editados. Nela constava o livro do trimestre, os direitos dos novos sócios, como o prémio de um livro, a que tinha direito, no caso de difusão por amizade, etc.
A tutela era composta por um coordenador, chefes e agentes. Estes últimos eram recrutados no exterior, em princípio na área, para exercerem nas horas vagas.
Calhou-me ser o primeiro, interno recrutado, ainda antes do começo, para acompanhar e dar alguma formação a um dos grupos de agentes de tutela.
Ao começar, havia já um outro e entre ele e eu estabeleceu-se natural amizade. O ritmo da promoção e consequente alargamento, uma vez iniciado, prosseguia aceleradamente.
Mercê de anúncios diários no jornal “Diário de Notícias”, eram recrutados constantemente novos agentes, convencionalmente, atribuídos alternados á coordenação dos dois internos existentes.
Depois de algumas instruções, na própria sede da empresa, começaram, ainda no número um da Rua Pascoal de Melo e da demonstração prática, no terreno, de como dar assistência ao sócio. Cada qual ia coordenando um grupo.
Os livros eram entregues em casa dos próprios agentes, que iam recebendo o dinheiro, que escrituram em pequenas fichas próprias, assim como todo o movimento de entrega de livros. Mais ou menos mensalmente entregavam o produto á contabilidade do “Circulo”, que também tinha o seu próprio registo.
Sem garantias, logo começaram a aparecer os pequenos golpes, visto que os coordenadores iam cuidando também do factor produto.
Em primeira instância, as culpas cabiam a quem recrutava e não a quem coordenava. Era só no sector que o meu colega e amigo dirigia creio que, academicamente, mais qualificado do que eu aconteciam.
O facto originou a troca de sectores, entre nós. Como estavam sempre a entrar novos agentes, continuaram os golpes, sempre no sector do colega. Várias vezes, reparava em certos pormenores e avisava: fulano está a dar o golpe!
Achas?... Como?...
Era inevitável acontecer.
Um dia veio contar-me a história de um agente, que tivera a “amabilidade” de o deixar a sós com a esposa.
Disse-lhe está a dar um golpe!...
Como?... Não pode ser verdade, é um agente tão bom!...
Não passou muito tempo e aparecia a fraude!...
Muitas vezes, combinávamos almoçar juntos e conversarmos, sobre os nossos grupos de trabalho.
Num desses almoços, saiu a pergunta:
Como é que fazes afinal? Se só nos meus agentes há “buracos”!...
Sorri e disse: não estou livre, mas ensino tudo, até a facilidade como se podem dar golpes. Todos ficam a saber que, ao primeiro deslize apercebo-me logo. Quem é mal intencionado, nem chega a pegar no trabalho.
Eis a razão porque, são bastantes os que nem chegam a entrar.
Ao contrário explicas muito mais, mas esse pormenor, evitas que saibam, o que é fatal, podes crer.
O meu colega, acabou por ser despedido, não foi isso a causa próxima, mas terá pesado.
Fui instado a testemunhar contra, em assunto que ele tinha razão.
Sim senhor iria, mas testemunhar a verdade e a verdade, era diferente da que me queriam “vender”. Fui excluído e também paguei por isso, cobardemente, faltou a coragem de me despedirem e sai, pelo meu próprio pé, quando entendi.
Curiosamente, morando por perto, devo ter perdido o último elo com agentes.
De facto faleceu agora, repentinamente, em férias, o último ao serviço, com quem mantinha contactos.
Tinha apadrinhado o seu casamento e pela amizade, pela confraternização, pelo dinamismo e até porque, parecia ter saúde para vender, fui deveras atingido por um verdadeiro choque.
PENSAMENTO:
Luto por um mundo vivo, por isso não devo chorar os mortos. Não posso contudo, deixar de lamentar a perda de um amigo.
Daniel Costa
Estávamos no princípio dos anos dos anos setenta, estava o “Círculo de Leitores” a iniciar o lançamento para o grande público, através de promoção porta a porta., por uma equipa de promotores, a quem era ministrado curso acelerado e próprio, para o efeito.
Seguia-se uma outra equipa, chamada de tutela, para dar a assistência necessária, com recebimento de quotas mensais (27$50), entrega de revista grátis, com descriminação dos livros, que iam sendo editados. Nela constava o livro do trimestre, os direitos dos novos sócios, como o prémio de um livro, a que tinha direito, no caso de difusão por amizade, etc.
A tutela era composta por um coordenador, chefes e agentes. Estes últimos eram recrutados no exterior, em princípio na área, para exercerem nas horas vagas.
Calhou-me ser o primeiro, interno recrutado, ainda antes do começo, para acompanhar e dar alguma formação a um dos grupos de agentes de tutela.
Ao começar, havia já um outro e entre ele e eu estabeleceu-se natural amizade. O ritmo da promoção e consequente alargamento, uma vez iniciado, prosseguia aceleradamente.
Mercê de anúncios diários no jornal “Diário de Notícias”, eram recrutados constantemente novos agentes, convencionalmente, atribuídos alternados á coordenação dos dois internos existentes.
Depois de algumas instruções, na própria sede da empresa, começaram, ainda no número um da Rua Pascoal de Melo e da demonstração prática, no terreno, de como dar assistência ao sócio. Cada qual ia coordenando um grupo.
Os livros eram entregues em casa dos próprios agentes, que iam recebendo o dinheiro, que escrituram em pequenas fichas próprias, assim como todo o movimento de entrega de livros. Mais ou menos mensalmente entregavam o produto á contabilidade do “Circulo”, que também tinha o seu próprio registo.
Sem garantias, logo começaram a aparecer os pequenos golpes, visto que os coordenadores iam cuidando também do factor produto.
Em primeira instância, as culpas cabiam a quem recrutava e não a quem coordenava. Era só no sector que o meu colega e amigo dirigia creio que, academicamente, mais qualificado do que eu aconteciam.
O facto originou a troca de sectores, entre nós. Como estavam sempre a entrar novos agentes, continuaram os golpes, sempre no sector do colega. Várias vezes, reparava em certos pormenores e avisava: fulano está a dar o golpe!
Achas?... Como?...
Era inevitável acontecer.
Um dia veio contar-me a história de um agente, que tivera a “amabilidade” de o deixar a sós com a esposa.
Disse-lhe está a dar um golpe!...
Como?... Não pode ser verdade, é um agente tão bom!...
Não passou muito tempo e aparecia a fraude!...
Muitas vezes, combinávamos almoçar juntos e conversarmos, sobre os nossos grupos de trabalho.
Num desses almoços, saiu a pergunta:
Como é que fazes afinal? Se só nos meus agentes há “buracos”!...
Sorri e disse: não estou livre, mas ensino tudo, até a facilidade como se podem dar golpes. Todos ficam a saber que, ao primeiro deslize apercebo-me logo. Quem é mal intencionado, nem chega a pegar no trabalho.
Eis a razão porque, são bastantes os que nem chegam a entrar.
Ao contrário explicas muito mais, mas esse pormenor, evitas que saibam, o que é fatal, podes crer.
O meu colega, acabou por ser despedido, não foi isso a causa próxima, mas terá pesado.
Fui instado a testemunhar contra, em assunto que ele tinha razão.
Sim senhor iria, mas testemunhar a verdade e a verdade, era diferente da que me queriam “vender”. Fui excluído e também paguei por isso, cobardemente, faltou a coragem de me despedirem e sai, pelo meu próprio pé, quando entendi.
Curiosamente, morando por perto, devo ter perdido o último elo com agentes.
De facto faleceu agora, repentinamente, em férias, o último ao serviço, com quem mantinha contactos.
Tinha apadrinhado o seu casamento e pela amizade, pela confraternização, pelo dinamismo e até porque, parecia ter saúde para vender, fui deveras atingido por um verdadeiro choque.
PENSAMENTO:
Luto por um mundo vivo, por isso não devo chorar os mortos. Não posso contudo, deixar de lamentar a perda de um amigo.
Daniel Costa
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
POEMA NAMBUANGONGO
NAMBUANGONGO
Ir a Nambuangongo era como ir à cidade
Nos idos de sessenta e dois e tenra idade
Pela UPA era considerado um reino
Que entretanto, pelo lendário Maçanita
Havia sido retomado, com astúcia e treino
Delimitado pelo rio Lifune,
Por guerrilheiros, pontes destruídas
Tentando cortar avanços, à tropa determinada
A Muxaluando passava uma picada
Entre Vista Alegre e o Lifune, a sua ponte
Ali estava, com a tentativa destruidora ficava
Em Vista Alegre de boas recordações
Tropa do Maçanita, teve ordens, avançava
Depois Nambuangongo retomava
Em Nambuangongo a gente ri depois
Enquanto nas cantinas, se bebericavam
Cucas, em grupos de talvez dez, mais dois
Novidades flutuavam, uma em que os turras
Atacaram, furavam tachos
Em Portugal
Digamos, que pela primeira vez
Um tal, com apodo de Totobola comandava
Ufano da avioneta vociferava
Amigos: mulheres bastantes tinha, até desprezei
Em corridas de automóveis participei
Aqui do alto, as minhas tropas comandarei
Um outro, Tenente-Coronel, fazia espectáculo
Como bobo de qualquer rei
Todas a manhãs fazia preparação física
O risível método consistia em rebolar no chão
Munido de pistola aos tirinhos
Entre acampamentos, onde havia protecção
Sempre bizarrias de superiores oficiais
Eram horas de liberdade rir e dizer
Olhem os exemplos, vejam os tais!
Em Nambuangondo rir inocentemente, não era demais
Daniel Costa
Ir a Nambuangongo era como ir à cidade
Nos idos de sessenta e dois e tenra idade
Pela UPA era considerado um reino
Que entretanto, pelo lendário Maçanita
Havia sido retomado, com astúcia e treino
Delimitado pelo rio Lifune,
Por guerrilheiros, pontes destruídas
Tentando cortar avanços, à tropa determinada
A Muxaluando passava uma picada
Entre Vista Alegre e o Lifune, a sua ponte
Ali estava, com a tentativa destruidora ficava
Em Vista Alegre de boas recordações
Tropa do Maçanita, teve ordens, avançava
Depois Nambuangongo retomava
Em Nambuangongo a gente ri depois
Enquanto nas cantinas, se bebericavam
Cucas, em grupos de talvez dez, mais dois
Novidades flutuavam, uma em que os turras
Atacaram, furavam tachos
Em Portugal
Digamos, que pela primeira vez
Um tal, com apodo de Totobola comandava
Ufano da avioneta vociferava
Amigos: mulheres bastantes tinha, até desprezei
Em corridas de automóveis participei
Aqui do alto, as minhas tropas comandarei
Um outro, Tenente-Coronel, fazia espectáculo
Como bobo de qualquer rei
Todas a manhãs fazia preparação física
O risível método consistia em rebolar no chão
Munido de pistola aos tirinhos
Entre acampamentos, onde havia protecção
Sempre bizarrias de superiores oficiais
Eram horas de liberdade rir e dizer
Olhem os exemplos, vejam os tais!
Em Nambuangondo rir inocentemente, não era demais
Daniel Costa
sábado, 4 de outubro de 2008
LISBOA CAFÉ - 19
ALCÂNTARA - MAR
Se agora o mundo da noite chegou para as bandas de Alcântara – Mar foi por ali, ao longo da Rua Fradesso da Silveira, com entrada para os Serviços Administrativos, do lado Sudoeste do grande prédio comercial de dois andares, a ocupar todo o lado direito de quem sobe.
Era aí que funcionava uma gráfica, entre outros trabalhos, ali se fabricavam desde outros tempos cartas de jogar.
Foi nessa empresa, que João Moisés entrou a um de Julho de setenta. A designação era a de Viúva J. J. Nunes. A “Vúva” como todos os funcionários a designavam, para abreviar, tornando mais simples a nomeação.
A princípio era-lhe atribuído o serviço de vendas. Havia uma renovação em curso, entrara um outro sócio, os anteriores, por falta de rentabilidade e com dívidas sobre dívidas, acharam por bem abandonar o “barco”.
Um gestor de visão moderna, arriscara abandonar uma empresa de futuro para também entrar, formar equipa e elevar a fábrica gráfica rumo à rentabilidade, porém tendo em conta o passivo acumulado.
Em breve João Moisés foi chamado a uma nova ocupação, mais de acordo com as aptidões, servia mesmo de conselheiro para a problemática de encomendas de trabalhos gráficos, rever todos os orçamentos de obras a decorrer, com certa periodicidade e atender clientes. Digamos que tratava de muitos assuntos, como entregas e até lhe estavam cometidos certos assuntos de pessoal.
Chegaram novos homens de vendas, conhecedores do marcado, que passaram a trazer para orçamentar obras de vulto. Parecia ter entrado ali um novo fôlego.
Mais ou menos, à frente da produção, estava o pintor João Nascimento, que por sua vez foi buscar uma sua antiga professora de desenho, para o ajudar a proceder a trabalhos na área da criação artística.
João Moisés, estava a entrar num mundo que o cativara e posicionava-se a desenvolver o melhor que podia, corresponder a essa nova dinâmica, que achava aliciante.
Relacionara-se com todo o pessoal e em breve dominava todas as fases dos serviços, assim como as respectivas secções. O seu dinamismo estava disponível e quase diariamente o novo gestor o convocava, para esclarecimento de determinadas questões, na maioria orçamentais.
Por vezes o esclarecimento deixava este admirado e o interlocutor não o ficava menos, porque acabava de saber os muitos erros de gestão que, saltavam à vista. Por vezes ficava a sensação de várias corruptelas de gerentes anteriores, assuntos que estavam a ser minuciosamente revistos e alterados.
A empresa imprimia trabalhos de toda ordem, era fábrica de cartas de jogar e tinha secção de impressão em folhas de flandres, talvez o motivo de existir ainda.
O último associado, que tentava o dinamismo, tinha entrado porque proprietário e liderava uma fábrica de embalagens de lata de vários tipos, destinados a clientes, para esse fim necessitava de mandar imprimir a folha no exterior. Razão porque já era cliente da “Viúva” e daí procurar salvar a empresa, adquirindo a maior quota o que dava o domínio.
Em pouco o João Moisés, pelo pouco que conhecia de gestão empresarial e pelo quadro que lhe sendo dado observar, começava a ter muitas dúvidas, sobre a viabilidade da empresa.
Embora dissesse não gostar de lutar por causa perdidas, ia trabalhando com denodo, estava a acreditar um pouco na nova gestão, cujo titular competência e afabilidade.
Os vendedores, que traziam trabalhos de envergadura para orçamentar, logo desataram a apresentar escusas e a desandar, porque nenhuma das propostas era aceite.
Do assunto resultara reunião com João Moisés, que fizera os orçamentos baseado nas capacidades dos formatos das máquinas, que o respectivo parque apresentava. Previamente foi referido não ter sido posta em causa a capacidade de orçamento, no entanto eram necessárias elações.
Afinal o assunto era muito simples, face a outros dados até então só na posse do gestor, era a já sabida, a empresa não tinha capacidade para determinadas obras.
Um exemplo concreto foi posto em equação, tratava-se de uma pequena revista semanal de histórias aos quadradinhos, havia o conhecimento de que um orçamento de outra empresa concorrente, por metade do preço. O João Moisés conhecendo o meio logo disse em iguais circunstâncias de maquinaria a “Viúva” podia fazer melhor preço em virtude de dispor de mão-de-obra mais barata.
Aventados os porquês, concluiu-se que afinal, não seria possível laborar ali obras de envergadura.
Passou a então a rever-se todos os orçamentos de trabalhos. Por se executarem periodicamente, havendo apenas a necessidade de ir às prateleiras dos arquivos e com os fotolitos existentes, imprimir de novo, renovando o stock do cliente.
Tudo revisto, orçamentos novos, feitos como se a obra entrasse pela primeira vez, apresentados por João Moisés à gerência, este com a sua habitual timidez, reafirmou não lhe terem sido fornecidos outros elementos, que não os que ele próprio reunira, pelo que não podia ser responsabilizado, por qualquer lacuna.
Por um convénio existente entre os industriais gráficos, os fotolitos e montagens ficavam propriedade da fábrica.
Recebeu logo apoio ouvindo: de erro devem enformar todos!
Desejava-se ver isso mesmo! Verificava-se haver casos em que o cliente estava a pagar obras a metade do preço e parcela por parcela, o novo seria o bem executado e o mais actual, embora a gerência contasse com margem de manobra, para negociar custos, como também fora afirmado.
Fica um exemplo, a empresa familiar dos pudins Mikau, estava a mandar imprimir embalagens de cartão para o seu produto, incluindo também o trabalho de cartonagem a custo, de cinquenta por cento inferior do valor real.
Por ser a encomenda mais recorrente e dada a amizade que existia, traduzida em pagamentos adiantados amiudadamente. Porém havia a necessidade de tomar atitude, lá estava a margem de preço para negociar, mais a existência de fotolitos e montagem.
Naquele caso, acabou por funcionar e o problema ficou bem resolvido.
Daniel Costa – in JORNAL da AMADORA
Se agora o mundo da noite chegou para as bandas de Alcântara – Mar foi por ali, ao longo da Rua Fradesso da Silveira, com entrada para os Serviços Administrativos, do lado Sudoeste do grande prédio comercial de dois andares, a ocupar todo o lado direito de quem sobe.
Era aí que funcionava uma gráfica, entre outros trabalhos, ali se fabricavam desde outros tempos cartas de jogar.
Foi nessa empresa, que João Moisés entrou a um de Julho de setenta. A designação era a de Viúva J. J. Nunes. A “Vúva” como todos os funcionários a designavam, para abreviar, tornando mais simples a nomeação.
A princípio era-lhe atribuído o serviço de vendas. Havia uma renovação em curso, entrara um outro sócio, os anteriores, por falta de rentabilidade e com dívidas sobre dívidas, acharam por bem abandonar o “barco”.
Um gestor de visão moderna, arriscara abandonar uma empresa de futuro para também entrar, formar equipa e elevar a fábrica gráfica rumo à rentabilidade, porém tendo em conta o passivo acumulado.
Em breve João Moisés foi chamado a uma nova ocupação, mais de acordo com as aptidões, servia mesmo de conselheiro para a problemática de encomendas de trabalhos gráficos, rever todos os orçamentos de obras a decorrer, com certa periodicidade e atender clientes. Digamos que tratava de muitos assuntos, como entregas e até lhe estavam cometidos certos assuntos de pessoal.
Chegaram novos homens de vendas, conhecedores do marcado, que passaram a trazer para orçamentar obras de vulto. Parecia ter entrado ali um novo fôlego.
Mais ou menos, à frente da produção, estava o pintor João Nascimento, que por sua vez foi buscar uma sua antiga professora de desenho, para o ajudar a proceder a trabalhos na área da criação artística.
João Moisés, estava a entrar num mundo que o cativara e posicionava-se a desenvolver o melhor que podia, corresponder a essa nova dinâmica, que achava aliciante.
Relacionara-se com todo o pessoal e em breve dominava todas as fases dos serviços, assim como as respectivas secções. O seu dinamismo estava disponível e quase diariamente o novo gestor o convocava, para esclarecimento de determinadas questões, na maioria orçamentais.
Por vezes o esclarecimento deixava este admirado e o interlocutor não o ficava menos, porque acabava de saber os muitos erros de gestão que, saltavam à vista. Por vezes ficava a sensação de várias corruptelas de gerentes anteriores, assuntos que estavam a ser minuciosamente revistos e alterados.
A empresa imprimia trabalhos de toda ordem, era fábrica de cartas de jogar e tinha secção de impressão em folhas de flandres, talvez o motivo de existir ainda.
O último associado, que tentava o dinamismo, tinha entrado porque proprietário e liderava uma fábrica de embalagens de lata de vários tipos, destinados a clientes, para esse fim necessitava de mandar imprimir a folha no exterior. Razão porque já era cliente da “Viúva” e daí procurar salvar a empresa, adquirindo a maior quota o que dava o domínio.
Em pouco o João Moisés, pelo pouco que conhecia de gestão empresarial e pelo quadro que lhe sendo dado observar, começava a ter muitas dúvidas, sobre a viabilidade da empresa.
Embora dissesse não gostar de lutar por causa perdidas, ia trabalhando com denodo, estava a acreditar um pouco na nova gestão, cujo titular competência e afabilidade.
Os vendedores, que traziam trabalhos de envergadura para orçamentar, logo desataram a apresentar escusas e a desandar, porque nenhuma das propostas era aceite.
Do assunto resultara reunião com João Moisés, que fizera os orçamentos baseado nas capacidades dos formatos das máquinas, que o respectivo parque apresentava. Previamente foi referido não ter sido posta em causa a capacidade de orçamento, no entanto eram necessárias elações.
Afinal o assunto era muito simples, face a outros dados até então só na posse do gestor, era a já sabida, a empresa não tinha capacidade para determinadas obras.
Um exemplo concreto foi posto em equação, tratava-se de uma pequena revista semanal de histórias aos quadradinhos, havia o conhecimento de que um orçamento de outra empresa concorrente, por metade do preço. O João Moisés conhecendo o meio logo disse em iguais circunstâncias de maquinaria a “Viúva” podia fazer melhor preço em virtude de dispor de mão-de-obra mais barata.
Aventados os porquês, concluiu-se que afinal, não seria possível laborar ali obras de envergadura.
Passou a então a rever-se todos os orçamentos de trabalhos. Por se executarem periodicamente, havendo apenas a necessidade de ir às prateleiras dos arquivos e com os fotolitos existentes, imprimir de novo, renovando o stock do cliente.
Tudo revisto, orçamentos novos, feitos como se a obra entrasse pela primeira vez, apresentados por João Moisés à gerência, este com a sua habitual timidez, reafirmou não lhe terem sido fornecidos outros elementos, que não os que ele próprio reunira, pelo que não podia ser responsabilizado, por qualquer lacuna.
Por um convénio existente entre os industriais gráficos, os fotolitos e montagens ficavam propriedade da fábrica.
Recebeu logo apoio ouvindo: de erro devem enformar todos!
Desejava-se ver isso mesmo! Verificava-se haver casos em que o cliente estava a pagar obras a metade do preço e parcela por parcela, o novo seria o bem executado e o mais actual, embora a gerência contasse com margem de manobra, para negociar custos, como também fora afirmado.
Fica um exemplo, a empresa familiar dos pudins Mikau, estava a mandar imprimir embalagens de cartão para o seu produto, incluindo também o trabalho de cartonagem a custo, de cinquenta por cento inferior do valor real.
Por ser a encomenda mais recorrente e dada a amizade que existia, traduzida em pagamentos adiantados amiudadamente. Porém havia a necessidade de tomar atitude, lá estava a margem de preço para negociar, mais a existência de fotolitos e montagem.
Naquele caso, acabou por funcionar e o problema ficou bem resolvido.
Daniel Costa – in JORNAL da AMADORA
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
POEMA MEU OESTE NATAL
MEU OESTE NATAL
Foram vinte anos, os que vivi
Naquela casa construída
Em mil nove trinta e quatro
Mesmo quarto em que nasci
Foi-me me agora designado, por dias,
Adorei!... Dele parti
Rumo ao Bombarral
Visitar, numa escola, um irmão
Desci ao casal do Urmal
Confraternizei com o enciclopédico
Velho amigo António Elias
Recordámos! Não fez mal
Um outro dia!... Peniche
Sempre observando a cidade
A velha ilha de pescadores, por sinal
Cabo Carvoeiro
Mais a Escada de Pilatos
Descendo ao mar, por entre pedraria
Trabalhada pelas marés
Defronta, o rugido do mar afinal
Numa admirável demonstração
Insana do trabalho da natureza
Requer um olhar de admiração,
Sem leveza
E a Nau dos Corvos?
Do mesmo nome ali está
Na ponta do Cabo o restaurante
Encimado do inesquecível mirante!...
Frente à Berlenga
Visão de outro mundo
Imenso Éden, figurino de beleza
Proporciona, a mãe natureza
Sempre pela marginal
Passei pelo Baleal
De novo, o avistar dum mundo
Parecia irreal
A Berlenga de novo, ali à mão
Alguém disse: a ilha parece perto
Temos chuva por certo!
À noite muito trovejou
Seguiu-se uma bátega de água
Não, é realmente profecia
A marcação dos tempos
Mentalmente, funcionando
Na varanda da minha lisboeta casa
Quer seja noite, ou dia.
Daniel Costa
Foram vinte anos, os que vivi
Naquela casa construída
Em mil nove trinta e quatro
Mesmo quarto em que nasci
Foi-me me agora designado, por dias,
Adorei!... Dele parti
Rumo ao Bombarral
Visitar, numa escola, um irmão
Desci ao casal do Urmal
Confraternizei com o enciclopédico
Velho amigo António Elias
Recordámos! Não fez mal
Um outro dia!... Peniche
Sempre observando a cidade
A velha ilha de pescadores, por sinal
Cabo Carvoeiro
Mais a Escada de Pilatos
Descendo ao mar, por entre pedraria
Trabalhada pelas marés
Defronta, o rugido do mar afinal
Numa admirável demonstração
Insana do trabalho da natureza
Requer um olhar de admiração,
Sem leveza
E a Nau dos Corvos?
Do mesmo nome ali está
Na ponta do Cabo o restaurante
Encimado do inesquecível mirante!...
Frente à Berlenga
Visão de outro mundo
Imenso Éden, figurino de beleza
Proporciona, a mãe natureza
Sempre pela marginal
Passei pelo Baleal
De novo, o avistar dum mundo
Parecia irreal
A Berlenga de novo, ali à mão
Alguém disse: a ilha parece perto
Temos chuva por certo!
À noite muito trovejou
Seguiu-se uma bátega de água
Não, é realmente profecia
A marcação dos tempos
Mentalmente, funcionando
Na varanda da minha lisboeta casa
Quer seja noite, ou dia.
Daniel Costa
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