segunda-feira, 23 de junho de 2008

ESQUADRÃO 297 EM AGOLA - 25

O REGRESSO DE ANGOLA
No dia vinte de Março, com a integração de todos os elementos nos esquadrões de eram originários, o eventual naturalmente deixou de existir, com o normal reagrupamento.
No mesmo dia procedeu-se à devolução de todo o equipamento militar, corolário eminente do regresso à tão desejada vida civil, para o que havia um Oceano de separação, além de outras formalidades, a constituírem outras tantas provações.
Nessa tarde o Onofre almoços com vários camaradas, num restaurante de Luanda, depois de passaram o resto da jornada visando as últimas compras, com outros entretenimentos, na maior descontracção, visto o dever estar cumprido.
Ainda no Grafanil, a vinte e dois, o Onofre conheceu a inesperada felicidade de receber a visita do irmão, que já tendo assentado praça na marinha, tinha sido mobilizado para Moçambique, cujo navio fundeara no porto de Luanda.
Passava ali o dia todo e depois de apresentado a vários companheiros, serviu de companhia na última jornada de gozo na capital de Angola, enquanto havia muitas aventura e novidades, para trocar.
Um dia inesquecível, por assaz interessante!
Chegou, finalmente o embarque de regresso, era outro dia memorável, o vinte e três de Março de 1964. De manhã cedo foram ordenadas todas as bagagens, que se fizeram de imediato chegar ao transatlântico “Vera Cruz”, que as havia de levar de regresso a Lisboa, com mais cerca de dois mil militares, em fim de comissão.
Vieram então as ditas provações, que aquela tropa bem podia dispensar, embora tidas como “honras militares”. Consistiram numa aparatosa parada de despedida, ainda em pleno campo do Grafanil.
Duas longas horas sob um calor intenso, em formatura, para ouvir a historiografia das actividades exercidas durante vinte e sete meses, para o caso do Batalhão 350, de que o Onofre fazia parte.
Foi, realmente, uma grande apoteose de despedida, contando com a presença do General Comandante da Região Militar de Angola, a comandar depois um desfile militar de grandiosidade, pelo número de unidade envolvidas.
Por fim, todos os intervenientes, que deixavam as obrigatórias funções, que as tivessem desempenhado melhor ou pior, receberam um diploma individual, com a assinatura do citado oficial, Comandante Superior, em carimbo aposto, depois de dactilografado o nome pessoal e da Unidade a que pertencia, cada qual e por fim a frase: “Atestado o seu apreço pelo brio profissional e valentia com que se bateu pela Pátria em terras de Angola”.
Seguiu-se de imediato o embarque num comboio, em gare criada para o efeito no próprio Grafanil, que fez o transporte de todo o pessoal, para o porto da baía de Luanda, afim de que o paquete “Vera Cruz” zarpasse até Lisboa, repleto de homens fardados.
Enquanto no transporte ferroviário ia marginando a cidade, o Onofre não deixou de reparar nas sanzalas que a rodeavam, algumas com brancos, aqueles que porventura não haviam conseguido a qualidade de vida almejada, pelas mais variadas circunstâncias.
Pelas três da tarde já com tudo a bordo, podendo ver-se muita gente no cais, fez-se ouvir o toque de despedida pela fanfarra do Regimento de Infantaria de Luanda, à partida do navio.
Apesar da muita felicidade motivada pelo regresso, a cerimónia não deixou de causar um frémito de emoção em muitos corações sentimentais, tal como o do Onofre.
Os dias que pareciam infindáveis, na viagem de regresso, passados em alto mar. Quando se chegava à amurada só se avistava água, por vezes havia o recurso à leitura, também se efectuavam longas conversas, em que eram abordados reluzentes projectos de vida futura.
Muito dado a reviver um passado, ainda que recente, como o era o a comissão imposta e a terminar, o Onofre rememorava muitas incidências vividas em África, como as relativas a Madrinhas de Guerra, no fundo uma agradável maneira de trocar correspondência e sobretudo o facto de durante os treze meses passados na zona de guerrilha ter dormido com arma ligeira, uma pistola metralhadora, que lhe fora atribuída para defesa pessoal, sempre debaixo do travesseiro, destravada em ponto de disparar de imediato, caso acontecesse o sempre previsível ataque.
No dia vinte e seis um remédio, uma espécie de purga geral, criou mau estar, o que continuou na jornada seguinte.
Já no dia vinte e oito, mazela esquecida, cabeça rodando com os balanços nave, à noite pôde assistir-se à exibição do filme “Quatro Raparigas”.
Celebrava-se a Páscoa a vinte e nove de Março, a bordo a monotonia e o veemente desejo do cabal regresso. Começou a sentir-se frio, para quem deixara para trás vinte e sete meses de clima tropical, notava-o mais acutilante, já em atmosfera europeia e porque o fim daquele mês de Março estava agreste, o mar tornara-se muito agitado e o navio balançava bastante.
Como resultado, o grande salão da classe turística, destinado às refeições das praças durante aqueles dias ser utilizado, por apenas dois passageiros, entre os quais os Onofre, que utilizava uma das mãos para a estabilização do talher, sem o que o mesmo dançava por toda a mesa, num vai e vem, em frenética agitação.
A trinta soube-se estar-se de passagem junto da costa das Canárias, a demonstração de que se aproximava o porto de Lisboa. E o mar continuava no seu frenesim de bravura.
Finalmente, no dia um de Abril de 1964, o “Vera Cruz”, manhã cedo acostou à Gare Marítima de Alcântara, na capital de Portugal.
O dia apresentou-se sempre sob uma arreliadora chuva miudinha e fria, impróprio para a celebração de quem chegava de cumprir serviço militar em Angola e eram cerca de dois milhares de homens que tinham servido ali de guerrilheiros a bem da Nação.
De imediato se processou o desembarque e forças metropolitanas do exército apresentaram sacos individuais de comida, que servia de alimentação naquele dia, para todo o contingente.
Até à uma da tarde deambulou-se, cada qual deu a volta que entendeu. Procedeu-se depois à inevitável cerimónia de desfilar perante um Senhor Oficial General, sempre a chuvinha miudinha e fria a cair. Só então se a mais uma etapa, o embarque no próprio perímetro da Gare, em comboio especial, que iria levar toda a tropa do Batalhão 350, ao Regimento de Cavalaria 3, em Estremoz, onde havia sido feita a mobilização.
Ainda mais um desfile, da estação ferroviária local. Destroçou-se junto ao refeitório, onde foi servido pelo exército o último jantar.
Ainda, nessa noite se procedeu ao espólio, muitos já se tinham munido de roupa civil.
A seguir, em união com colegas de proximidade, encheu-se um táxi, para transporte de novo ao seio paterno.
Fica aqui patente a grande saga do Onofre, na guerrilha de Angola!...

Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA

12 comentários:

rosa dourada/ondina azul disse...

Esta grande aventura está próxima do fim!

Outros capítulos por certo se seguirão... a adaptação a uma outra forma de estar...


Beijinho,

Bandys disse...

Daniel,

Li o poema. ♪♪♥
Nossa adorei. Que seria se tu escrevestes mais.

Acho que ja esta terminando...

Daniel, Adoro suas visitas e comentarios
beijos

poetaeusou . . . disse...

*
e continua a saga,
,
saudações
,
*

xistosa, josé torres disse...

Grande Onofre

Soube viver e levar a obrigação com ida e volta.
Teve a "sorte" dum atestado de "residência" em África.
Nem direito tive a uma folha de papel higiénico "selado".
Também os mordi, que não conseguiram despromover-me, deram 5 rebuçados, daquelas grandes, que duram na boca para se derreterem, "derreteram-me" com uns infindáveis dias de detenção, até ao limite de crime ...
(é que com uma arma na mão ... qualquer um é valente e eu não fugi à regra ...)
No final, deram-me mais 19 folhas agrafadas à caderneta, que desapareceu, no dia que a levantei na P.S.P. e que "inadvertidamente" me caiu, toda rasgada num qualquer caixote do lixo ...
Fui e vim no "Vera Crus", era o nosso melhor paquete, (gémeo do Santa Maria), logo a seguir ao Príncipe Perfeito, que nunca transportou soldados ...

Adeus África minha!!!

Será que o Onofre tem saudades de visitar os cantos por onde deixou alguma pele?

Carla disse...

um dia para não esquecer...esperemos que com o fim desta aventura outras surjam para prazer da nossa leitura
beijos

o¤° SORRISO °¤o disse...

Oi Daniel. O que? As aventuras do Onofre estão chegando ao fim? Aaaahhh!! De certo Onofre nos preparou outras maravilhosas histórias para acompanharmos. É o que esperamos.

Ótima semana!

Beijos mil! :-)

Daniel disse...

Ondina

A aventura acabará talvez ainda hoje com o epilogo, porém tenho escrito muito e outras coisas se seguirão, para desanuviar. De seguida sairá a maior de viva. Falará de Lisboa.
Beijinho
Daniel

Daniel disse...

Bandys

Se gostas, gosto de partilhar e não faltarei. Tenho escrito muito, para jornais, pelo que estarei sempre.
Beijos, daniel

Daniel disse...

poetaeusou

Vai acabar, com o próximo post, outras coisas se seguirão.
Saudações, Daniel

Daniel disse...

José Torres

Com o Epílogo vai acabar, virá o seguimento, ms antes postarei outras coisas, para desanuviar.
A um "corrécio" acontessem coisas, normalmente são uns porreiros!...
No "Vera Cruz", regressei nele, à vista do Niassa!... Vergonhoso mandarem gente para "denfender" a pátria, sem um mínimo de condições.
Gostaria de ir a Angola, mas estás a ver o que é estar, fora de Luanda?
Vai lá muita gente, mas não devem passar da capital!
Daniel

Daniel disse...

Carla

Claro que uoras aventuras virão, aliáz, sou sei ver a vida como uma agradável aventura.
Gostaria mesmo de deixar aqui prazer!
Beijos, Daniel

Daniel disse...

Sorriso

Sim há mais histórias vividas. Gostaria de as contar melhor, para retribuir prazer.
Ainda a tempo, um resto de semana de sorrisos.
Beijinhos
Daniel