quarta-feira, 8 de outubro de 2008

COISAS DA VIDA

C’EST LA VIE!...

Estávamos no princípio dos anos dos anos setenta, estava o “Círculo de Leitores” a iniciar o lançamento para o grande público, através de promoção porta a porta., por uma equipa de promotores, a quem era ministrado curso acelerado e próprio, para o efeito.
Seguia-se uma outra equipa, chamada de tutela, para dar a assistência necessária, com recebimento de quotas mensais (27$50), entrega de revista grátis, com descriminação dos livros, que iam sendo editados. Nela constava o livro do trimestre, os direitos dos novos sócios, como o prémio de um livro, a que tinha direito, no caso de difusão por amizade, etc.
A tutela era composta por um coordenador, chefes e agentes. Estes últimos eram recrutados no exterior, em princípio na área, para exercerem nas horas vagas.
Calhou-me ser o primeiro, interno recrutado, ainda antes do começo, para acompanhar e dar alguma formação a um dos grupos de agentes de tutela.
Ao começar, havia já um outro e entre ele e eu estabeleceu-se natural amizade. O ritmo da promoção e consequente alargamento, uma vez iniciado, prosseguia aceleradamente.
Mercê de anúncios diários no jornal “Diário de Notícias”, eram recrutados constantemente novos agentes, convencionalmente, atribuídos alternados á coordenação dos dois internos existentes.
Depois de algumas instruções, na própria sede da empresa, começaram, ainda no número um da Rua Pascoal de Melo e da demonstração prática, no terreno, de como dar assistência ao sócio. Cada qual ia coordenando um grupo.
Os livros eram entregues em casa dos próprios agentes, que iam recebendo o dinheiro, que escrituram em pequenas fichas próprias, assim como todo o movimento de entrega de livros. Mais ou menos mensalmente entregavam o produto á contabilidade do “Circulo”, que também tinha o seu próprio registo.
Sem garantias, logo começaram a aparecer os pequenos golpes, visto que os coordenadores iam cuidando também do factor produto.
Em primeira instância, as culpas cabiam a quem recrutava e não a quem coordenava. Era só no sector que o meu colega e amigo dirigia creio que, academicamente, mais qualificado do que eu aconteciam.
O facto originou a troca de sectores, entre nós. Como estavam sempre a entrar novos agentes, continuaram os golpes, sempre no sector do colega. Várias vezes, reparava em certos pormenores e avisava: fulano está a dar o golpe!
Achas?... Como?...
Era inevitável acontecer.
Um dia veio contar-me a história de um agente, que tivera a “amabilidade” de o deixar a sós com a esposa.
Disse-lhe está a dar um golpe!...
Como?... Não pode ser verdade, é um agente tão bom!...
Não passou muito tempo e aparecia a fraude!...
Muitas vezes, combinávamos almoçar juntos e conversarmos, sobre os nossos grupos de trabalho.
Num desses almoços, saiu a pergunta:
Como é que fazes afinal? Se só nos meus agentes há “buracos”!...
Sorri e disse: não estou livre, mas ensino tudo, até a facilidade como se podem dar golpes. Todos ficam a saber que, ao primeiro deslize apercebo-me logo. Quem é mal intencionado, nem chega a pegar no trabalho.
Eis a razão porque, são bastantes os que nem chegam a entrar.
Ao contrário explicas muito mais, mas esse pormenor, evitas que saibam, o que é fatal, podes crer.
O meu colega, acabou por ser despedido, não foi isso a causa próxima, mas terá pesado.
Fui instado a testemunhar contra, em assunto que ele tinha razão.
Sim senhor iria, mas testemunhar a verdade e a verdade, era diferente da que me queriam “vender”. Fui excluído e também paguei por isso, cobardemente, faltou a coragem de me despedirem e sai, pelo meu próprio pé, quando entendi.

Curiosamente, morando por perto, devo ter perdido o último elo com agentes.
De facto faleceu agora, repentinamente, em férias, o último ao serviço, com quem mantinha contactos.
Tinha apadrinhado o seu casamento e pela amizade, pela confraternização, pelo dinamismo e até porque, parecia ter saúde para vender, fui deveras atingido por um verdadeiro choque.

PENSAMENTO:
Luto por um mundo vivo, por isso não devo chorar os mortos. Não posso contudo, deixar de lamentar a perda de um amigo.

Daniel Costa

19 comentários:

jo ra tone disse...

Nem todos neste país fazem jogo limpo.
Como é que alguns conseguiram grandes fortunas.
Sempre à custa do pequeno.
Abraço

RENATA CORDEIRO disse...

Querido Daniel:
Tenho algumas coisas a dizer. Não vou fechar o Blog, mas estou fazendo pequenas postagens de cenas de filmes com poemas ou letras de músicas (traduzidos por mim) relacionados. Ante-ontem fiz uma e ontem à noite fiz outra. Também decidi que não vou chamar ninguém para comentar os meus posts. Quem gostar de mim, o fará espontaneamente.
Um beijo,
Renata

poetaeusou . . . disse...

*
Círculo de Leitores
ainda sou sócio,
trinta e alguna anos . . .
,
abç,
,
*

Parisiense disse...

Cada vez mais vivemos num mundo ainda mais sujo e em que a lealdade e a verdade começam a ser virtudes que escaseam em nome do materialismo e esgoismo.
Gostei do texto e sobretudo do pensamento.
Beijokitas

Laura disse...

Um amigo é um amigo e se o soube ser nas boas e más horas, claro que vais ter saudade dele quando te lembrares e te apetecer falar com ele...beijinho e é a vida e todos os dias partem amigos de uns e de outros, e se formos mesmo amigos, do lado de lá nos veremos também... Um jinho da laura..

ETERNA APAIXONADA disse...

Memórias... Tantos momentos compartilhados... O livro da vida de cada um de nós...
O livre arbítrio de separar o joio do trigo tem toda a diferença.
Sempre existirão aqueles que se julgam "mais espertos" a enganar, a sobrepujar seus nefastos comportamentos a seu favor...
Mas existe a cobrança um dia. E não deixa passar em branco...
Coisas da vida...

Sombra de Anja disse...

Sabe o que é coisa da vida...é isto aqui:
puxei a manga da camisa um pouco pra cima
perto do cotovelo, e abri o botão calmamente
como se fizesse isso todo dia na tua frente
não te olhei como amiga nem professora
e não liguei para a pouca idade que tinhas
eu era mais madura e você mais coerente
tinha certeza de tudo mas não se mexia
passei a mão no teu cabelo
te beijei na testa, no queixo
beijei tua nuca e tua boca
e fui a primeira mulher nua da tua vida.
Martha Medeiros
Um bj...docemente endividado.

Vanuza Pantaleão disse...

Amigo é para Sempre, Daniel!
Por isso, não largo do teu pé, risossss...Bjsssss

Unknown disse...

E que coisas da vida!!!!
Infelizmente estamos num mundo em que a hipócrisia, o egoísmo e a ambição desmedida andam de mãos dadas.

Há que tentar mostrar aos nossos filhos e jovens que nos rodeiam os verdadeiros valores da vida e tudo fazer para que eles cresçam sensiveis aos problemas do próximo.
Belo post.

Beijinhos

Vanuza Pantaleão disse...

Um vinho de manhã, Daniel?Rssss...É bom esse aguapé? Um Verde não seria melhor? Os do Porto são apetitosos, enfim, vamos brindar: TIM-TIM, SALUTE!!!Bjssss

Delfim Peixoto disse...

Os amigos são os melhores tesouros... e quando peremos um, ficamos mais pobres
Abraço

Tentativas Poemáticas disse...

daniel
Muito obrigado pela amabilidade ao elogiar os meus poemas publicados no blogue da Renata.
O amigo esteve em Nambuangongo?
Eu estive em Angola, na Guerra Colonial.
Voltarei para o ler com mais cuidado.
Um grande abraço.
António

BIA disse...

Não perdeste o teu amigo... ele mudou para um lugar onde não podemos aceder. É um suave lugar, acredita.

Abraço terno


BIA

Iana disse...

Meu amigo querido
Daneil

A Amizade
surge quando aprendemos
a admirar as qualidades de algumas
pessoas que com sua simples presença
conseguem nos fazer felizes

Tenha um lindo dia de paz,
com a bençao de DEUS

PS: Adorei o pensamento que o amigo deixou no final do texto... Parabéns!!! Também desculpe a minha demora por aqui, mas já sabe que a tua amiginha rosa não anda bem, entreguei nas mãos de "Deus"...

beijos mil e muitas flores do nosso jardim
Iana!!!

Bandys disse...

Daniel,

Um amigo é um amor que nunca morre, por mais que ele tenha ido.

beijos

Eu sei que vou te amar disse...

Daniel mais um relato interessante e bem escrito!
Li muitos e interessantes livros atraves do Círculo de Leitores, acho que vem dai o meu gosto pela leitura, porque a minha mae era assinante;)
Beijo cheios de luz!

Mariana disse...

Pois é, e a própria vida dá o troco um dia, ô se dá. É esperar pra ver.

Maria Soledade disse...

Daniel, andei nas andanças do "círculo de leitores" mas muito pouco tempo.Só serviu para eu gastar dinheiro e nunca recebi um tusto.O meu coordenador ficava no café enquanto nós tentavamos angariar sócios sempre numa pedalada desenfreada.Acabei por fazer 3 sócios pois tudo o mundo já o era.Isto foi em 1978, eu atirei com a pasta e voltei costas. Cá no Porto a "sede" era na R:Campo Alegre(salvo erro!)mesmo pegado ao Gambamar. Como eu pertencia à raia miúda nunca me apercebi de golpadas, mas o tempo que lá estive também...

Quanto ao amigo que perdeu,parece que tão estupidamente, é evidente que não o vai esquecer, porque se não, sería conhecido e não amigo!
Adorei o seu pensamento.

Beijinhos

xistosa, josé torres disse...

Amigo Daniel, começo pelo fim, "há lágrimas que correm pela face e outras que correm pelo coração", a perda dum amigo é sempre um choque. Fui sócio do Circulo de Leitores, até ao dia que descobri que os livros duma colecção que eu andava a fazer eram mais baratos 20$00 numa papelaria por debaixo dum andar que morei.
Já lá vão uns 25 anos.
No Circulo, eram 100$000 e, sem favores na papelaria 80$00.
Não tenho bem presente, mas era a colecção com as obras completas de Eça, Camilo e nem sei qual o outro escritor.
Fiquei com uns livros encadernados a verde, outros a vermelho.