sábado, 4 de outubro de 2008

LISBOA CAFÉ - 19

ALCÂNTARA - MAR

Se agora o mundo da noite chegou para as bandas de Alcântara – Mar foi por ali, ao longo da Rua Fradesso da Silveira, com entrada para os Serviços Administrativos, do lado Sudoeste do grande prédio comercial de dois andares, a ocupar todo o lado direito de quem sobe.
Era aí que funcionava uma gráfica, entre outros trabalhos, ali se fabricavam desde outros tempos cartas de jogar.
Foi nessa empresa, que João Moisés entrou a um de Julho de setenta. A designação era a de Viúva J. J. Nunes. A “Vúva” como todos os funcionários a designavam, para abreviar, tornando mais simples a nomeação.
A princípio era-lhe atribuído o serviço de vendas. Havia uma renovação em curso, entrara um outro sócio, os anteriores, por falta de rentabilidade e com dívidas sobre dívidas, acharam por bem abandonar o “barco”.
Um gestor de visão moderna, arriscara abandonar uma empresa de futuro para também entrar, formar equipa e elevar a fábrica gráfica rumo à rentabilidade, porém tendo em conta o passivo acumulado.
Em breve João Moisés foi chamado a uma nova ocupação, mais de acordo com as aptidões, servia mesmo de conselheiro para a problemática de encomendas de trabalhos gráficos, rever todos os orçamentos de obras a decorrer, com certa periodicidade e atender clientes. Digamos que tratava de muitos assuntos, como entregas e até lhe estavam cometidos certos assuntos de pessoal.
Chegaram novos homens de vendas, conhecedores do marcado, que passaram a trazer para orçamentar obras de vulto. Parecia ter entrado ali um novo fôlego.
Mais ou menos, à frente da produção, estava o pintor João Nascimento, que por sua vez foi buscar uma sua antiga professora de desenho, para o ajudar a proceder a trabalhos na área da criação artística.
João Moisés, estava a entrar num mundo que o cativara e posicionava-se a desenvolver o melhor que podia, corresponder a essa nova dinâmica, que achava aliciante.
Relacionara-se com todo o pessoal e em breve dominava todas as fases dos serviços, assim como as respectivas secções. O seu dinamismo estava disponível e quase diariamente o novo gestor o convocava, para esclarecimento de determinadas questões, na maioria orçamentais.
Por vezes o esclarecimento deixava este admirado e o interlocutor não o ficava menos, porque acabava de saber os muitos erros de gestão que, saltavam à vista. Por vezes ficava a sensação de várias corruptelas de gerentes anteriores, assuntos que estavam a ser minuciosamente revistos e alterados.
A empresa imprimia trabalhos de toda ordem, era fábrica de cartas de jogar e tinha secção de impressão em folhas de flandres, talvez o motivo de existir ainda.
O último associado, que tentava o dinamismo, tinha entrado porque proprietário e liderava uma fábrica de embalagens de lata de vários tipos, destinados a clientes, para esse fim necessitava de mandar imprimir a folha no exterior. Razão porque já era cliente da “Viúva” e daí procurar salvar a empresa, adquirindo a maior quota o que dava o domínio.
Em pouco o João Moisés, pelo pouco que conhecia de gestão empresarial e pelo quadro que lhe sendo dado observar, começava a ter muitas dúvidas, sobre a viabilidade da empresa.
Embora dissesse não gostar de lutar por causa perdidas, ia trabalhando com denodo, estava a acreditar um pouco na nova gestão, cujo titular competência e afabilidade.
Os vendedores, que traziam trabalhos de envergadura para orçamentar, logo desataram a apresentar escusas e a desandar, porque nenhuma das propostas era aceite.
Do assunto resultara reunião com João Moisés, que fizera os orçamentos baseado nas capacidades dos formatos das máquinas, que o respectivo parque apresentava. Previamente foi referido não ter sido posta em causa a capacidade de orçamento, no entanto eram necessárias elações.
Afinal o assunto era muito simples, face a outros dados até então só na posse do gestor, era a já sabida, a empresa não tinha capacidade para determinadas obras.
Um exemplo concreto foi posto em equação, tratava-se de uma pequena revista semanal de histórias aos quadradinhos, havia o conhecimento de que um orçamento de outra empresa concorrente, por metade do preço. O João Moisés conhecendo o meio logo disse em iguais circunstâncias de maquinaria a “Viúva” podia fazer melhor preço em virtude de dispor de mão-de-obra mais barata.
Aventados os porquês, concluiu-se que afinal, não seria possível laborar ali obras de envergadura.
Passou a então a rever-se todos os orçamentos de trabalhos. Por se executarem periodicamente, havendo apenas a necessidade de ir às prateleiras dos arquivos e com os fotolitos existentes, imprimir de novo, renovando o stock do cliente.
Tudo revisto, orçamentos novos, feitos como se a obra entrasse pela primeira vez, apresentados por João Moisés à gerência, este com a sua habitual timidez, reafirmou não lhe terem sido fornecidos outros elementos, que não os que ele próprio reunira, pelo que não podia ser responsabilizado, por qualquer lacuna.
Por um convénio existente entre os industriais gráficos, os fotolitos e montagens ficavam propriedade da fábrica.
Recebeu logo apoio ouvindo: de erro devem enformar todos!
Desejava-se ver isso mesmo! Verificava-se haver casos em que o cliente estava a pagar obras a metade do preço e parcela por parcela, o novo seria o bem executado e o mais actual, embora a gerência contasse com margem de manobra, para negociar custos, como também fora afirmado.
Fica um exemplo, a empresa familiar dos pudins Mikau, estava a mandar imprimir embalagens de cartão para o seu produto, incluindo também o trabalho de cartonagem a custo, de cinquenta por cento inferior do valor real.
Por ser a encomenda mais recorrente e dada a amizade que existia, traduzida em pagamentos adiantados amiudadamente. Porém havia a necessidade de tomar atitude, lá estava a margem de preço para negociar, mais a existência de fotolitos e montagem.
Naquele caso, acabou por funcionar e o problema ficou bem resolvido.

Daniel Costa – in JORNAL da AMADORA

16 comentários:

Pelos caminhos da vida. disse...

Estive aqui.

Obrigado pela visita.

Otimo fim de semana.

beijooo.

poetaeusou . . . disse...

*
regredi
aos pudins mikau . . .
,
abraço,
,
*

Laura disse...

Pudim mikau, ahhh aind ahoje os faço ehhhhhhh...
Daniel nem sabia que era dia de S. Francisco e escrevi lá um cadinho sobre ele..Bom final de sábado..laura.

Daniel disse...

Olá

Poetaeusou e Laura

Só já neste século pssei a gostar, mais ou menos, de pudim, pelo que nunca comi o célebre mikau.
Julgáva-o acabado.
Daniel

o que me vier à real gana disse...

Excelente texto!

P.S. ( eh pé, não é o Partido! ), gosto muito mesmo, é de mousse de chocolate!

Obrigado pela visita e pelo comentário! Aqui continua de aconselhar!

jo ra tone disse...

Daniel,
Desculpa, mas só gosto de beijos de mulheres eheh.

Quanto ao texto, é sempre um trabalho extraordinário, bem redigido

Abraço

Daniel disse...

Jo Ra Tone

Também eu!... Desculpa, confundi.

Daniel

xistosa, josé torres disse...

DE impressões, tenho a impressão que não percebo nada.
Mas lembro-me do "Pudam Flim", quer dizer do Pudim Flan da Mikau.
O que deve ter dado mais trabalho foi a foto dum chinês que não eram muito vulgares por cá ...
Foi derivado a esses pudins, (pó amarelo), que começaram a aparecer os chineses.
Pelos vistos já sabiam negociar ...
Um bom fim de semana.

Laura disse...

Ai que ja comentei, ja me ri e amandei o comentario que foi aoa r como o pacote da farinha ampara que abria antes de chegar a casa para ver o presente que tinha e com a recomendção da mãe para não abrir, e ós pois, pumba, saia cá uma farinhada depois de o colocar na mesa com a parte que abri, virada para baixo, enfim, fina já era mas não tanto..beijinho d ebom Domingo..

Marta Vinhais disse...

Como sempre, um texto com um bom ritmo e leitura interessante...
Lembro-me vagamente desse pudim, mas nunca fui apreciadora desse tipo de doces.
Quanto ao teu comentário, não, não me importo nada - é um elogio e agradeço-to..
Bom domingo
Beijos e abraços
Marta

Mariana disse...

Tenha uma linda semana de muita Paz e Luz.
Um beijo gostoso da Mariana

RENATA CORDEIRO disse...

Daniel:
O motivo da minha vinda aqui é a minha despedida. Estou saindo da Blogosfera, pelo menos por enquanto. Não fechei o Blog e mantive o meu perfil, o que significa que posso voltar a qualquer hora. Mas no momento, estou com muitos problemas. Deixei um post de despeida. Se quiser despedir-se de mim, vá lá. Foi bom conhecê-lo.
Um beijo,
Renata

Eu sei que vou te amar disse...

Daniel um texto interessante e sempre bem escrito!
Beijo doce

Maria Dias disse...

Oi Daniel...Gostas de escrever sobre sua Lisboa hein?Percebo o povo Português apaixonado por seu país tal como nós brasileiros(bacana isso!).Em breve, escreverei sobre um Rio de Janeiro antigo(numa época em q não vivi mas q adoraria ter vivido).Muito bem escrito seus textos...

Tenho sentido sua falta no Avesso apareça!

Beijinho

Anónimo disse...

Daniel.

Parece que tocar um negócio como este não é para qualquer um. Requer tato, experiência e muita sensibilidade, "faro". Não connheço muito o mercado gráfico, mas posso sentir o acirrar da concorrência.


Bjos,

Ana.

o que me vier à real gana disse...

Comentários que tb valem a pena!
Bom início de semana!