PRAÇA DO CHILE
A zona era bastante familiar a João Moisés, que frequentara aulas por ali em dois estabelecimentos diferentes. Um na Rua Francisco Sanches, a mesma que entroncava a Sul com a Pascoal de Melo, era nessa no número um, em que se situavam as instalações da sua novíssima ocupação.
No dia vinte e seis da Janeiro entrara numa editora e tanto que o que desejara! Visto que por oposição a gráficas, era estar do lado de lá, talvez menos tempestivo, pelo menos para um espírito irrequieto, como era o caso.
O acompanhamento das várias fases, de cada obra gráfica, tornava-se absorvente.
Dessa tarefa constante dependia o saber o como ia encaminhado cada trabalho. Disso dependia por vezes o frenesim dos clientes. Quem tinha o encargo de os representar internamente, procurando que tudo andasse harmoniosamente, tinha de procurar insistentemente esse desiderato.
Agora iniciara, numa editora, não era o trabalho almejado, mas parecia a contento, uma empresa, cuja casa mãe era alemã, dali criara raízes em Barcelona, que se estavam a estender a Lisboa.
João Moisés seria o nono elemento, contando mesmo com o catalão senhor José Maria Esteve, o Administrador que, de Barcelona tinha a incumbência de instalar o Circulo de Leitores em Portugal, que viria a atingir as centenas de funcionários.
Ao lugar dava-se a designação de inspector de tutela e controlaria externamente um grupo de agentes trabalhadores recrutados em várias ocupações, para exercer serviço de vendas em regime de “part-time”.
Entrar de novo numa empresa, fazer parte do seu lançamento, de conceitos avançadas para a época, tudo era o máximo que se poderia exigir e a confirma-lo estava imediatamente num adequado modo de formação.
Para o verdadeiro lançamento comercial, entenda-se, foi escolhida a zona de Moscavide. Três promotores formadores mais o seu chefe, que tinham vindo de ter formação na congénere de Barcelona e já alguns por formar, entre os quais João Moisés, embora já destinado a outras funções, que no fundo também faziam parte das vendas, deram início ao grande lançamento.
Começou pela entrada num prédio, um dos promotores, dirigiu-se à porteira e pediu para andar na escada e bater a todas as portas afim de fazer o trabalho.
A cordialidade resultou e foi a senhora a primeira a receber a embaixada do Circulo de Leitores e a promoção começou logo assim:
- “Minha senhora se houvesse em Portugal uma empresa que, por uma pequena quota de mensal 37$50 pudesse adquirir, pelo menos um livro de três em três meses, resultaria em hábitos de mais leitura”?
- Resposta:
– Sim!
-“Pois bem essa empresa já existe, chama-se Circulo de Leitores e nasceu na Alemanha, com o nome de Bertelsemenn”. - Deseja aderir?
Evidentemente, o grupo de palavras precisas e concisas, tinha sido estudado e ensaiado, produzindo efeitos visíveis imediatos. Não obstante o novo sócio, receberia um impresso próprio, com o qual teria de confirmar a adesão, dirigindo-o assinado, à firma em carta posterior.
Logo após essa jornada, João Moisés começou as suas funções, entre as quais a de transformar em sectores toda a Lisboa, fazia-o de carro e apeado, no sentido de avaliar o número de sócios existente, consoante alturas de prédios, extractos sociais, escritórios e outros factores.
Cada sector, poderia abranger, várias ruas, uma, parte, lado direito ou esquerdo, partes de rua, de ambos os lados. Tudo era anotado e no caso de ruas partidas, ficava marcado os números de portas onde começava ou acabava.
Para cada seria recrutado um agente de tutela local. Receberia a primeira quota do trimestre, entregaria uma revista com a designação dos livros já editados. Na mesma, aparecia em destaque o considerado livro do mês, o livro de prémio por cada novo sócio, que conseguisse. Um direito atribuído a cada inscrito e o cartão de pedido, a entregar preenchido no mês seguinte com o pagamento da segunda quota.
No terceiro mês efectuaria o pagamento três, contra a entrega dos livros pedidos, que podia, obviamente devia, ultrapassar os 112$50, sendo de imediato liquidada a diferença.
Ali à Praça do Chile no número um da Rua Pascoal de Melo estava a nascer uma nova empresa, em Portugal, uma lufada de novo ar no meio, em 1971, em que afinal já se vivia uma época pré revolucionária.
Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA
sábado, 25 de outubro de 2008
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18 comentários:
Daniel,
parabéns, fantástico percurso de vida...
"João Moisés seria o nono elemento..."
não fazia a mínima ideia que os alicerces dessa grande promotora de cultura, assim fossem! Obrigada p'la partilha.
bom fim-de-semana
um sorriso :)
mariam
Fiz uma postagem hoje sobre amigos e lá estou repassando dois selinhos,e gostaria que vc fosse lá pra pegar,é com carinho que repasso.
Te espero lá.
beijooo
Pronto, Daniel, desfiz. Pode ir lá à vontade.
Renata
112#50? ah, ganda coisa os escudos...estes euritos já nã chegam aos calcanhares dos nossos gloriosos escudos que sempre davam pra mais alguma coisa.
Já tinha saudade de ti, este dia que passei ausente soube-me a saudade como se fossem muitos dias. Um beijinho da laura..
Amigo...
Querido, que saudades tuas...
Parabéns pelo post, obrigada por dividir com todos nós!
"De todas as flores que colhemos, a Amizade
é o único sentimento, que os ventos podem
soprar, mas suas pétalas jamais cairão !"
Beijos mil e uma continuação de um bom fim de semana
Sua rosa amiga sempre
Iana!!!
Amigo querido,
Sempre gosto de suas narrativas. É sempre um acréscimo para mim.
Grande beijo
Daniel:
Aquele soneto não é da Florbela Espanca, é meu. Só peguei um mote dela "duas meninas rútilas e de oiro". É preciso ler com atenção, e olha que eu escrevi com letras grandes e não com letras pequenas para ninguém ler.
Obrigada pela presença no Blog.
Um abraço,
Renata Cordeiro
Amigos, claro que sim.
Renata
Oi Daniel,
Estava sentindo sua falta..
O amigo é o amor que nunca morre.
Mais uma vez agradeço suas tão belas palavras no meu cantinho
beijos
*
livros de vários temas,
ba minha biblioteca,
têm o carimbo ciclo de leitores,
,
abraço
,
*
também não tens os teus baldes do lixo, onde estão? vês como eu tinha razão? referia-me a que se tivermos um mau comentário e o quisermos apagar não podemos porque não temos o desgraçado do caixote aqui onde devia estar!... Beijinhos da laura, pa ti.
Bela escrita Daniel!
Um beijo
Meu amigo hoje passei num instantinho para te deixar um beijo :)
voltarei para te ler com calma...
beijinhos
Oie lindo! Eu já conhecia esse círculo e acho bem interessante.
Adoro suas narrativas.
Ah, lindinho! Se você soubesse esse amor, de tanto tempo, quantas lágrimas, quantos sorrisos. Quantas desilusões. Mas sempre acabamos juntos, por mais que vida tente nos separar.
Boa semana! Beijos
Passei por aqui!
Bom dia.
Obrigado pela visita.
Volte!!
beijooo.
Daniel:
Passe no meu Blog, no Galeria e não no Resenhas Antigas, pois fiz a resenha do filme "Uma relação pornográfica", que de pornográfico não tem nada. É um filme de amor. Não há nenhuma cena de pornografia.
Um beijo,
Renata
Mais uma narrativa da vida de João Moisés que nos deixa nesta ansia de querer ler mais!
Beijo terno
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