sexta-feira, 28 de novembro de 2008
DE LISBOA
A vida para ser aventura
É autêntico e íntimo segredo
Segredo e aventura, que perdura
Anos sessenta
Do campo não ficou saudade
Em Lisboa desembarquei
Iniciava a fazer parte da cidade
Aventura com que sempre sonhei
Nas Portas de Santo Antão comecei
Como aprendiz então
Vais à Avenida da Liberdade:
Ordenou o patrão!...
Liberdade, queria,
Onde ficava a Avenida, não sabia
Depressa disse:
Absorveste rápido o que ensinei
Aprendeste, é assim a vida!
Ficas com a chave
Vais trabalhar na “Ginjinha Avenida”
Junto ao Parque Mayer
Mesmo edifício do “Café Lisboa”
Folgas, na semana, um dia
O mesmo que te reservei
Mais, cem paus acrescentarei
Para folgares e entrar
Às dez da noite de Quarta
Fechas às duas do dia seguinte
Regressava, feliz Avenida abaixo
Depois Rua do Benformoso
Passava o chafariz
A seguir
A íngreme Calçada do Monte subia
Largo da Graça e Rua de Santo António
Travessa da Bela Vista, onde vivia
Perto das cinco do outro dia
Por vezes, a porta abria
Na madrugada, a Avenida descia
Nos Restauradores
Trabalhadoras nocturnas de esquinas
Viam-me como se fora freguês indigente
Encontrava-as bamboleantes, traquinas
Ignoravam-me, de repente
Porém, deviam conhecer-me
Ora as meninas!...
Daniel Costa
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Aconteceu, a João Moisés ter sido afectado pela vulgar patologia da gripe, algo banal, porém talvez pelo infatigável apego e gosto pelo que fazia, aconteceu uma recaída e o resultado foi a necessidade de assistência médica.
Aconteceu, o doutor além de medicamentos adequados, contra vontade do paciente receitou dois dias de baixa, para descanso.
Conformado teve de aceitar, tanto mais que ouviu: Aqui sou eu o médico!
Mal chegado a casa para convalescer, por telefone foi convocado pelo efémero chefe de serviço, era preciso! Foi, cumprir um “dever” acima de tudo!
No fim do mês, não estranhou receber o salário por inteiro. Como não se surpreendeu receber o correspondente à baixa, a contabilidade resolveria!
Já então, em virtude do forte incremento da editora, traduzido na constante entrada de pessoal. O Moiteirim e o Merilim de directores, cada um do seu departamento, promoção e vendas, subiram ao topo do mesmo sector, que se juntara na supervisão.
Maldosamente o tal de Moiteirim, veio com um postal afim, da caixa e questionou sobre o assunto. Julgou, como mau juiz, nem ouviu e João convocado, por necessidade, os dois únicos dias de baixa de doença. Sacrificara a saúde, ao serviço de uma grande empresa e trabalhou dois dias sem qualquer remuneração, inadmissível! Só promovidos e consentidos por quem não sabia estar em lugares de chefia.
A empresa teve culpa, porque alimentava servidores, que sabiam fingir que pensavam, mas actuavam em nome da mesquinhez de princípios.
Entrou uma leva de promotores, talvez por maldade planeada por Merilim. Da sua formação, pela única vez, constou da observação de como formava o seu grupo de agentes de tutela e ele João Moisés, o próprio, em demonstração actuou durante visitas de contactos com sócios.
A acção teve em vista humilhar, tanto mais o João ser considerado exemplar nesse trabalho, que já provara com algo apresentado.
Fez a demonstração a propósito, achou que decorreu impecavelmente.
Finda a qual um dos Afins, estava em formação e para agradar ao “dono”, mostrou cobardia e disse: Foi interessante, porém podia ter sido muito melhor!
A perseguição continuava, outro Afim, já chefe de grupo ordenou, a um chefe de tutela um trabalho fora do horário laboral, este recusou, porque não tinha de receber ordens para transgredir.
O João Moisés assistiu à arrojada cena, um gesto de pura vilania. O colega mesmo assistindo-lhe a razão teve ordem de despedimento.
Por apontamentos pessoais, estavam anotadas todas as horas pós laborais, foi accionado processo.
João Moisés, convidado a ser testemunha do caso, disse ao chefe, muito bem!
- Sabe que o trabalhador tem razão e não espere ver verdades alteradas, arrostou com ameaças, mas a integridade acima de tudo! Acabou por ser dispensado o seu depoimento.
A empresa acabou por pagar e muito justamente, o que lhe veio a ser exigido!
Pequenos factos, denunciadores da perseguição continuavam. A isenção de horário de trabalho seria compensada monetariamente, com prémios de produtividade, por trimestre, o ciclo de entrega da revista com a indicação dos livros disponíveis, recolha dos postais com os pedidos e entregas, enquanto se recebiam as quotas mensais.
João Moisés procurava pôr o seu grupo a funcionar bem, por exemplo, em determinado trimestre tinha saído o livro “Fábrica de Oficiais”, no memo havia uma cena em que um sargento tinha sido violado, por colegas mulheres. Destacado o assunto aos agentes, o livro teve grande sucesso de vendas no sector conduzido por João Moisés. Um marketing útil enquanto interessante no prémio de vendas.
Pois, recebeu indicações da supervisão, que apenas tinha de vender trimestralmente consoante a quotização dos sócios. Efectivamente não havia erro, estavam a ser atingidas metas, que iam contra desígnios pessoais. E as admoestações vinham de supervisores!.... O que seria o último trimestre, pela sua própria contabilização, atingiria um prémio de cerca quatro mil escudos, quantia jeitosa, para a época.
Por interferências na contabilidade, o próprio rapaz Moiteirim conseguiu que ficasse reduzida a dois. Nem assim evitou que fosse a mais elevada de entre as quatro, que então existiam.
O género de perseguição era tal que ao João Moisés chegou receio de entrar acção da própria P.I.D.E. Com essa nada podia, não obstante a sua força interior para brincar ao gato e ao rato, com tamanha irresponsabilidade, dir-se-ia de rapazes imaturos.
Um dia aconteceu que ao chegar ao escritório, um dos Afins entretanto na chefia do departamento, naturalmente para não desagradar ao “dono”, deixara a ordem para não sair sem a vinda do tigre de papel do chefe.
João Moisés, assim procedeu pensando logo no que viria de novo! E o que havia era uma confrontação com um caso de um agente de tutela desonesto, caso que nem podia conhecer a fundo, porque já se apresentava problemático e fora entregue a um ajudante mais disponível, para restabelecer o contacto.
O agente sabia bem a fraude que tinha feito, detectado aqui, fugia para ali, vida e obra complicada! Pensando bem era o chefe que o tinha seleccionado, em última análise era o primeiro culpado, por outro lado, sendo este o responsável pela tutela, era dever de não implicar o colega, que saberia melhor pronunciar-se sobre o assunto, mas isso estaria fora de causa.
A perseguição era dirigida a um alvo certo!
Sem ouvir, o tal Afim decretou o ter de assistir os sócios do sector, de imediato. O João Moisés recusou, então quando devia subir, descia de cavalo a burro?
Jamais! A brincadeira chegara tão longe!
A recusa sortiu efeito, pelo menos para o Moiteirim e consequentemente para o Merilim.
Castigo de dois dias de suspensão, mas a prazo, quando mais convinha aos serviços!
- Ordem emanada do chefe de pessoal!
“Democraticamente”, Moiteirim convocou-o para uma audição. Evidentemente uma ideia patética, só podia esbarrar numa negativa.
- Aplicava sanção, só depois ouvia razões!
Os deuses deviam estar loucos!
Havia tempos João Moisés tinha sido convidado pelo próprio administrador de outra empresa, a funcionar na mesma rua, não dissera sim nem nim. Nos dias de suspensão descansou tranquilo e pensou a melhor maneira de partir para outra.
Concluiu que devia verificar se o convite ainda esperava. Ao ver que sim aceito-o.
Chegado ao Circulo de Leitores, depois da forçada travessia desértica, pediu ao pagador para ser o primeiro a receber. Este bastante amigo, com o seu sorriso malicioso assentiu.
Assim que foi recebido o ordenado, sem mais, disse adeus!...
No mesmo dia, foi escrita uma carta à administração, alegando justa causa, explicando porquê e pedindo contas do que achava ser-lhe devido.
Ninguém teve a coragem de responder, mas a desonesta, a cobarde perseguição acabaria!
Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA
sábado, 22 de novembro de 2008
Num sonho louco
Guerreiros da história
A todos recordei um pouco
Neros, Napoleões
Também a escória
Vem depois à memória
Viriatos e Sertórios
Mais os bravos navegadores
Esses lusitanos
Ao traçarem novo mundo
Deram volta à história
Os seus feitos anotados
Em versos cantados
Por muitos de pena armados
Vem depois um épico
Chamado Luís Vaz de Camões
Viajando por China e Índias
Numa gigantesca epopeia
Diz ter sido mordido por sereia
Gravou em letra doirada
Indelével e eternamente
O nome da Pátria amada
Pobre feneceu
Evocado em estátuas de bronze
Em eternos pedestais
Parece sempre dizer
Portugueses:
- Aqui estou eu!
Daniel Costa
NOTA À MARGEM:
Ontem, 21/11/2008, fazendo parte do grupo daniel milagre, foi inaugurado tejonorte. Dele farão parte uma série de artigos (capítulos) sob o nome genérico, precisamente, “TEJO NORTE”. Começaram a sair no “Jornal da Amadora”, e constituirão uma novela policial, que vai sendo escrita.
Especialmente para os amigos do Brasil convém informar, que a Amadora é uma cidade junto a Lisboa.
Convido a uma visita.
D.C.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Ainda vivo sonhado,
Que cada cidadão
Será um espião
Vou tomar cautela
Com a espionagem
Essa aragem
Que chega a qualquer ponto
Até num encontro
Com a donzela
Não se dá por ela
Mas pode ser arvela
A dar a espiadela
Servindo o patrão
Com vista à solução
De sanar mazela.
A espiadela é palavra mansa
É capa de insignificância
De qualquer ordenança
Que satisfaz vingança
Mesmo sem esperar herdar
Assento naquele lugar
Outro o irá alcançar
Manda-o espiar
E para o recompensar
Põe outro no seu lugar
Mas serei eu espião
Pela simples razão
De ser cidadão?
Oh! Mundo trapalhão!...
M.F. (iniciais do pseudónimo de Daniel Costa) –
in extinto “ Jornal do Oeste”, de Rio Maior em 8/2/1975.
domingo, 16 de novembro de 2008
Uma empresa pequena ou grande, capitais nacionais ou estrangeiros, visará sempre o lucro, mas terá de ter em conta a elevação da sociedade onde se insere. Isso sairá de dentro para fora, com a valorização do seu capital humano.
Deverá também ter em conta esse objectivo, estimulado com iniciativas empresariais, até com departamento próprio, destinado a criar iniciativas de incentivo. Nem é necessário os chefes ou directores de serviços possuírem coeficientes de inteligência elevados, para entenderem, que a promoção terá de partir do seio da unidade comercial.
Não estará tão distanciado o exemplo de Henri Ford, que proporcionou crédito a todos os empregados, afim de possuírem o automóvel da sua fábrica.
Fazia deles, os clientes por excelência, criando ao mesmo tempo motivo de orgulho, e vontade de seguidores, que por sua vez seriam animados e ficariam motivados, para serem novos clientes.
Era também uma eficaz forma de marketing, e as unidades portuguesas?
Os pensamentos de João Moisés divagavam e navegavam, por este e outros exemplos de visão empresarial. Mostrara-se já homem de estrutura mental para os assimilar.
Podia abrir as mãos e mostrar, como se fazia e devia ser, o motivo da confusão que perpassava nos espíritos de superiores, que iam aproveitando a experiência do jovem. Apenas mostravam que sabiam fingir que pensavam, nada mais!
Como eram incapazes de mostrar, valor inerente aos cargos que ocupavam, preocupavam-se em procurar alinhamentos mentais, à sua altura.
Foi assim que, João Moisés começou a sentir uma tenaz perseguição, algo inconcebível, porque nem sequer era aberta, já que o Administrador catalão senhor Esteve, o trazia de olho e destinava a promoção.
Mas eis o que o homem que viera para Lisboa erguer, o que já estava encaminhado para ser um grande colosso empresarial, foi chamado a gerir outro projecto.
Assim, a perseguição logo se fez mais notada.
Coitados!...
Sabiam fazer de fingidores, não gestores!...
Uma certa perseguição andava já no ar, faltava a coragem de a fazer abertamente. Então quem, era por exemplo, o alto chefe mais directo? Onde estava a rectidão e o poder da democracia que apregoava, quando a palavra não passando de fazer parte de uma frase feita, era quase tabu, dos tempos e do regime vigente?
Pois o Moiteirim, apenas tinha entrado no loby do Merilim, que trouxera alguns colegas, naturalmente fascinados pelo seu poder de conversação, pela elegância pessoal, pela facilidade com que este manipularia pessoalmente o seu mundo, um fácil e conveniente modo de gerir, sem ter de pensar.
Incapaz de ter pensamento próprio, Moiteirim possivelmente teria cedido em holocausto, a cabeça de João Moisés, realmente, talvez fossem necessários dois para o irem derrubando lentamente.
Este, um dia contra o habitual, interferiu no nas suas marcações de contactos externos com agentes de tutela, porque era necessário ficar à disposição, para esclarecer pormenores sobre os sectores formados, a quem precisava de utilizar essa mecânica.
Parecia uma música, porque se via logo não ser necessário, nem para adormecer!
Passava-se algo estranho, porque um dia sem contactar agentes interferia muito no eficaz cumprimento de objectivos, os quais consistiam em prémios maiores ou menores, baseados no coeficiente de vendas, esses seriam uma contrapartida pelo tempo extra de trabalho.
Havia isenção de horário, com contrapartida baseada neles e mesmo assim o sindicato, mesmo fascista, não aceitava que, para o caso, os ordenados não sofressem aumento fixo. Estava ali mais uma pura violação, perpetuada na incompetência, tanto mais que os prémios, por objectivos, também lhe eram favoráveis e o João Moisés gostava do que fazia e com os seus métodos pessoais, estava a conseguir êxito.
De qualquer modo, nunca deixara de funcionar o próprio espírito e o jeito de investigar.
E, esse passara a aplicação, sentindo ele próprio agora a necessidade de o utilizar e passara a haver muitos indícios.
Mas porque havia a lacuna das chefias, diria a incapacidade de fazer implementar as contas e mandar, aquele rebelde a outra freguesia?
Mistério, incompetência, ou o homem seria imprescindível?
De facto os Moiterins, os Merilins e os Afins, eram uma cambada de idiotas, sem saberem valsar!
Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Vou contar um segredo
Sentia frémito, suave vibração
Quando fui guardador de patos
Com a manada ia para o Val Medo
Ninhadas do tipo marrecos *
A mãe sempre criava
Em procura no ciclo da carôcha **
Do guardador porfiava
Na imensidão do campo
Guardar agradava
O mar em frente
No princípio do Verão
Os patos deglutiam o molusco
Com sofreguidão
O pastor olhava patos e vastidão
Podia entregar-se às nostalgias
Muito comuns então
Sonhava com outro mundo
O eterno desconhecido
Seria melhor de antemão
Aquele não o sentia cruel, não
Seria como um universo de papel
Ali andavam os patos
Não se cansavam
Sempre direitinhos
Engordavam como calmos gaiatos
Pareciam gostar da gamela
Muito juntinhos
Não precisavam de trela
Até que valiam vinte paus
Comprava-os o regateiro ***
O que, na sua carroça
Aparecia primeiro
O guardador ainda criança
Saberia ser feliz…
Agora, talvez um bom petiz!...
Daniel Costa
NOTAS:
* Raça de patos comuns
** Chama-se assim à caracoleta no concelho de Peniche
*** Corresponderia ao almocreve
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
COISAS DA VIDA
Trago aqui uma das minhas figuras inesquecíveis, que reparo, ao longo da caminhada foram muitas, se bem que para as considerar assim, apresentaram um grande humanismo, a par de outros valores que mostraram.
Neste caso esteve o jornalista Acácio Barradas, falecido no próximo passado dia 26/l0/2008.
Por uma vida, demasiado absorvente, da minha parte, confesso não lhe ter prestado a atenção que me merecia.
Vi-o pela última vez, a falar para a RTP, num dos programas da série, sobre a Guerra do Ultramar, em que falou sobre Angola, onde de facto tinha trabalhado, como jornalista.
Por 1973, trabalhava no extinto jornal “Diário Popular” e ao mesmo tempo dirigia a revista “Rádio & Televisão”, propriedade da mesma empresa do jornal.
A capa era feita a cores, o que motivava, não ser executada nas oficinas do jornal. Era-o então na empresa, onde trabalhava. Todas Sextas-Feiras, cabia-me apresentar ao Director, para recolher fotografias e outros elementos.
A visita dava-se à tardinha, na mesma hora, em que devia acabar a reunião de agenda, para a feitura do número da semana seguinte. Acontecia por vezes, a mesma ainda não ter começado, era normal dizer que voltaria depois.
Assim procedia, até que um dia Acácio Barradas, olhou-me de frente, mirando os presentes, onde se encontravam nomes, hoje sonantes, das letras e disse: “o Daniel é da casa, deve sentar-se e assistir ás reuniões”.
As fotografias a cores raramente estavam prontas, quando acabavam as reuniões. Enquanto as esperava, fui conhecendo, internamente, todos os mecanismos do jornal, desde oficinas, sala de trabalho dos jornalistas, câmaras escuras (onde se revelam fotografias) a impressionante sala dos telex, com estes ininterruptamente a matraqueando a sós, recebendo notícias de todo o mundo e por fim a própria expedição do jornal,
Foco um episódio a que assisti: tinha-se sido eleição da miss Portugal, muita matéria específica, para a revista.
Ao telefone com Vera Lagoa, que coordenava, sobre algo que envolvia noticiário, havia complicação por problema com Ramiro Valadão, o então, director poderoso da RTP:
- Acácio Barradas:
Quero que o Ramiro Valadão se “F”…
Repare-se: era antes da Revolução, no fim olhei-o, este percebeu:
- Que queres? Para conseguir o que se pretende, no próprio interesse deles, por vezes é necessário ser bruto. Verás que assim consigo! Vê tu que a Vera ainda me disse:
- Ai Acácio!...
Em Janeiro de 1974, dada a escassez de papel, devido ao boicote internacional, que estava a ser feito, ao Governo de Marcelo Caetano, tinha havido necessidade de reduzir páginas do jornal.
Várias rubricas foram omitidas, necessariamente. Uma delas era a secção “Filatelia” de Sábado, conduzida por Costa Júnior. Porém, o Acácio Barradas sabia de andar a trabalhar nela. Sem qualquer intenção dei-lhe conta da saída, no mesmo momento agarrou no telefone, do qual falou com o Costa Júnior, disse:
- “Meu caro, saiu a revista “Franquia”, esta semana tens de fazer a tua secção “Filatelia” e editar texto a propósito”.
Não é que saiu?...
Acácio Barradas, que faleceu com 72 anos, depois de passar pelo “Dário de Notícias”, ainda colaborava no “JL – JORNAL DE LETRAS, ARTES E IDEIAS”.
Um artigo seu, do número de 17 a 23 de Setembro noticiava a morte de um amigo comum, João Leitão, que falecera repentinamente, estando em gozo de féria no Algarve.
Coisas da vida!...
Daniel Costa
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
LISBOA CAFÉ - 24
Da Pascoal de Melo, as instalações do que em pouco se transformara em grandiosa empresa, esta mudou para um novo prédio na Rua Tomás de Figueiredo, em Benfica, junto do Bairro de Santa Cruz, como se fizesse parte do mesmo.
As instalações consistiam na parte baixa do grande prédio, a parte que se destinariam, a partir da construção, talvez licenciadas para ser oficina de automóveis e talvez garagem para recolhas afins, mas o que não pode ser transformado em Portugal? Tratando-se de uma grande empresa, como já o era o Circulo!...
Até às novas instalações, seria difícil verificar o quanto a empresa estava em crescimento, espalhava-se por mais do um dos andares e não se podia ter uma visão geral das proporções, que cresciam dia a dia.
Em Benfica havia só uma sala, um grandioso espaço, para funcionamento dos escritórios. A decoração ia revelando-se simples, moderna, criada a propósito e adequada à funcionalidade.
João Moisés, como conhecia o sítio, viera cair ali como num mundo encantado e quando não se ausentava por serviços externos, nas horas da refeição acabava por ser o cicerone de serviço, para indicar e recomendar restaurantes na zona.
Um assíduo companheiro era o Zé, que embora o tenha definitivamente adoptado como émulo, ao mesmo tempo era um amigo e um bom camarada e comparsa.
Com uma certa mania de intelectual e muito dado a leituras, de que fazia parte o esporádico uso de cachimbo, era mais um acto de intenção que estimularia o Zé.
Então este um dia apareceu também armado dessa interessante peça, que certos fumadores gostam de usar. Fumando a sua cachimbada, foi insinuando e exibindo o cachimbo, com três cortes de faca e atirou propositadamente:
- Sabes o porquê destas marcas?
- Atónito, o interlocutor ouviu o que não se fez esperar: cada vez que vou tendo o prazer de estar com uma miúda e fico com a certeza que vesti a camisola amarela, assinalo aqui e repara que o vou conseguindo e tu como é que sabes?
- Possivelmente, nunca terás conhecido tão inebriante prazer!...
Havia testemunhas e acabou tudo de taxa arreganhada, com esta novidade.
Convém esclarecer, que embora não muito distantes os tempos, ainda não tinha sido atingida a liberdade sexual e essa consumação na noite de núpcias era então o supremo acontecimento.
Um dia entrou ali uma nova empregada, jóia mesmo, embora não fosse, nem de longe aquela mulher matadora e insinuante, era um amor. O Zé logo se enlevou e fez a conquista, ambos sempre juntos para o almoço e como no fundo era amigo de João Moisés, este foi sempre companheiro e a garota seguia-o, por vontade própria ia revelando também amizade e companheirismo.
O ambiente, tornava-se extremamente agradável, enquanto pairava algo a intrigar o espírito de João Moisés, algo não muito bom, que o fazia reflectir, cismando o porquê, já que a qualidade de trabalho estava a dar nas vistas ao próprio administrador, o catalão José Maria Esteve, que já o tinha proclamado em reunião de chefias, confidenciado por alguém presente.
De facto o João já tinha transformado toda a Lisboa em sectores de trabalho, que tinha agradado ao ponto de já ter sido convidado a ir uns tempos para a cidade do Porto, proceder ao mesmo indispensável, para uma distribuição eficaz dos agentes de tutela.
Depois de ser avisado, que a hipótese Porto estava abortada, um alívio que retirava o sentimento de ser obrigado, por dever, a cumprir um desígnio de chefias.
Entretanto, foi convocado, durante dois dias a fazer testes, numa empresa exterior com vista a uma subida. No fim dos mesmos o examinador, perguntara:
- Estando um novo lugar à espera, tem a noção de qual?
O que sabia era confidencial, pelo que apenas respondeu, calcular e o examinador, em jeito de conversa amigável e animada:
- Muito bem, apresento os meus parabéns!...
Dias passados o chefe disse:
- Afinal o resultado foi, que se perderia um elemento eficaz, nos serviços comerciais!
Inacreditável!... Podia provar-se o inacreditável, por trabalho anterior e por outros testes de resultados extremamente positivos, o novo serviço seria adequado!
Foi aí que, interiormente João Moisés intuiu, ainda por outros pequenos indícios, que estava formada uma cabala, um loby, objectivamente, com destino a uma perseguição encapotada mas feroz.
Assunto a ser mais pensado, para tomar as previdências adequadas.
Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA – 2008
sábado, 8 de novembro de 2008
POEMA AREIA BRANCA
Chamou-se praia da Charrua
Quando a povoação estava nua
Depois Areia Branca
Sazonalmente ali trabalhei
Não devia dizer eu sei
Serventia a pedreiros dei
As primeiras paixonetas
Um pouco a vida ali amei
Olhava a passagem de miúdas
Vinha a sopeirita fardada e bonita
Também a sopeira matrafona
Ares de Dona
Nada de beleza
De observação em observação
Belo tempo de Verão!...
Naquele o Vigia foi erguido
Lá estava ele, entre a terra e mar
Em jeito de vigiar areias
Mulheres bonitas e feias
Diria democrata
Reservado a gente de gravata
Jogava e se divertia
Confraternizava e a noite vivia
As marés e praia vigiavam de dia
Ali amei e deixei amores
Trabalhei e vivi meus senhores!
Daniel Costa
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
POEMA VÍCIOS
Apelidar de desperdícios
Todas as actividades
Relacionadas com vícios
Fumar, comer ou bebericar
Jogar, muitos outros tentar
Dir-se-á que são tiques
Os vícios serão de experimentar
Ver e aprender estará bem
Desde que não se passe o limiar
Passar o patamar será doce
Mas causa danos de arrepiar
Por exemplo, se drogar
Causará incompatibilidades
Com terceiros, que a notar
Sofrendo serão os primeiros
Ao prazer
Vícios podem suceder
Quem se vicia, arrisca-se
Prematuramente a perecer
Quem gostar de viver
Terá de procurar outro prazer
Deixar o vício tomar poder
É achar-se forte, mandão
Afinal prepotente,
Doente então
Deixou que o vício o domasse
Na sua vida entrasse
Qual sereia, que atrai e enleia
Transforma
Na sua própria teia
Contra o vício, sejamos fortes
Não é, o danado, a doce Hermengarda
É como demónio de espada
Denodadamente içada
Daniel Costa
terça-feira, 4 de novembro de 2008
LISBOA CAFÉ - 23
O João Moisés estava de facto a viver e a colaborar com entusiasmo no crescimento de uma empresa editora de uma grandeza insuspeita, efectivamente.
De primeiro a entrar, destinado a serviços externos de tutela, a controlar agentes de vendas em tempos livres, ia assistindo à entrada de outros colegas directos de trabalho. Entretanto o primeiro consistiu na divisão da cidade de Lisboa em sectores. Cada um ia pertencer a um agente, de preferência a morar no mesmo, um trabalho muito interessante. Tudo ficava anotado na fixa respectiva: nome de rua especialmente, que era percorrida de carro e a pé, a procurar que tudo ficasse muito claro, para quem quer que necessitasse de a utilizar.
Isto acarretou um conhecimento profundo da cidade, o que era extremamente agradável, para quem tanto gostava da mesma. Ainda os sectores não estavam todos prontos, enquanto já eram seleccionados colaboradores externos de vendas, que por sua vez, começavam a fazer uma rápida formação, com acompanhamento até junto dos primeiros sócios. Enfim contactos e um trabalho aliciante.
Depois entrou novo inspector de tutela, mais outro, a seguir mais. O Circulo de Leitores crescia imenso e em toda a linha. Por força entrava muita gente e dos vários quadrantes, para todos os sectores.
Um dia entrou o Zé, para destinou-se a serviços de contabilização, tudo o que dizia respeito a entregas e vendas aos funcionários externos. Depressa elegeu o João Moisés como seu émulo, não havia explicação para o caso, pois era um bom e competente camarada.
O primeiro motivo interessante que matinalmente trazia sob observação era um pedaço de mulher, que se vinha exibir sem roupas, de janela aberta e sem cortinas, frente ao espelho a maquilhar-se. Um dia veio à sala do colega e amigo, que tinha elegido como rival, mostrou o “achado” dizendo:
- Onde e quando descobriste borrachos destes para observar: De facto o panorama descoberto pelo Zé, na janela fronteiriça era digno de se ver, um “voyeur” não encontraria maior deleite.
Chegara-se, dia para dia a um desenvolvimento cada vez mais rápido, recrutavam-se muitos agentes locais, que depois da formação, equacionariam melhor o tempo extra a despender, com a nova ocupação e concluiriam ser demasiado, ou que o trabalho não se adequaria às suas capacidades e apresentavam escusa. Além de que o crescimento estaria a ultrapassar previsões, por muito optimistas que fossem.
Havia sócios, que tendo dito sim na promoção, depois não confirmavam, com o envio de carta para a empresa, havia os provenientes da promoção amizade, desgarrados dos sítios já preenchidos a com o seu agente, porque aí ainda não tinham chegado os ventos da nova e eficaz promoção.
A esses era necessário ser um delegado a passar e dar assistência.
Um dia, os noticiários, tratavam do inédito, de facto, um assalto a um banco em Campolide. Não contando o “assalto” ao banco na Figueira da Foz, por Palma Inácio, que mais tarde foi dado como político, era o primeiro feito a uma agência bancária no país.
Vendo os contornos, só podia ter sido levado a efeito por alguém sem a “preparação” adequada, que apenas utilizou o efeito surpresa e João Moisés logo disse: fizeram tão ingenuamente o trabalhinho, que a judiciária depressa resolverá a questão, eu próprio em poucos dias descobriria toda a trama. O amigo Zé, sempre do outro lado, nem pensou e saltou, lá estás tu, resolvias logo e pronto!...
O facto é que passados poucos dias se sabia que a “obra”, seria (?) uma experiência de dois estudantes, que já tinham sido identificados, apanhados e presos.
O interessante da questão é que os dois rapazes, estando hospedados na mesma casa, duma rua do chamado Bairro do Actores, por os arruamentos terem todos a sua toponímica dedicada a essas relevantes figuras, sem o saber ao certo, o João Moisés, em serviço da empresa, tocou a campainha da porta.
A locatária, saturada de atender jornalistas, que ali se apresentavam, ou por telefone, escusava-se a contactos, mas falou de dentro, ouvindo do que se tratava, ficou muito curioso e interessado em saber mais. Conseguiu refinar a sua maneira de fazer relações públicas até que a senhora acabou por abrir a porta e desabafar.
Era outra no fim, tinha dito o que se lhe acumulara na alma, o medo deu lugar a uma pessoa de índole extremamente interessante e interessada e João Moisés cheio de contentamento, pelo que achava ter feito um bom trabalho, pois levara a confirmação assinada, tinha acabado de nascer uma sócia!
Do rápido florescimento resultou, as instalações da Pascoal de Melo em breve terem-se tornado exíguas. O armazém de livros nascera em Benfica e para o mesmo edifício transitou toda a empresa, outra amplitude, mais espaço e melhores condições de laboração!
Daniel Costa - in JORNAL DA AMADORA - 28/02/2008.
sábado, 1 de novembro de 2008
POEMA AVENTURA
AVENTURA
A vida é aventura
É-o mesmo que seja
Extremamente dura
A minha se bem contada
Faria chorar
As pedrinhas da calçada
Quiçá o átomo
Mas que nada
Olhemos com optimismo
A sempre fiel amada
Esquecer, não resulta
Equacionar tormentos, sem fim
Resultaria muito ruim
Falo das boas recordações
Dirão muitos:
Mundos de ilusões!...
Falar só em jeito de aventura
Da vida, é atitude segura
Pressupõe optimismo de puritano
Brinquedos, digo em segredo
Só os que fabriquei – aventura!...
Hortas e árvores
As que semeei e plantei
De cereal, confesso que sei
Em enologia total trabalhei
Por fim de sol a sol
Ceifando a jorna ganhei
Tentar perseguir
Alguém ainda cavador
Devia ser vergonha
Dos prepotentes senhores
No Circulo de leitores
Mais audácia e arrogância
Deveriam ter quando expulsos
Prepotentes, que podiam fazer?
Trabalhassem com lisura
Muito tinham de aprender
Deveriam ter sido subservientes!...
Jamais necessitaria de dizer sim
A prepotentes
Nada de hombridade
Criaram ambientes
Pior que masmorras da PIDE
Devem!…
Nunca responderam porquês
Podem, continuar a ser prepotentes!
Oh Zeus!...
Mais uma aventura adeus
Sei trabalhar, Há mais a fazer
Outra aventura
Encontrarei outros ateus!।
Daniel Costa
NOTA: Fernando Pessoa escreveu isto (cito do cor): “Não há empregados maus, há é empresas que têm empregados maus.”