MEMORIAL A ROUSSADO PINTO
Recordar o passado não é viver apegado somente a más memórias se, se tiver uma mente optimista, tendo em conta que prestar a devida homenagem a quem merece ser lembrado, pelo espírito empreendedor e aberto, pode ser ainda uma maneira de encarar a vida pelo lado positivo, mesmo pensando em alguém, com quem chegámos a conviver com admiração, mesmo em momentos fugazes, e que deixou de pertencer a este mundo, como é o caso de José Augusto Roussado Pinto, finado em 03/03/1986, já vão 22 anos.
Fazia o favor de ser um bom amigo, segundo expressam alguns livros da sua autoria que me fez chegar com significativas dedicatórias.
Profícuo jornalista e autor multifacetado, incansável elaborou e dirigiu durante vários anos, o que considero a sua maior obra, o "JORNAL DO INCRÍVEL", que muitos ainda recordarão. O semanário sempre me foi amavelmente remetido até ao número 278, edição de 9 a 16 de Março de 1985. Aquele número tinha já a direcção da sua filha Zaida Roussado Pinto, dava conta da morte do seu criador aos 58 anos.
Nessa edição vinha reproduzida a última maqueta do finado Director, que quase sozinho dava semanalmente conta do hérculo trabalho de pôr de pé um periódico da envergadura de um "INCRÍVEL".
Há também a destacar "JORNAL DA SEXOLOGIA", figurando como Directora a sua filha, porém era visível a concepção e a criatividade de Roussado Pinto. Foram sempre saindo outras realizações, no campo literário, sobretudo Policiais, revistas de fotonovelas, contos vários, autoria de textos de Banda Desenhada, etc.
Sabendo-se que usou dezenas de pseudónimos, em livros Policias, "Westerns", Espionagem, Amor, Aventura, segundo me foi afirmado, de viva voz, pelo que seria sempre difícil proceder à contabilização.
Trabalhou em vários jornais, como o "DIÁRIO ILUSTRADO", que existiu há várias décadas, de cujas reportagens concebeu livros como "EU FUI VAGABUNDO" e outros, com assinatura própria ou "A CABEÇA DA OUTROS", uma interessante compilação de pensamentos de vários escritores e até de anónimos, assinado com o pseudónimo de Steve Hill. Estes livros foram editados, pela Portugal Press, situada na Rua Coelho da Rocha, 28 em Lisboa, de que era sócio, creio que com todos os poderes.
Revistas de fotonovelas como "CARÍCIA" ou "IDÍLIO" em que utilizou um pseudónimo, que se tornou muito comum, de Edgar Caygil. Curiosamente privei com várias personagens, antes e depois da existência dos títulos, até com o muito conceituado fotógrafo, J. Nunes Correia, falecido em aparatoso desastre ao serviço da extinta revista "FLAMA".
Publicações, em edição da Palirex, Rua Padre Francisco, 14 em Lisboa, de que também fez parte, compondo um trio de associados, todos com poderes administrativos.
O pseudónimo de Ross Pynn, talvez tenha sido o que mais utilizou, nas suas inúmeras produções.
Também foi incansável como autor e cronista de Banda Desenhada, como " O PLUTO", "MUNDO DE AVENTURAS", "TITÃ" e outros onde teve como companheiro um criador de desenhos, da envergadura de Victor Peón, com quem vim a falar já depois da Revolução de Abril, no seu regresso a Portugal, outra morte prematura.
Roussado Pinto, assim como se dedicou a várias compilações, editou bastantes romances Policiais, curiosamente muitas vezes, com cenários da América, assinado com nomes a dar a ideia de um americano, nato conhecedor daquele país, deixando assim a impressão de se movimentar naqueles meios. De facto o autor nunca terá visitado aquele Continente, disse-me um dia que inventava e imaginava os locais com as suas habituais leituras.
No entanto como tenho predilecção por romances Policias, desfolhei alguns assinados com nomes americanos, sempre conhecia quando eram daquele autor. Até sabia que em ocasiões de produzir mais um volume, era muito capaz de se isolar, um fim-de-semana, num qualquer hotel algures e saia a produção.
Da saudosa memória foi a revista "SELECÇÕES MISTÉRIO", de que foram publicadas nove números, onde Roussado Pinto colaborou quase sempre com contos Policiais inéditos, que me era dado ler como toda a revista, publicação do também incansável Lima Rodrigues, que me convidou a participar, portanto vim a receber toda a edição, depois de enviar as minhas produções para um jornal que ele havia adquirido, no entanto fui apanhado em altura de estar a sustentar a criação da minha própria revista o que me privou de alinhar com parceiros de valor dos que ali pontuavam.
No número seis de Novembro de 1981 foi publicada a realização de uma festa homenagem, mais que devida a José Augusto Roussado Pinto. Teve lugar num restaurante de Santarém, reunindo cerca de cento e cinquenta amigos que quiseram preitear-lhe a grande admiração, entre eles contavam-se nomes como o de Artur Varatojo, recentemente falecido, já com oitenta e um anos, Lima Rodrigues e muitos outros, nomeadamente vários policiaristas.
Foi apresentada uma exposição de trabalhos seus e entre vários discursos, assinalou-se o evento com a entrega ao homenageado, pelo seu neto, de uma salva de prata.
Sobre assuntos, sobretudo alguns dos muitos que abordava no seu jornal, cheguei a questioná-lo por os mesmos me parecerem ficção. A resposta era sempre igual, tudo o que ali era dito partia da veracidade. Mesmo tendo em conta o momento actual em que a ficção por vezes ultrapassa a realidade, tenho de equacionar a grande capacidade criadora ficcionista de que era detentor José Augusto Roussado Pinto.
A fatalidade chegou com a terceiro colapso, que se pode entender pelo grande apego à realização patenteada, que o levava a trabalhar muitas horas.
Pouco depois do segundo colapso do género, que o levou ao hospital em 1982, o primeiro ocorrera em 1975, casualmente encontrei-o nos Restauradores e falei-lhe pela última vez. Ali conversámos e como era bastante mais velho, além de focar o acidente que sofrera, achou por bem fazer-me recomendações sobre esse bem que é a saúde, parece que adivinhava porque o fazia. Concluo agora não ter sido por acaso, visto conhecer-me bem e de longa data.
Depois do segundo acidente voltou, com a "febre" que o caracterizava, ao "INCRÍVEL".
No seu mapa astrológico já devia estar inscrito o sinal a indicar o fim do grande trabalhador da arte pela escrita.
Daniel Costa - in "JORNAL DA AMADORA" - 23/11/2006.
sexta-feira, 27 de junho de 2008
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14 comentários:
Olá, Daniel!
Não sabe o gosto que leio seus textos.´Salutar é uma boa leitura. Bela descrição que fizeste do amigo , o que me levou a admirar seus feitos e a imaginar o grande potencial deste homem incomum.
Ótimo fim de semana, amigo Daniel!
Beijos
Texto difente, excelente, adoro tua escrita, obrigada por nos presentear com elas.
Bjs,
Cris
Oi Daniel,
Boa leitura.
Desejo um final de semana com muita paz.
Um beijo ☺
Interessante, Daniel!Essa leitura me provoca reflexões outras...
Olá, Daniel,
já sai do hospital e já fiz um post dedicadoa todos, em sinal de agradecimento. Apareça por lá.
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
não há ponto depois de www
Não precisa ler a úlima cena, é opcional.
Um beijo da nova amiga,
Renata
Oi Daniel. É sempre uma honra receber novas visitas em meu blog. Será sempre bem vindo por lá. Volte sempre.
=)
Sam
Como não fico indiferente, tenho de agradecer.
Já agora, pela convivência, penso que este homem terá entregue a vida à criatividade! Sem dúvida significou muito para mim!
Beijos, Daniel
Cris
E bons e benevolentes olhos, que o viram.
Agradeço.
Bjs. Daniel
Bandys
Tenho de agradecer e desejar, agora, boa semana.
Um beijo, Daniel
Vanuza
Afinal, a definição certa, reflezões!
Obrigado, Daniel
Renata
Folgo, porque afinal desejo que tudo bem.
Espero continuemos a ter ensejo do contacto.
Um beijo, de Lisboa, Daniel
Camila
Honra também por passares.
Voltarei,camaragem, acima de tudo!
Daniel
Conheci o nome de Roussado Pinto, bem como o Jornal do incrível.
É incrível as suas multifacetas que desconhecia totalmente.
Os grandes morrem novos.
Deixou um legado.
Que o preservem, como memória futura do profícuo que um ser pode ser.
Será que o preservam?
Espero que sim.
José Torres
O Roussado Pinto, conheci-o pesoalmente, por interagir com ele, começou por ser ídolo vivo. Depois deu-me a honra de ser um amigo do peito. Curiosamente era sócio da Editora Palirex, de que nada vejo, senão várias coisas interessantes do meu arquivo pessoal.
Depois fundou a Portugal Press. Aí visitei-o bastante, em serviço.
Penso que os filhos, um casal, dada a cumplidade manisfestada, devem estar a preservar a memória.
Porém na Net, Roussado Pinto e José Augusto Roussado Pinto, aparecem várias vezes.
De facto, foi multifacetado, e penso que "pagou" por isso mais cedo à irmã morte!
Daniel
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