ACÁCIO BARRADAS
Trago aqui uma das minhas figuras inesquecíveis, que reparo, ao longo da caminhada foram muitas, se bem que para as considerar assim, apresentaram um grande humanismo, a par de outros valores que mostraram.
Neste caso esteve o jornalista Acácio Barradas, falecido no próximo passado dia 26/l0/2008.
Por uma vida, demasiado absorvente, da minha parte, confesso não lhe ter prestado a atenção que me merecia.
Vi-o pela última vez, a falar para a RTP, num dos programas da série, sobre a Guerra do Ultramar, em que falou sobre Angola, onde de facto tinha trabalhado, como jornalista.
Por 1973, trabalhava no extinto jornal “Diário Popular” e ao mesmo tempo dirigia a revista “Rádio & Televisão”, propriedade da mesma empresa do jornal.
A capa era feita a cores, o que motivava, não ser executada nas oficinas do jornal. Era-o então na empresa, onde trabalhava. Todas Sextas-Feiras, cabia-me apresentar ao Director, para recolher fotografias e outros elementos.
A visita dava-se à tardinha, na mesma hora, em que devia acabar a reunião de agenda, para a feitura do número da semana seguinte. Acontecia por vezes, a mesma ainda não ter começado, era normal dizer que voltaria depois.
Assim procedia, até que um dia Acácio Barradas, olhou-me de frente, mirando os presentes, onde se encontravam nomes, hoje sonantes, das letras e disse: “o Daniel é da casa, deve sentar-se e assistir ás reuniões”.
As fotografias a cores raramente estavam prontas, quando acabavam as reuniões. Enquanto as esperava, fui conhecendo, internamente, todos os mecanismos do jornal, desde oficinas, sala de trabalho dos jornalistas, câmaras escuras (onde se revelam fotografias) a impressionante sala dos telex, com estes ininterruptamente a matraqueando a sós, recebendo notícias de todo o mundo e por fim a própria expedição do jornal,
Foco um episódio a que assisti: tinha-se sido eleição da miss Portugal, muita matéria específica, para a revista.
Ao telefone com Vera Lagoa, que coordenava, sobre algo que envolvia noticiário, havia complicação por problema com Ramiro Valadão, o então, director poderoso da RTP:
- Acácio Barradas:
Quero que o Ramiro Valadão se “F”…
Repare-se: era antes da Revolução, no fim olhei-o, este percebeu:
- Que queres? Para conseguir o que se pretende, no próprio interesse deles, por vezes é necessário ser bruto. Verás que assim consigo! Vê tu que a Vera ainda me disse:
- Ai Acácio!...
Em Janeiro de 1974, dada a escassez de papel, devido ao boicote internacional, que estava a ser feito, ao Governo de Marcelo Caetano, havia escassez de papel, tinha havido necessidade de reduzir páginas do jornal.
Várias rubricas foram omitidas, necessariamente. Uma delas era a secção “Filatelia” de Sábado, conduzida por Costa Júnior. Porém, o Acácio Barradas sabia de andar a trabalhar nela. Sem qualquer intenção dei-lhe conta da saída, no mesmo momento agarrou no telefone, do qual falou com o Costa Júnior, disse:
- “Meu caro, saiu a revista “Franquia”, esta semana tens de fazer a tua secção “Filatelia” e editar texto a propósito”.
Não é que saiu?...
Acácio Barradas, que faleceu com 72 anos, depois de passar pelo “Dário de Notícias”, ainda colaborava no “JL – JORNAL DE LETRAS, ARTES E IDEIAS”.
Um artigo seu, do número de 17 a 23 de Setembro noticiava a morte de um amigo comum, João Leitão, que falecera repentinamente, estando em gozo de féria no Algarve.
Coisas da vida!...
Daniel Costa
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
13 comentários:
Daniel,
Pena é, quando alguém parte, principalmente aqueles amigos com quem trabalhámos ou acompanhámos durante a nossa vida.
Grata homenagem apresentas, com este episódio a este amigo jornalista .
Abraço
*
penso
que o 25, aparece com
acãcio barradas, como
director do Dia, ou não ?
,
um abraço
,
*
Bonito gesto o seu de fazer um post em memória ao amigo que já não está aqui. Fiquei comovida.
Daniel, fiz postagem. Apareça.
Um beijo e nada de tristezas,
Renata
Triste o que escreveu, Daniel.
Mas vá ao meu blog hoje. Vamos dar um jeito nisso.
Um beijo,
Lucienne
Daniel,
bonita esta sua homenagem a Acácio Barradas.
Obrigada por partilhar estas suas memórias,,, todos-esses-nomes ...
a sua "integração" no seio das reuniões dos corpos gerentes... a descrição dos meandros da feitura do jornal... a câmara-escura, lembrou-me um sítio que adorei visitar neste verão, "casa museu Carlos Relvas"...o "templo da fotografia" :)
é um gosto vir aqui.
obrigada p'las palavras deixadas.
um resto de boa semana
e um sorriso :)
mariam
ah!aquele percurso fotográfico, corresponde na íntegra ao que que realmente faço todos-os-dias...por opção, apenas mudam as tonalidades, consoante as Estações :)
E, também adoro Lisboa! principalmente o Chiado :)
Amigo
Daniel...
Seu post esta forte e triste amigo
cheios de lembranças, saudades... também ouve alegrias... enfim uma homenagem linda...
hoje a amiga
na anda bem:(
mas obrigada meu querido
pelo carinho deixado lá no meu cantinho
abraços com admiração
ao amigo
sua rosa amiga
Iana!!!
Daniel:
Tem postagens novas.
Estou te esperando.
Beijos,
Lucienne
Coisas da vida que doem, que lembram que mexem connosco nos momentos de saudade e de lembranças como estas...
Um abraço fraterno, da, laura..
Passei para deixar um beijo!!!!
Caro Daniel,
Gosto de ler suas memórias sempre recheadas de sensibilidade...
Bela homenagem ao amigo que se foi.
Obrigada pela visita e gentis palavras.
Deixo meu abraço com admiração.
Olá, Daniel!!
É sempre um prazer ler seus textos. Linda a homenagem prestada ao amigo q partiu.
No comentário q vc deixou no meu blog "Diárioa das crianças", vc comentou q fez um diário quando trabalhou em Angola. Tenho amigos q moraram lá. É impressionate o amor deles por aquele povo sofrido.
P.S. Desculpe por não ter respondido seu comentário antes. Voltei a lecionar e meu tempo está muito curto. Mas já estou me organizando melhor e vou reservar um tempinho pra visitar meus blogs preferidos e fazer minhas postagens t.
Um grande abraço.
Oie lindo! Muitas vezes vivemos lado a lado com alguém e não lhe damos a atenção devida, porque a correria, nos deixa cegos e quando vão para o outro lado, é que vamos nos dar conta disso. Mas ficam as boas lembranças, a saudade...
Bom fim de semana! Beijos
Li a notícia da sua morte.
Não conhecia nada do seu passado.
O que soube foi o que a imprensa divulgou, (li pouco sobre ele.
Chegamos a uma idade que começamos a ver partir quem esteve próximo ... por um lado é bom ver partir, sinal de que continuamos vivos.
Penso assim e não mudo ...
Chega "um dia" a todos
Enviar um comentário