sexta-feira, 11 de julho de 2008

LISBOA CAFÉ - 3

AVENIDA DA LIBERDADE

Nos ano de l994 e parte do 1965, Lisboa de João Moisés, não passava muito do Bairro da Graça onde vivia, da Avenida da Liberdade, que subia diariamente, por ser o local de trabalho e da zona da Praça do Chile, onde em dois locais distintas, fazia os seus estudos.
Ao fim e ao cabo, parecia não ser existência muito auspiciosa, embora tudo corresse sobre rodas, porque ainda no primeiro ano e perto do local de trabalho, o Teatro D. Maria II sofreu um grande incêndio. Estava com representações de peças teatrais, da programação da grande actriz Amélia Rey Colaço, que passou a trabalhar no então Teatro Avenida. A reconstrução veio a durar até 1978, altura em que reabriu as suas portas.
Não obstante, a vida continuava, o espaço comercial da Rua da Portas de Santo Antão era frequentado, durante o período da tarde, por todo o tipo de pessoas, entre outros um vendedor ambulante de gravatas, cuja montra consistia numa tábua dependurada ao pescoço com as ditas à vista, um senhor forte, de certa idade a quem muitos encomendavam um tipo de bisnaga de creme de barbear, um indivíduo que fora jogador de futebol do Barreirense, durante anos a militar na primeira divisão, um cromo oriundo de famílias abastadas, que o exército expulsara com o posto de capitão, uma verdadeira chaminé fumante, que chegara ao limiar da pelintrice. Para fazer durar alguns trocos oferecidos por amigos, em tempos de mais penúria usava cigarros Kentuky, a que com um certo toque de ironia, apelidava de Phillip Morris. Tabaco de importação e vedado a pobres, pelo preço proibitivo. Aquele custava apenas oitenta centavos por embalagem.
Davam ainda muito nas vistas, um empregado numa firma de distribuição de filmes, de passagem e permanência “obrigatória” à saída do trabalho, um arrumador de sala do cinema Éden, que passava a tomar ginja, antes de entrar no trabalho e era sempre atendido pelo encarregado, a quem deixava taxativamente cinquenta centavos de gorjeta, o que naquele tempo se poderia considerar elevada, para uma despesa de um escudo.
Também muitos empregados de estabelecimentos vizinhos faziam parte da frequência.
Durante um certo tempo, apareceu à noite um casalinho a consumir o licor Natal, a bebida da casa, de fabrico próprio. Davam bom ambiente, pois até metiam conversa o que sempre agradava, tratando-se de uma hora em que a clientela se ia desvanecendo.
Um dia porém, de certeza tinham gasto as últimas economias e fizeram a rábula do esquecimento da carteira. Estava presente, a fazer o lugar de chefia, o filho do dono da casa que, marcava sempre presença, para o fecho da mesma e de boa vontade assentiu que a conta fosse paga no dia seguinte.
Para aqueles clientes, não chegou a haver o dia depois, nem mais nenhum, deixaram de ser vistos definitivamente.
Os turistas eram em pouca quantidade, mas iam adquirindo ali os agradáveis licores, que a casa fabricava, em local próprio: Por vezes pediam para serem entregues no Hotel da sua estadia, normalmente um dos próximos.
Um dia coube a João Moisés fazer uma dessas entregas. A hospedagem era no grande Hotel Avenida, quase imediato, na grande artéria do lado oposto, no início da Praça dos Restauradores, Aí ficou a saber mais sobre o mesmo, tinha constituído um verdadeiro ninho de espiões da Segunda Guerra Mundial.
A sua abertura já datava de 1898, a privilegiada localização e ocupação prestava-se à recolha de todo o tipo de informações que, durante alguns anos interessavam os contendores dos dois blocos, que mantiveram a Europa a ferro e fogo, num conflito armado, sem paralelo ou antecedentes de tão grande belicismo.
Quem, como era o caso, estivesse atento á diferenciação que a grande sociedade humana produzia, a partir daí podia idealizar estudos dedutivos.
Aquela visita era o máximo!...
Realmente João Moisés, começava a ver mais do que, justificada a sua grande vontade de viver numa cidade de grandeza europeia, como Lisboa e lembrava-se muito do dito que antes ouvira:
- “Terras pequenas não fazem homens grandes”!...

Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA

27 comentários:

Lúcia Laborda disse...

Oie lindinho! Belas histórias de uma bela cidade! Mas um grande homem pode fazer e elevar muito o nome dessas pequenas cidades.
Bom fim de semana! Beijos

mariam [Maria Martins] disse...

estou a acompanhar e a gostar (muito) da estória do João Moisés...... fico à espera de novo capítulo

bom fim-de-semana
um sorriso :)

ah! a julgar p`los primeiros episódios... daria um bom filme (acho)

Menina do Rio disse...

Terras pequenas não fazem homens grandes... Profundo!

um beijo pra ti

Bandys disse...

Daniel,
Sempre leio seus comenatrios em resposta. E na verdade muita coisa eu não sei. Mas aqui tenho aprendido bastante.
beijos


COM MUITO CARINHO LHE DESEJO...°..°..°

°..°..°Que a cada amanhecer,°..°..°
°..°..°raios de sol penetrem em sua alma°..°..°
°..°..°enchendo-a de paz e da certeza°..°..°
°..°..°que a vida é feita sempre de Esperança !
°..°..°Pois a cada manhã temos a chance,°..°..°
°..°..°e a oportunidade de um recomeçar !°..°..°
°..°..°Que seus sonhos sejam realizados,°..°..°
°..°..°seus ideais sempre preservados°..°..°
°..°..°e um toc toc bata em sua porta°..°..°
°..°..°trazendo como o presente,°..°..°
°..°..° "A FELICIDADE!!!!" °..°..°
]...._.;_'.-._
...{`--..-.'_,}
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..........,-""-;\´´
......../....-'.).\\
........\,---'`...\\´ bjKAssss!!!

Laura disse...

Olá daniel...
Agora vejo porque o nosso Povo está sofrendo tanto! Terras pequenas não fazem homens grandes!...
Ora bolas, soubessemos isso há mais tempo, iriamos procurar os tais cá para o Norte!...ahhh estou a brincar.
Ontem foi lindo e sobraram duas fatias do bolico que mesmo fucando de baixa estatura (para não lhe chamar de meia leca) estava uma delicia...

Tive um grande amigo, era amigo da familia toda, dos meus pais, em Luanda e era filatelista tinha selos e moedas e que coisa linda. e era Jornalista também, já faleceu há dois anos aqui em Braga. Muito gostava eu desse homem que era um poço de sabedoria. Ainda guardo cartas dele para mim datadas de 1974/5 quando tivemos que abandonar Angola. Depois por casualidade encontrei-o na mesma cidade (Braga) e comecei a vistá-lo..adorava quando ele me mostrava as suas coleções que tinha em casa, já mais velhinho e viuvo que a companheira dele tinha falecido há anos...É raro encontrar filatelistas por ai ao desbarato!... Fez-me lembrar dele.
Um abraço e um beijinho da, laura..e coma o bolo porque aqui na net, chega sempre para todos...

RENATA CORDEIRO disse...

Querido:
Fiz dois posts com obras do Carlo Rochas como desenhista e pintor. Vá prestigiá-lo:
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
não há ponto depois de www
Um beijo da Rê

Anónimo disse...

magnífica idéia.
bjosss...

Daniel disse...

Olhos de Mel

Se reparares bem os pensadores de nome estão nas grandes cidades. Nas pequenas terras também existem, mas ficam desconhecidos.
Beijos
Daniel

Daniel disse...

Mariam

Seguirá até ao fim. Com um sorriso, digo que a história, um pouco auto biográfica e reveladora, da antiga Lisboa está a ser mais burilada, com o fim de propor edição em livro. Seria bom e talvez desse matéria para realizar um filme, se estivessemos num outro país.
Este é o terceiro capítulo!...
Daniel

Daniel disse...

Menina do Rio

"Terras pequenas não fazem homens grandes" é adágio. Será pensamento profundo, verdadeiro é concerteza.
Beijo
Daniel

Daniel disse...

Bandys

O que vais lendo aqui, era a vida de há 4 décadas. Hoje é muito diferente.
Gostei muito do DESEJO poético, li com apreço por quem se revela uma excepcional alma.
Beijos
Daniel

Daniel disse...

Laura

Se repares bem o adágio, vindo da boca do povo, que vai fixando a sabedoria, está certo!...
Realmente no norte, por onde cheguei a passar regularmente, há grandes pensadores. Também os havia em Angola, por onde também andei, mobilizado pelo exército (já aqui editei), vieram demonstrar!
O nome desse teu amigo, era possível conhecer. Se achares por bem, gostaria de saber o nome. Conhecia um poucos dos meios filatélicos de Angola, o maior mercado da revista FRANQUIA. A filatelia é muito ligada à economia e Angola, mercê da própria guerrilha, económicamente, tornou-se mais poderosa do que o "puto".
Foi-me entregue medalha, por serviços prestados à filatela de Angola!
Conheci pessoalmente pessoas, com quem travei amizade. Creio que possuo apenas um algures no minho.
Não sou muito de bolos, mas gostei de provar, foi agradável, pelo menos, pelo convívio.
Foi um prazer e ficas convidada.
Abraços e um beijinho.
Daniel

Laura disse...

Olá Daniel.
Com todo o gosto te direi quem é. Era amigo da familia e os meus pais foram padrinhos do filho dele mais novo, o Patucha, a mulher trabalhava ou antes era directora do Centro de Turismo e mais qualquer coisa de Angola, a Marilia, e ele além de ter uma casa na Marginal de Numismática e filatelia, era Jornalista todo do Povo, o António Ogando...Uma bela alma para mim e ainda tenho uma carta dos anos 74 que ele escreveu para a África do Sul onde nos refugiamos, meu paiteve de pedir asilo politico na altura e ele veio para cá e foi o único que esteve presente no julgamento (que farsa) do meu pai, que só apanhou 8 dias de prisão, mas como estava longe...Embora tivessem formas de pensar diferentes, eram grandes amigos e juntavam-se imensas vezes no Baleizão, ou lá em cima (moravamos no Bairro de S. Paulo, na António Enes e rua dos Pombeiros) no café do Snr. Manuel perto da pastelaria Suissa...e tinham o grupo deles, o Rui que era manco baixo e atarracado, e muitos mais que já esqueci o nome... mas não as caras.
Um beijinho meu amigo pois se estiveste em Angola, tá tudo dito..é a que considero minha terra, embora tenha nascido em Valença dentro das muralhas. e se tiveres pachorra e fores pelo meu blog abaixo, podes ver muita poesia e prosa sobre aminha Luanda.
laura..

Paula Raposo disse...

Obrigada pelo teu sempre carinho para comigo!! Muitos beijos.

Daniel disse...



Já passei no teu blogge e tive o prazer de ver a postagem sobre o Carlo Rochas.
Do coração desejo que vás recuperando e deixo beijo.
Daniel

Daniel disse...

Nada

Agradeço e a casa fica à disposição.
Bjs.
Daniel

Daniel disse...

Laura

Connheci, efectivamente, o nome do Ogando, Creio ter lido alguma coisa dele. Ainda verei, no meu pequeno mundo alfarrábico, em velhas revistas de Angola, se há alguma coisa assinada por ele.
Só dez anos mais tarde viria a criar a revista filatélica FRANQUIA e a ter muitos contactos com a Província.
Todos aviões, na altura com um dia de intervalo, me trazim correio, normalmente, sempre lotaria premiada, a pagar assinaturas, porque dinheiro não podia vir.
Aqui há uma série de artigos, a que chamaria capitulos, pois foi proposto para edição de livro. Designa-se "Esquadrão 297 em Angola", cujos créditos são devidos a um diário pessoal.
Se lembrares o campo militar do Grafanil, a primeira caserna, vista quando de ia de Luanda foi estreada, em Janeiro de 62 pelo Esquadrão 297, a que eu pertencia. Está tudo nesses artigos, que acabaram no mês passado.
De resto só depois de revolução passei à amizade pessoal em Lisboa e também no Porto.
Falaremos mais e espreitarei o teu blogge, porque quem passa por Angola fica a gostar.
Ah, os meus textos, vão além da guerra, pois para lá de treze meses, fui até outras paragens, que não o mato.
Fica um beijinho a selar a amizade!
Daniel

Daniel disse...

Paula

Eu é que agradeço a atenção, de resto, recebo sempre com prazer.
Beijos
Daniel

xistosa, josé torres disse...

Já fiz um comentário ...
Mas a minha azelhice ... nem sei se terá sido da ginjinha, do Eduardinho ou do Licor Natal ...

mas que não está ... não está ... volatilizou-se!

Esse expulso do exército, não seria o VALENTIM LOUREIRO, EXPULSO POR LADRÃO!!! ???? Também era capitão e LADRÃO!!!
Mas não no digo só aqui, digo-lho directamente ...

Mas nas terras grandes, os homens sentem-se pequenos ...
Vivi algum tempo em Lisboa.
Tinha muitos tios ...
Uma tia-avó, viúva dum antigo dirigente do Benfica.
Ia da R. da Rosa, no Bairro Alto, à Pr. do Chile, descendo o elevador da Glória e subindo o do Lavra, mas sem entrar no elevador ou de borla, que o dinheiro na altura não se via ....
Depois de almoço ia a Benfica, perto do Jardim Zoológico e retornava ao Bairro Alto.
tudo a pé ...
Recolhia os jornais e vendia-os para comprar algum livro e ir ao cinema ...
Que grandes tempos ...
A primeira ginjinha, deixou-me nos Restauradores, sentado no passeio ... eu e a Paula, a minha 1ª namorada.
Nem sei se ainda era vivo! Ou se já nascera!
parece-me que foi há pouco ... mas já lá vão quase 50!

Recordar é viver e é verdade.
Obrigado, amigo Daniel.

Laura disse...

Daniel. Boa tarde para ti, o Grafanil era onde ia muitas vezes, pois tinha lá o Casão, onde quem pertencia ao exército ou ao estado podia abastecer-se de bens essenciais, mais baratios, eu ia lá com uma amiga aos tecidos, por isso lembro sim o Grafanil agora os pelotões que eram aos montes e os garbosos soldados pelas ruas, isso sim, lembro bem ehhhhhh.
O Ogando escrevia para jornais aqui e lá e era um revolucionário contra tudo o que fosse injustiça, mas acabamos sempre sozinhos quando nos metemos a tentar endireitar o mundo...

Quanto a Angola também conheci imensas terras que adorei e adorei viver no mato em Serpa Pinto, com o casal Óscar Cardoso e Irne que me ajudaram a ir á África do Sul com o Exército Sul Africano, para fazer uma operação aos ouvidos (sou surda desde os seis anos, leio nos lábios mas sou uma pariga normal isto não é defeito...e mais dia menos dia farei um implante, e foi por causa do implante que descobrimos um tumor benigno alojado ao lado do ouvido direito e já tirei e estou a convalescer há quase 3 meses...) e ali em S. Pinto fiz amigos ente o exército e vivi uns lindos meses dos meus 17 18 anos... Era uma vida pacata e tinhamos os bochimanes a receber treino na mata e assisti a muita muita coisa...tinhamos um cozinheiro bochimane , o Comandante era o Alberto Matende que ficou meu amigo, fiz amizade entre eles, e ajudei a costurar roupas que a Caritas dava para as meninas e crianças dos bochimanes... assim como ajudei no hospital, ajudar os outros sempre foi o meu forte de boa vontade e coração, pese a quem pese que surdos não fazem nada de jeito...(ja publiquei dois livros de poesia, mas a editora a www.lulu.com não os vende bem em lingua portuguesa e aqui eu não tinha euros para os mandar fazer e publicar nas editoras de cá, enfim...) e poesia traduzida noutra slinguas não rima e não dá...
Bom, Angola sempre, foi a minha terra de criança e jovem e onde me tornei mulher, tive meu primeiro amor e mais amores que se seguiram...Onde vivi feliz onde via o mar da janela de casa, moravamos lá em cima das barrocas...estás a ver o Bairro de S. Paulo e as ruas que falei?
Ah, terra da minha saudade...
Beijinhos e vamo-nos vendo por ai e antes que esqueça, tenho apenas a 4ª classe porque a minha professora que era tão minha amiga, não me deixou fazer o exame, por...não ouvir, ó que tristeza e quantos anos de vida ela me tirou...Sou autodidacta e ...Deus é pai...
Té depois meu amigo Daniel...laura.

Daniel disse...

Lara

Deves ter conhecido o Grafanil depois de mim. Cheguei a 22 de Janeiro de 1962, e a maioria da tropa, inclusivé uma companhia, da unidade do Spínola, a que tinha pertencido cá, acampavam em tendas. Aquilo era um deserto vedado a arame.
Treze meses depois,ao estar ali dois dias, de passagem para a Gabela, qual não foi o espanto!... Estava numa cidadela, com duas salas de cinema, carreiras de "machimbombos", com horários regulares, etc.
Depois do inóspito mato, queriamos era Luanda!
Li, de certeza algo do Ogando. Dpois direi mais, depois de fazer a pesquisa.
Creio que passei de noite, de comboio, onde se avistavam as luzes de Serpa Pinto.
Dizem que Deus dá ao ser humano, no teu caso, outros dotes.
E sobre a tua limitação, podes falar sempre que o desejares. Falas com alguém, que sempre procura a simplicidade, descomplexando sempre.
Publicar cá demais poesia, só tendo nome. Por exmeplo, pagando publicava o "Esquadrão 297 em Angola", o que está fora de causa. Fui editor e ganhei, com trabalho, para pagar, façam o mesmo! De resto, semanalmente, pontuo na Jornal da Amodora", onde tenho publicado, inclusivamente o ESQUADRÃO, como o está a ser o LISBOA CAFÉ.
Vários pontos, de que falas, de Luanda comnheci, nomeadamente, o Bairro de S. Paulo.
A 4ª. Classe do antigamente, se comparamos aprendia-se muito.
Já agora, ficas a saber que em Angola tinha apenas essa classe. Depois aportei a Lisboa, um desejo que me estava na massa do sangue, trabalhave e além do liceu particular cheguei a frequetar mais dois cursos colaterais.
Curiosamente, tinha dinheiro e gastei nisso,trazido de Angola, ganho a jogar à sueca a 50 Angolares, o risco. O mais que, esporadicamente, me acontecia, era o empate. Não havia batota, detesto, tinha sido eleito, por ser jeitoso, por um habitué. Fui sempre o parceiro dele, porque vi que também era muito bom.
E sabes a melhor, antes de ir para a tropa era grande a cavar de sol a sol! Quanda a jorna, por tempo de aperto, subiu a 30 paus por dia, foram-me oferecidos 300, por três dias. Um pouco contra a vontade paterna, que também tinha algumas courelas, para trabalhar. Foi o meu grito de epiranga. Como pensava, adeus amanho de terra!...
Simplicidade, simplicidade, simplicidade, foi sempre o meu lado forte. Se acompanhares o LISBOA CAFÉ repararás que nunca me
verguei, nunca deixei de ser modesto, porém simples.
Amigos?
Daniel

Laura disse...

Amigos pois! e quem sabe ainda havemos de nos abraçar!...
O grafanil se foi nesse ano como dizes, eu ainda tinha dez anos e foi quando lá chegamos em 62. Fomos morar no Bairro da Cuca, e passados meses o pai arranjou um apartamento pequeno e mudamo-nos, e so comecei a ir ao grafanil quando tinha uns 17 anos... e claro que tudo foi mudando e tudo se foi povoando...
Não quis voltar à escola por me sentir repetente (eu era a 3 melhor da escola e a stora fez isso por não gostar do trabalho do meu pai..deves imaginar qual seria, mas aqui nem se fala disso!) pois ela tratava-me bem, so que naquela altura foi assim, chorei muito muito e fiz o exame da 4ª lá em serpa Pinto com 18 anos, numa escola normal e ao lado de adultos e muito envergonhada...E agora querem que eu tente as nova soportunidades e ficaria com o 12º ano e eu nem quero, acho que é batota...Sempre ganhei a vida com a sminhas costuras e em Luanda tirei o cursod e dactilografia e empreguei-me na firma CABIE (empresa de venda de carros os famosos Buggy e frigorificos, os aparelhos de exterminar mosquitos o Katlan...) onde aprendi tudo sobre contas computadores e adorava aquele emprego, tinha a meu cargo as pastas e era eu que arquivava tudo, mandava telex (os outros nem sabiam...) fazia as cartas que a patroa escrevia para os clientes e redigia tudo à maneira..pois a patroa dava erros que se fartava... e só sai de lá para ir para a África do Sul em 74 e comecei logo atrabalhar nos CTT de Pretória onde fui uma boa funcionária e sabia de cor muitas moradas...e mal falava Ingles mas ler, leio pois surdo não ouve os sons da pronuncia, e fazia receitas de cozinha pelas receitas na lingua inglesa e safei-me sempre... O meu mano mais novo já falecido, dormia na caminha ao lado da minha quando fomos para lá e ensinava-me tudo em ingles, a contar e as palavras mais usadas e como as pronunciar...e ainda me lembro de tudo... enfim...
Agora vou escrever sobre o meu meningioma, pois fui pesquisar na net mal soube o que tinha e uns falam que é facilimo, outros diferente e a minha experiência não é como nehuma das que li e assim, sairá livro que explicará pelas etapas que passei até chegar lá... Pois o médico avisou que seriam precisas dua soperações, e quando vim para casa d aprimeira vez, o pessoal ja telefonava a pensar que vim para casa para morrer...o que eu me ri...confiei no médico e assim foi, da segunda demorou mais pois foi quando o tiraram em seis h, e 14 dias de internamento pós operatório, e já estou fina, so a vista direita está dormente pois a parte da operação está toda dormente e quero ver até quando...Assim esse livro depois poderá ser traduzido e pode ser que comecem a entrar uns euritos que não está fácil.
Bem, isto já parece um jornal.
Por hoje tens leitura grátis.
Beijinho e té depois.
e claro eu sou a simplicidade em pessoa, em tudo e detesto manias de exibicionismo de vaidades , mas, cada um é como é.

Laura disse...

E claro que muitos que deixaram a terra onde cavavam e foram para Angola, trocaram de vida e ficaram melhor , estudaram, formaram-se, houve d etudo, mas foi pena irmos para lá pelo que foi; pela guerra que tinha de ser, mas foi uma guerra estupida como estúpidas são todas as guerras, pelas vidas que ceifam pelas viuvas e filhos que ficam sem pão. e pela raiva e ódio que geram! Mas como era menina não me apercebi e só mais tarde vi que afinal as coisas não deviam ser assim, mas...
Beijinhos.

Daniel disse...

Olá amiga Laura

Também passei ao Bairro da Cuca. Aliáz apena tinha passado por Lisboa, imaginava-a igual a Luanda. vim a verificar que o ambiente se podia assemelhar, com as suas variadas vertentes.
Meus deuses!... Sete anos depois, nem faço ideia a transformação do Grafanil.
Para teres noção, funcionava a marmita de campanha.
como prato para fazer as refeições.
Quando tinhas dez anos, eu chegei com os meu 21 e a "exploração" de quinhentos patrões (500... nos meus cálculos!).
Ao tempo o teu problema patológica, era um pouco para exclusão social. Ainda bem foste superando. Tens razões para gostares de ti própria. A pior coisa que há, quanto a mim, é aceitarmos ser tidos como coitadinhos.
O que já vi de ti, é o seres uma mulher corajosa e descomplexada, adimiro-te por isso.
Tens muita experiência de vida, e talvez, não tenhas necessidade de canudos. Isso será assunto ultrapassado, pela tua própria postura.
Se me falas de edições, congratulo-me, porque como sabes, para falar do tema é preciso ter gente, que se interesse, pelo assunto. Por vezes retraio-me, porque uma conversa do tema, apenas agrada a alguns.
Continua com a tua força de mulher, valeu? Vale a pena!
Sabes o "nick name" deste blogge? daniel milagre.
Se te perguntas porquê, mas imagina que um milagre tem o prazer de te falar.
De facto bastantes amigos, me pensam no outro mundo.
Depois de um trambolhão de que não se fica cá para contar.
Porém este espaço inicia-se com um resumo de artigo, que publiquei no "Jornal da Amadora", cerca de 4 anos depois, de no hospotial, me terem entregue à familia, com uma lista de lares próprios para estado terminal, onde acabaria os meus breves dias.
Hoje os amigos, já me reconhecem e dizem que aparento dez anos a menos.
Atribuo o sucesso, a um grande optimismo, a que nunca nada de comida me alterou, não há doenças colaterais.
Há algumas sequelas, pois sempre sofri uma intervenção cirúrgica ao cerebelo e fiquei sem uma carótica.
Além, de que no caso, ultrapassar 15 dias estado de coma profundo é problemático e eu passei 30dias
São passados oito anos e já este ano recuperei o sorriso e a própria sensualidade. Coisas que já estavam fora de causa, mas a recuperação sente-se entraordináriamente, a auto estima ficou reforçada.
Depois disso tudo, que contas, o livro será uma prova do crer e da vitalidade, e é com coisas dessas, que o mundo avança.
A vaidade, apenas pela obra que se apresenta é licíta, pois se nós não gostarmos do que produzimos, quem gostará?
A vaidade pateta, é que detestável!
Beijo
Daniel

Daniel disse...

Laura

Sobre o ter sido cavador nunca me deminuiu, pelo contário!... Trabalhei!...
De todas as considerações sobre guerras, sendo omai pacifista possível, ela existem, pelo que me merecem estudo. No entanto, a passagem por uma considero-a uma aventura, com 27 meses de férias à conta do orçamento.
Beijinhos
Daniel

Laura disse...

Olá!. Eu já me andava a questionar que milagre seria esse na vida do Daniel!... Parabéns e assim como assim, tenho o meu sentir todo espiritual, não ando nas igrejinhas a sentar levantar e a ouvir o padre falar aquilo que nem ele cumpre, mas cada um é como é. Aprendi à minha custa ao querer ver tudo de perto e nem sempre gostei. O meu mundo é Espiritual e tenho muitos amigos desse lado. Assim quando fui operada já sabia que ia correr tudo bem. Também me disseram que iamos ter uma grande aflição, mas calhar já passou,( e s enão passou penso que será relacionado com a visão, até agora vejo bem, e de perto pior, mas..!) é que eu ultrapasso tudo com muita esperança, e claro que me custaram as duas vezes que fui operada, com apenas um espaço de 14 dias... Mas, é ai ao mundo Espiritual que vou buscar as minhas forças, e agora para ir levando a coisa da melhor forma, olha que não saio de casa! Não me apetece, tá calor... os filhos e marido tratam de tudo e aqui em casa faço eu quase tudo, e todos os dia speço força para conseguir andar bem humorada e fazer as minhas coisas para me entreter e ver o tempo passar. Tenho apenas saudade de andar que eu percorria a minha cidade a pé, por vezes, e sozinha, o companheiro marido há 20 anos (o segundo que o primeiro pirou-se com uma nina de áfrica ...agora rio-me...) como ia dizendo, este marido fala pouco, tão pouco que já faço a mesma..e graças que tenho o Nuno de 29 anos Tecnico de radiologia e a Neide de 24 quase a acabar o doutoramento, uma nina excelente e foi a melhor do curso e a mais novinha a acabar... eles falam, divertem-me, amam-me e contam comigo para tudo. O Nuno vai para o Kent (londres) pois aqui não se safava nos empregos mal pagos e sem ser da área dele, a neide trabalha na Univ do Minho, ficou logo ali e tem andado a viajar bastante como ela gosta... e há o claudio filho deste meu segundo marido e d amãe dele, é diferente na postura e na vida, mas cada um é como é...
Enfim, tento ser feliz, mas sofro de solidão emcasa se é que me entendes, quando os miudos não estão... É cruz, a tal da cruz que todos temos a nossa,.
Ah, não estava a desmerecer o cavador, nunca faria isso, só disse que muitos que tinham uma vida mais pesada foram para lá e tiraram cursos especialidades, ficaram por lá felizes da vida e viveram melhor que cá..era apenas isso.
Tão hás-de contar como foi a operação e a recuperação, é que a minha cabeçorra do lado da operação tá dura que nem pedra e o olho chateia um cadinho, e ahhhh quando acordei e tive aquela sensação..laurinha, tá tudo, o juizinho e a memória ainda cá cantam.descansa pariga e assim foi...o armazém do pensamento tava cheio na mesma e que Graças eu não dei ao Pai!..Beijinho a ti.laura

Daniel disse...

Laura

Essa coisa do milagre, revela perspicácia da tua parte, já que há N de "nick nimes" mais que esquisitos!... Tanto quanto ao que julgo saber, não terão conotação.
Se queres que diga, a família julga mesmo que houve milagre. Houve até uma viagem a Fátima a pagar promessa a quis ir, pensava-me já bom, o maior, mas não foi fácil.
Mesmo assim dizia: Coitados se não fosse eu!... Não tinha ainda a noção do que acontecera.
De resto, depois de assistir, nas minhas contas, a cerca de mil missas, por razões, que vão aparecer no "Lisboa Café" passei a indiferente.
Mas sempre uma inabalável fé no querer. Tu és exemplo!
Por falar em filhos, educamo-los para a vida, procurando fazê-lo bem, mais tarde vai chegar a recompensa. Só tenno um filha, que por sua vez meu deu uma neta, que fará 5 anitos, é a minha melhor amiga. Devo muito às duas, se falar apenas na patologia.
E tenho apenas uma, porque sou o mais velho de oito. Foi giro, mas muita barafunda. Então a futura resolução, era filho único. Se possível filha e deu certo, até com a neta. Essa este cá em casa até ir para a escola, ficou apegada, além de vir almoçar ao Domingo, com os pais, está sempre a pedir, para vir cá, depois para jantar, depois para dormir. Quer sempre brincar com o Daniel. Afinal a criança até sou eu!
Curioso, a solidão para mim, por vezes procuro-a. Cheguei a ir para o trabalho e depois de chegar é que me lembrava, que tinha feito o trajecto. Talvez uma das razões porque só gosto de viver em Lisboa, é de ser capaz de alhear-me da multidão e sentir-me só, num café cheio, gosto, sou capaz de alhear-me e mentalmente, pensar um artigo, como muitos, publicados, por exemplo em Madrid, para onde fui corresponte 12 anos.
Tomei a devida nota e admirei-te, porém desculpa porque não demonstrei ser bom ouvinte, acabei por falar de mim.
Como tenho vários comentários, a fazer a outros tantos teus, tentarei deixar link, resumo do artigo sobre o AVC, aqui postado.
Não estará muito bem porque estava "bom" demais.
Beijos
Daniel