segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Desafiado pelo Toino Tchim
Um amigão, afinal
Bastantes dias, vinha, cavei
Na quinta do Avenal
Montados nas bicicletas
Íamos pelo Toxofal
Ali na padaria
Na do Carlos padeiro
Ainda madrugada
Adquiríamos o casqueiro
Da primeira fornada
Tomávamos o “Mata-bicho”
A manhã despontava
De bom vinho
A velha cornada
Dizia o caseiro:
Quem se negue, não é homem
Não é nada!...
A seguir iniciava-se a jornada
O caseiro estimulava
A cada nova rodada:
Quem se negue não é homem
Não é nada!...
Mais vinho servido na canada,
O copo feito de corno de boi
Passara a alvorada.
Daniel Costa
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
DE LISBOA
A vida para ser aventura
É autêntico e íntimo segredo
Segredo e aventura, que perdura
Anos sessenta
Do campo não ficou saudade
Em Lisboa desembarquei
Iniciava a fazer parte da cidade
Aventura com que sempre sonhei
Nas Portas de Santo Antão comecei
Como aprendiz então
Vais à Avenida da Liberdade:
Ordenou o patrão!...
Liberdade, queria,
Onde ficava a Avenida, não sabia
Depressa disse:
Absorveste rápido o que ensinei
Aprendeste, é assim a vida!
Ficas com a chave
Vais trabalhar na “Ginjinha Avenida”
Junto ao Parque Mayer
Mesmo edifício do “Café Lisboa”
Folgas, na semana, um dia
O mesmo que te reservei
Mais, cem paus acrescentarei
Para folgares e entrar
Às dez da noite de Quarta
Fechas às duas do dia seguinte
Regressava, feliz Avenida abaixo
Depois Rua do Benformoso
Passava o chafariz
A seguir
A íngreme Calçada do Monte subia
Largo da Graça e Rua de Santo António
Travessa da Bela Vista, onde vivia
Perto das cinco do outro dia
Por vezes, a porta abria
Na madrugada, a Avenida descia
Nos Restauradores
Trabalhadoras nocturnas de esquinas
Viam-me como se fora freguês indigente
Encontrava-as bamboleantes, traquinas
Ignoravam-me, de repente
Porém, deviam conhecer-me
Ora as meninas!...
Daniel Costa
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Aconteceu, a João Moisés ter sido afectado pela vulgar patologia da gripe, algo banal, porém talvez pelo infatigável apego e gosto pelo que fazia, aconteceu uma recaída e o resultado foi a necessidade de assistência médica.
Aconteceu, o doutor além de medicamentos adequados, contra vontade do paciente receitou dois dias de baixa, para descanso.
Conformado teve de aceitar, tanto mais que ouviu: Aqui sou eu o médico!
Mal chegado a casa para convalescer, por telefone foi convocado pelo efémero chefe de serviço, era preciso! Foi, cumprir um “dever” acima de tudo!
No fim do mês, não estranhou receber o salário por inteiro. Como não se surpreendeu receber o correspondente à baixa, a contabilidade resolveria!
Já então, em virtude do forte incremento da editora, traduzido na constante entrada de pessoal. O Moiteirim e o Merilim de directores, cada um do seu departamento, promoção e vendas, subiram ao topo do mesmo sector, que se juntara na supervisão.
Maldosamente o tal de Moiteirim, veio com um postal afim, da caixa e questionou sobre o assunto. Julgou, como mau juiz, nem ouviu e João convocado, por necessidade, os dois únicos dias de baixa de doença. Sacrificara a saúde, ao serviço de uma grande empresa e trabalhou dois dias sem qualquer remuneração, inadmissível! Só promovidos e consentidos por quem não sabia estar em lugares de chefia.
A empresa teve culpa, porque alimentava servidores, que sabiam fingir que pensavam, mas actuavam em nome da mesquinhez de princípios.
Entrou uma leva de promotores, talvez por maldade planeada por Merilim. Da sua formação, pela única vez, constou da observação de como formava o seu grupo de agentes de tutela e ele João Moisés, o próprio, em demonstração actuou durante visitas de contactos com sócios.
A acção teve em vista humilhar, tanto mais o João ser considerado exemplar nesse trabalho, que já provara com algo apresentado.
Fez a demonstração a propósito, achou que decorreu impecavelmente.
Finda a qual um dos Afins, estava em formação e para agradar ao “dono”, mostrou cobardia e disse: Foi interessante, porém podia ter sido muito melhor!
A perseguição continuava, outro Afim, já chefe de grupo ordenou, a um chefe de tutela um trabalho fora do horário laboral, este recusou, porque não tinha de receber ordens para transgredir.
O João Moisés assistiu à arrojada cena, um gesto de pura vilania. O colega mesmo assistindo-lhe a razão teve ordem de despedimento.
Por apontamentos pessoais, estavam anotadas todas as horas pós laborais, foi accionado processo.
João Moisés, convidado a ser testemunha do caso, disse ao chefe, muito bem!
- Sabe que o trabalhador tem razão e não espere ver verdades alteradas, arrostou com ameaças, mas a integridade acima de tudo! Acabou por ser dispensado o seu depoimento.
A empresa acabou por pagar e muito justamente, o que lhe veio a ser exigido!
Pequenos factos, denunciadores da perseguição continuavam. A isenção de horário de trabalho seria compensada monetariamente, com prémios de produtividade, por trimestre, o ciclo de entrega da revista com a indicação dos livros disponíveis, recolha dos postais com os pedidos e entregas, enquanto se recebiam as quotas mensais.
João Moisés procurava pôr o seu grupo a funcionar bem, por exemplo, em determinado trimestre tinha saído o livro “Fábrica de Oficiais”, no memo havia uma cena em que um sargento tinha sido violado, por colegas mulheres. Destacado o assunto aos agentes, o livro teve grande sucesso de vendas no sector conduzido por João Moisés. Um marketing útil enquanto interessante no prémio de vendas.
Pois, recebeu indicações da supervisão, que apenas tinha de vender trimestralmente consoante a quotização dos sócios. Efectivamente não havia erro, estavam a ser atingidas metas, que iam contra desígnios pessoais. E as admoestações vinham de supervisores!.... O que seria o último trimestre, pela sua própria contabilização, atingiria um prémio de cerca quatro mil escudos, quantia jeitosa, para a época.
Por interferências na contabilidade, o próprio rapaz Moiteirim conseguiu que ficasse reduzida a dois. Nem assim evitou que fosse a mais elevada de entre as quatro, que então existiam.
O género de perseguição era tal que ao João Moisés chegou receio de entrar acção da própria P.I.D.E. Com essa nada podia, não obstante a sua força interior para brincar ao gato e ao rato, com tamanha irresponsabilidade, dir-se-ia de rapazes imaturos.
Um dia aconteceu que ao chegar ao escritório, um dos Afins entretanto na chefia do departamento, naturalmente para não desagradar ao “dono”, deixara a ordem para não sair sem a vinda do tigre de papel do chefe.
João Moisés, assim procedeu pensando logo no que viria de novo! E o que havia era uma confrontação com um caso de um agente de tutela desonesto, caso que nem podia conhecer a fundo, porque já se apresentava problemático e fora entregue a um ajudante mais disponível, para restabelecer o contacto.
O agente sabia bem a fraude que tinha feito, detectado aqui, fugia para ali, vida e obra complicada! Pensando bem era o chefe que o tinha seleccionado, em última análise era o primeiro culpado, por outro lado, sendo este o responsável pela tutela, era dever de não implicar o colega, que saberia melhor pronunciar-se sobre o assunto, mas isso estaria fora de causa.
A perseguição era dirigida a um alvo certo!
Sem ouvir, o tal Afim decretou o ter de assistir os sócios do sector, de imediato. O João Moisés recusou, então quando devia subir, descia de cavalo a burro?
Jamais! A brincadeira chegara tão longe!
A recusa sortiu efeito, pelo menos para o Moiteirim e consequentemente para o Merilim.
Castigo de dois dias de suspensão, mas a prazo, quando mais convinha aos serviços!
- Ordem emanada do chefe de pessoal!
“Democraticamente”, Moiteirim convocou-o para uma audição. Evidentemente uma ideia patética, só podia esbarrar numa negativa.
- Aplicava sanção, só depois ouvia razões!
Os deuses deviam estar loucos!
Havia tempos João Moisés tinha sido convidado pelo próprio administrador de outra empresa, a funcionar na mesma rua, não dissera sim nem nim. Nos dias de suspensão descansou tranquilo e pensou a melhor maneira de partir para outra.
Concluiu que devia verificar se o convite ainda esperava. Ao ver que sim aceito-o.
Chegado ao Circulo de Leitores, depois da forçada travessia desértica, pediu ao pagador para ser o primeiro a receber. Este bastante amigo, com o seu sorriso malicioso assentiu.
Assim que foi recebido o ordenado, sem mais, disse adeus!...
No mesmo dia, foi escrita uma carta à administração, alegando justa causa, explicando porquê e pedindo contas do que achava ser-lhe devido.
Ninguém teve a coragem de responder, mas a desonesta, a cobarde perseguição acabaria!
Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA
sábado, 22 de novembro de 2008
Num sonho louco
Guerreiros da história
A todos recordei um pouco
Neros, Napoleões
Também a escória
Vem depois à memória
Viriatos e Sertórios
Mais os bravos navegadores
Esses lusitanos
Ao traçarem novo mundo
Deram volta à história
Os seus feitos anotados
Em versos cantados
Por muitos de pena armados
Vem depois um épico
Chamado Luís Vaz de Camões
Viajando por China e Índias
Numa gigantesca epopeia
Diz ter sido mordido por sereia
Gravou em letra doirada
Indelével e eternamente
O nome da Pátria amada
Pobre feneceu
Evocado em estátuas de bronze
Em eternos pedestais
Parece sempre dizer
Portugueses:
- Aqui estou eu!
Daniel Costa
NOTA À MARGEM:
Ontem, 21/11/2008, fazendo parte do grupo daniel milagre, foi inaugurado tejonorte. Dele farão parte uma série de artigos (capítulos) sob o nome genérico, precisamente, “TEJO NORTE”. Começaram a sair no “Jornal da Amadora”, e constituirão uma novela policial, que vai sendo escrita.
Especialmente para os amigos do Brasil convém informar, que a Amadora é uma cidade junto a Lisboa.
Convido a uma visita.
D.C.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Ainda vivo sonhado,
Que cada cidadão
Será um espião
Vou tomar cautela
Com a espionagem
Essa aragem
Que chega a qualquer ponto
Até num encontro
Com a donzela
Não se dá por ela
Mas pode ser arvela
A dar a espiadela
Servindo o patrão
Com vista à solução
De sanar mazela.
A espiadela é palavra mansa
É capa de insignificância
De qualquer ordenança
Que satisfaz vingança
Mesmo sem esperar herdar
Assento naquele lugar
Outro o irá alcançar
Manda-o espiar
E para o recompensar
Põe outro no seu lugar
Mas serei eu espião
Pela simples razão
De ser cidadão?
Oh! Mundo trapalhão!...
M.F. (iniciais do pseudónimo de Daniel Costa) –
in extinto “ Jornal do Oeste”, de Rio Maior em 8/2/1975.
domingo, 16 de novembro de 2008
Uma empresa pequena ou grande, capitais nacionais ou estrangeiros, visará sempre o lucro, mas terá de ter em conta a elevação da sociedade onde se insere. Isso sairá de dentro para fora, com a valorização do seu capital humano.
Deverá também ter em conta esse objectivo, estimulado com iniciativas empresariais, até com departamento próprio, destinado a criar iniciativas de incentivo. Nem é necessário os chefes ou directores de serviços possuírem coeficientes de inteligência elevados, para entenderem, que a promoção terá de partir do seio da unidade comercial.
Não estará tão distanciado o exemplo de Henri Ford, que proporcionou crédito a todos os empregados, afim de possuírem o automóvel da sua fábrica.
Fazia deles, os clientes por excelência, criando ao mesmo tempo motivo de orgulho, e vontade de seguidores, que por sua vez seriam animados e ficariam motivados, para serem novos clientes.
Era também uma eficaz forma de marketing, e as unidades portuguesas?
Os pensamentos de João Moisés divagavam e navegavam, por este e outros exemplos de visão empresarial. Mostrara-se já homem de estrutura mental para os assimilar.
Podia abrir as mãos e mostrar, como se fazia e devia ser, o motivo da confusão que perpassava nos espíritos de superiores, que iam aproveitando a experiência do jovem. Apenas mostravam que sabiam fingir que pensavam, nada mais!
Como eram incapazes de mostrar, valor inerente aos cargos que ocupavam, preocupavam-se em procurar alinhamentos mentais, à sua altura.
Foi assim que, João Moisés começou a sentir uma tenaz perseguição, algo inconcebível, porque nem sequer era aberta, já que o Administrador catalão senhor Esteve, o trazia de olho e destinava a promoção.
Mas eis o que o homem que viera para Lisboa erguer, o que já estava encaminhado para ser um grande colosso empresarial, foi chamado a gerir outro projecto.
Assim, a perseguição logo se fez mais notada.
Coitados!...
Sabiam fazer de fingidores, não gestores!...
Uma certa perseguição andava já no ar, faltava a coragem de a fazer abertamente. Então quem, era por exemplo, o alto chefe mais directo? Onde estava a rectidão e o poder da democracia que apregoava, quando a palavra não passando de fazer parte de uma frase feita, era quase tabu, dos tempos e do regime vigente?
Pois o Moiteirim, apenas tinha entrado no loby do Merilim, que trouxera alguns colegas, naturalmente fascinados pelo seu poder de conversação, pela elegância pessoal, pela facilidade com que este manipularia pessoalmente o seu mundo, um fácil e conveniente modo de gerir, sem ter de pensar.
Incapaz de ter pensamento próprio, Moiteirim possivelmente teria cedido em holocausto, a cabeça de João Moisés, realmente, talvez fossem necessários dois para o irem derrubando lentamente.
Este, um dia contra o habitual, interferiu no nas suas marcações de contactos externos com agentes de tutela, porque era necessário ficar à disposição, para esclarecer pormenores sobre os sectores formados, a quem precisava de utilizar essa mecânica.
Parecia uma música, porque se via logo não ser necessário, nem para adormecer!
Passava-se algo estranho, porque um dia sem contactar agentes interferia muito no eficaz cumprimento de objectivos, os quais consistiam em prémios maiores ou menores, baseados no coeficiente de vendas, esses seriam uma contrapartida pelo tempo extra de trabalho.
Havia isenção de horário, com contrapartida baseada neles e mesmo assim o sindicato, mesmo fascista, não aceitava que, para o caso, os ordenados não sofressem aumento fixo. Estava ali mais uma pura violação, perpetuada na incompetência, tanto mais que os prémios, por objectivos, também lhe eram favoráveis e o João Moisés gostava do que fazia e com os seus métodos pessoais, estava a conseguir êxito.
De qualquer modo, nunca deixara de funcionar o próprio espírito e o jeito de investigar.
E, esse passara a aplicação, sentindo ele próprio agora a necessidade de o utilizar e passara a haver muitos indícios.
Mas porque havia a lacuna das chefias, diria a incapacidade de fazer implementar as contas e mandar, aquele rebelde a outra freguesia?
Mistério, incompetência, ou o homem seria imprescindível?
De facto os Moiterins, os Merilins e os Afins, eram uma cambada de idiotas, sem saberem valsar!
Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Vou contar um segredo
Sentia frémito, suave vibração
Quando fui guardador de patos
Com a manada ia para o Val Medo
Ninhadas do tipo marrecos *
A mãe sempre criava
Em procura no ciclo da carôcha **
Do guardador porfiava
Na imensidão do campo
Guardar agradava
O mar em frente
No princípio do Verão
Os patos deglutiam o molusco
Com sofreguidão
O pastor olhava patos e vastidão
Podia entregar-se às nostalgias
Muito comuns então
Sonhava com outro mundo
O eterno desconhecido
Seria melhor de antemão
Aquele não o sentia cruel, não
Seria como um universo de papel
Ali andavam os patos
Não se cansavam
Sempre direitinhos
Engordavam como calmos gaiatos
Pareciam gostar da gamela
Muito juntinhos
Não precisavam de trela
Até que valiam vinte paus
Comprava-os o regateiro ***
O que, na sua carroça
Aparecia primeiro
O guardador ainda criança
Saberia ser feliz…
Agora, talvez um bom petiz!...
Daniel Costa
NOTAS:
* Raça de patos comuns
** Chama-se assim à caracoleta no concelho de Peniche
*** Corresponderia ao almocreve
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
COISAS DA VIDA
Trago aqui uma das minhas figuras inesquecíveis, que reparo, ao longo da caminhada foram muitas, se bem que para as considerar assim, apresentaram um grande humanismo, a par de outros valores que mostraram.
Neste caso esteve o jornalista Acácio Barradas, falecido no próximo passado dia 26/l0/2008.
Por uma vida, demasiado absorvente, da minha parte, confesso não lhe ter prestado a atenção que me merecia.
Vi-o pela última vez, a falar para a RTP, num dos programas da série, sobre a Guerra do Ultramar, em que falou sobre Angola, onde de facto tinha trabalhado, como jornalista.
Por 1973, trabalhava no extinto jornal “Diário Popular” e ao mesmo tempo dirigia a revista “Rádio & Televisão”, propriedade da mesma empresa do jornal.
A capa era feita a cores, o que motivava, não ser executada nas oficinas do jornal. Era-o então na empresa, onde trabalhava. Todas Sextas-Feiras, cabia-me apresentar ao Director, para recolher fotografias e outros elementos.
A visita dava-se à tardinha, na mesma hora, em que devia acabar a reunião de agenda, para a feitura do número da semana seguinte. Acontecia por vezes, a mesma ainda não ter começado, era normal dizer que voltaria depois.
Assim procedia, até que um dia Acácio Barradas, olhou-me de frente, mirando os presentes, onde se encontravam nomes, hoje sonantes, das letras e disse: “o Daniel é da casa, deve sentar-se e assistir ás reuniões”.
As fotografias a cores raramente estavam prontas, quando acabavam as reuniões. Enquanto as esperava, fui conhecendo, internamente, todos os mecanismos do jornal, desde oficinas, sala de trabalho dos jornalistas, câmaras escuras (onde se revelam fotografias) a impressionante sala dos telex, com estes ininterruptamente a matraqueando a sós, recebendo notícias de todo o mundo e por fim a própria expedição do jornal,
Foco um episódio a que assisti: tinha-se sido eleição da miss Portugal, muita matéria específica, para a revista.
Ao telefone com Vera Lagoa, que coordenava, sobre algo que envolvia noticiário, havia complicação por problema com Ramiro Valadão, o então, director poderoso da RTP:
- Acácio Barradas:
Quero que o Ramiro Valadão se “F”…
Repare-se: era antes da Revolução, no fim olhei-o, este percebeu:
- Que queres? Para conseguir o que se pretende, no próprio interesse deles, por vezes é necessário ser bruto. Verás que assim consigo! Vê tu que a Vera ainda me disse:
- Ai Acácio!...
Em Janeiro de 1974, dada a escassez de papel, devido ao boicote internacional, que estava a ser feito, ao Governo de Marcelo Caetano, tinha havido necessidade de reduzir páginas do jornal.
Várias rubricas foram omitidas, necessariamente. Uma delas era a secção “Filatelia” de Sábado, conduzida por Costa Júnior. Porém, o Acácio Barradas sabia de andar a trabalhar nela. Sem qualquer intenção dei-lhe conta da saída, no mesmo momento agarrou no telefone, do qual falou com o Costa Júnior, disse:
- “Meu caro, saiu a revista “Franquia”, esta semana tens de fazer a tua secção “Filatelia” e editar texto a propósito”.
Não é que saiu?...
Acácio Barradas, que faleceu com 72 anos, depois de passar pelo “Dário de Notícias”, ainda colaborava no “JL – JORNAL DE LETRAS, ARTES E IDEIAS”.
Um artigo seu, do número de 17 a 23 de Setembro noticiava a morte de um amigo comum, João Leitão, que falecera repentinamente, estando em gozo de féria no Algarve.
Coisas da vida!...
Daniel Costa
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
LISBOA CAFÉ - 24
Da Pascoal de Melo, as instalações do que em pouco se transformara em grandiosa empresa, esta mudou para um novo prédio na Rua Tomás de Figueiredo, em Benfica, junto do Bairro de Santa Cruz, como se fizesse parte do mesmo.
As instalações consistiam na parte baixa do grande prédio, a parte que se destinariam, a partir da construção, talvez licenciadas para ser oficina de automóveis e talvez garagem para recolhas afins, mas o que não pode ser transformado em Portugal? Tratando-se de uma grande empresa, como já o era o Circulo!...
Até às novas instalações, seria difícil verificar o quanto a empresa estava em crescimento, espalhava-se por mais do um dos andares e não se podia ter uma visão geral das proporções, que cresciam dia a dia.
Em Benfica havia só uma sala, um grandioso espaço, para funcionamento dos escritórios. A decoração ia revelando-se simples, moderna, criada a propósito e adequada à funcionalidade.
João Moisés, como conhecia o sítio, viera cair ali como num mundo encantado e quando não se ausentava por serviços externos, nas horas da refeição acabava por ser o cicerone de serviço, para indicar e recomendar restaurantes na zona.
Um assíduo companheiro era o Zé, que embora o tenha definitivamente adoptado como émulo, ao mesmo tempo era um amigo e um bom camarada e comparsa.
Com uma certa mania de intelectual e muito dado a leituras, de que fazia parte o esporádico uso de cachimbo, era mais um acto de intenção que estimularia o Zé.
Então este um dia apareceu também armado dessa interessante peça, que certos fumadores gostam de usar. Fumando a sua cachimbada, foi insinuando e exibindo o cachimbo, com três cortes de faca e atirou propositadamente:
- Sabes o porquê destas marcas?
- Atónito, o interlocutor ouviu o que não se fez esperar: cada vez que vou tendo o prazer de estar com uma miúda e fico com a certeza que vesti a camisola amarela, assinalo aqui e repara que o vou conseguindo e tu como é que sabes?
- Possivelmente, nunca terás conhecido tão inebriante prazer!...
Havia testemunhas e acabou tudo de taxa arreganhada, com esta novidade.
Convém esclarecer, que embora não muito distantes os tempos, ainda não tinha sido atingida a liberdade sexual e essa consumação na noite de núpcias era então o supremo acontecimento.
Um dia entrou ali uma nova empregada, jóia mesmo, embora não fosse, nem de longe aquela mulher matadora e insinuante, era um amor. O Zé logo se enlevou e fez a conquista, ambos sempre juntos para o almoço e como no fundo era amigo de João Moisés, este foi sempre companheiro e a garota seguia-o, por vontade própria ia revelando também amizade e companheirismo.
O ambiente, tornava-se extremamente agradável, enquanto pairava algo a intrigar o espírito de João Moisés, algo não muito bom, que o fazia reflectir, cismando o porquê, já que a qualidade de trabalho estava a dar nas vistas ao próprio administrador, o catalão José Maria Esteve, que já o tinha proclamado em reunião de chefias, confidenciado por alguém presente.
De facto o João já tinha transformado toda a Lisboa em sectores de trabalho, que tinha agradado ao ponto de já ter sido convidado a ir uns tempos para a cidade do Porto, proceder ao mesmo indispensável, para uma distribuição eficaz dos agentes de tutela.
Depois de ser avisado, que a hipótese Porto estava abortada, um alívio que retirava o sentimento de ser obrigado, por dever, a cumprir um desígnio de chefias.
Entretanto, foi convocado, durante dois dias a fazer testes, numa empresa exterior com vista a uma subida. No fim dos mesmos o examinador, perguntara:
- Estando um novo lugar à espera, tem a noção de qual?
O que sabia era confidencial, pelo que apenas respondeu, calcular e o examinador, em jeito de conversa amigável e animada:
- Muito bem, apresento os meus parabéns!...
Dias passados o chefe disse:
- Afinal o resultado foi, que se perderia um elemento eficaz, nos serviços comerciais!
Inacreditável!... Podia provar-se o inacreditável, por trabalho anterior e por outros testes de resultados extremamente positivos, o novo serviço seria adequado!
Foi aí que, interiormente João Moisés intuiu, ainda por outros pequenos indícios, que estava formada uma cabala, um loby, objectivamente, com destino a uma perseguição encapotada mas feroz.
Assunto a ser mais pensado, para tomar as previdências adequadas.
Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA – 2008
sábado, 8 de novembro de 2008
POEMA AREIA BRANCA
Chamou-se praia da Charrua
Quando a povoação estava nua
Depois Areia Branca
Sazonalmente ali trabalhei
Não devia dizer eu sei
Serventia a pedreiros dei
As primeiras paixonetas
Um pouco a vida ali amei
Olhava a passagem de miúdas
Vinha a sopeirita fardada e bonita
Também a sopeira matrafona
Ares de Dona
Nada de beleza
De observação em observação
Belo tempo de Verão!...
Naquele o Vigia foi erguido
Lá estava ele, entre a terra e mar
Em jeito de vigiar areias
Mulheres bonitas e feias
Diria democrata
Reservado a gente de gravata
Jogava e se divertia
Confraternizava e a noite vivia
As marés e praia vigiavam de dia
Ali amei e deixei amores
Trabalhei e vivi meus senhores!
Daniel Costa
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
POEMA VÍCIOS
Apelidar de desperdícios
Todas as actividades
Relacionadas com vícios
Fumar, comer ou bebericar
Jogar, muitos outros tentar
Dir-se-á que são tiques
Os vícios serão de experimentar
Ver e aprender estará bem
Desde que não se passe o limiar
Passar o patamar será doce
Mas causa danos de arrepiar
Por exemplo, se drogar
Causará incompatibilidades
Com terceiros, que a notar
Sofrendo serão os primeiros
Ao prazer
Vícios podem suceder
Quem se vicia, arrisca-se
Prematuramente a perecer
Quem gostar de viver
Terá de procurar outro prazer
Deixar o vício tomar poder
É achar-se forte, mandão
Afinal prepotente,
Doente então
Deixou que o vício o domasse
Na sua vida entrasse
Qual sereia, que atrai e enleia
Transforma
Na sua própria teia
Contra o vício, sejamos fortes
Não é, o danado, a doce Hermengarda
É como demónio de espada
Denodadamente içada
Daniel Costa
terça-feira, 4 de novembro de 2008
LISBOA CAFÉ - 23
O João Moisés estava de facto a viver e a colaborar com entusiasmo no crescimento de uma empresa editora de uma grandeza insuspeita, efectivamente.
De primeiro a entrar, destinado a serviços externos de tutela, a controlar agentes de vendas em tempos livres, ia assistindo à entrada de outros colegas directos de trabalho. Entretanto o primeiro consistiu na divisão da cidade de Lisboa em sectores. Cada um ia pertencer a um agente, de preferência a morar no mesmo, um trabalho muito interessante. Tudo ficava anotado na fixa respectiva: nome de rua especialmente, que era percorrida de carro e a pé, a procurar que tudo ficasse muito claro, para quem quer que necessitasse de a utilizar.
Isto acarretou um conhecimento profundo da cidade, o que era extremamente agradável, para quem tanto gostava da mesma. Ainda os sectores não estavam todos prontos, enquanto já eram seleccionados colaboradores externos de vendas, que por sua vez, começavam a fazer uma rápida formação, com acompanhamento até junto dos primeiros sócios. Enfim contactos e um trabalho aliciante.
Depois entrou novo inspector de tutela, mais outro, a seguir mais. O Circulo de Leitores crescia imenso e em toda a linha. Por força entrava muita gente e dos vários quadrantes, para todos os sectores.
Um dia entrou o Zé, para destinou-se a serviços de contabilização, tudo o que dizia respeito a entregas e vendas aos funcionários externos. Depressa elegeu o João Moisés como seu émulo, não havia explicação para o caso, pois era um bom e competente camarada.
O primeiro motivo interessante que matinalmente trazia sob observação era um pedaço de mulher, que se vinha exibir sem roupas, de janela aberta e sem cortinas, frente ao espelho a maquilhar-se. Um dia veio à sala do colega e amigo, que tinha elegido como rival, mostrou o “achado” dizendo:
- Onde e quando descobriste borrachos destes para observar: De facto o panorama descoberto pelo Zé, na janela fronteiriça era digno de se ver, um “voyeur” não encontraria maior deleite.
Chegara-se, dia para dia a um desenvolvimento cada vez mais rápido, recrutavam-se muitos agentes locais, que depois da formação, equacionariam melhor o tempo extra a despender, com a nova ocupação e concluiriam ser demasiado, ou que o trabalho não se adequaria às suas capacidades e apresentavam escusa. Além de que o crescimento estaria a ultrapassar previsões, por muito optimistas que fossem.
Havia sócios, que tendo dito sim na promoção, depois não confirmavam, com o envio de carta para a empresa, havia os provenientes da promoção amizade, desgarrados dos sítios já preenchidos a com o seu agente, porque aí ainda não tinham chegado os ventos da nova e eficaz promoção.
A esses era necessário ser um delegado a passar e dar assistência.
Um dia, os noticiários, tratavam do inédito, de facto, um assalto a um banco em Campolide. Não contando o “assalto” ao banco na Figueira da Foz, por Palma Inácio, que mais tarde foi dado como político, era o primeiro feito a uma agência bancária no país.
Vendo os contornos, só podia ter sido levado a efeito por alguém sem a “preparação” adequada, que apenas utilizou o efeito surpresa e João Moisés logo disse: fizeram tão ingenuamente o trabalhinho, que a judiciária depressa resolverá a questão, eu próprio em poucos dias descobriria toda a trama. O amigo Zé, sempre do outro lado, nem pensou e saltou, lá estás tu, resolvias logo e pronto!...
O facto é que passados poucos dias se sabia que a “obra”, seria (?) uma experiência de dois estudantes, que já tinham sido identificados, apanhados e presos.
O interessante da questão é que os dois rapazes, estando hospedados na mesma casa, duma rua do chamado Bairro do Actores, por os arruamentos terem todos a sua toponímica dedicada a essas relevantes figuras, sem o saber ao certo, o João Moisés, em serviço da empresa, tocou a campainha da porta.
A locatária, saturada de atender jornalistas, que ali se apresentavam, ou por telefone, escusava-se a contactos, mas falou de dentro, ouvindo do que se tratava, ficou muito curioso e interessado em saber mais. Conseguiu refinar a sua maneira de fazer relações públicas até que a senhora acabou por abrir a porta e desabafar.
Era outra no fim, tinha dito o que se lhe acumulara na alma, o medo deu lugar a uma pessoa de índole extremamente interessante e interessada e João Moisés cheio de contentamento, pelo que achava ter feito um bom trabalho, pois levara a confirmação assinada, tinha acabado de nascer uma sócia!
Do rápido florescimento resultou, as instalações da Pascoal de Melo em breve terem-se tornado exíguas. O armazém de livros nascera em Benfica e para o mesmo edifício transitou toda a empresa, outra amplitude, mais espaço e melhores condições de laboração!
Daniel Costa - in JORNAL DA AMADORA - 28/02/2008.
sábado, 1 de novembro de 2008
POEMA AVENTURA
AVENTURA
A vida é aventura
É-o mesmo que seja
Extremamente dura
A minha se bem contada
Faria chorar
As pedrinhas da calçada
Quiçá o átomo
Mas que nada
Olhemos com optimismo
A sempre fiel amada
Esquecer, não resulta
Equacionar tormentos, sem fim
Resultaria muito ruim
Falo das boas recordações
Dirão muitos:
Mundos de ilusões!...
Falar só em jeito de aventura
Da vida, é atitude segura
Pressupõe optimismo de puritano
Brinquedos, digo em segredo
Só os que fabriquei – aventura!...
Hortas e árvores
As que semeei e plantei
De cereal, confesso que sei
Em enologia total trabalhei
Por fim de sol a sol
Ceifando a jorna ganhei
Tentar perseguir
Alguém ainda cavador
Devia ser vergonha
Dos prepotentes senhores
No Circulo de leitores
Mais audácia e arrogância
Deveriam ter quando expulsos
Prepotentes, que podiam fazer?
Trabalhassem com lisura
Muito tinham de aprender
Deveriam ter sido subservientes!...
Jamais necessitaria de dizer sim
A prepotentes
Nada de hombridade
Criaram ambientes
Pior que masmorras da PIDE
Devem!…
Nunca responderam porquês
Podem, continuar a ser prepotentes!
Oh Zeus!...
Mais uma aventura adeus
Sei trabalhar, Há mais a fazer
Outra aventura
Encontrarei outros ateus!।
Daniel Costa
NOTA: Fernando Pessoa escreveu isto (cito do cor): “Não há empregados maus, há é empresas que têm empregados maus.”
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
EM MEMÓRIA
Trago aqui uma das minhas figuras inesquecíveis, que reparo, ao longo da caminhada foram muitas, se bem que para as considerar assim, apresentaram um grande humanismo, a par de outros valores que mostraram.
Neste caso esteve o jornalista Acácio Barradas, falecido no próximo passado dia 26/l0/2008.
Por uma vida, demasiado absorvente, da minha parte, confesso não lhe ter prestado a atenção que me merecia.
Vi-o pela última vez, a falar para a RTP, num dos programas da série, sobre a Guerra do Ultramar, em que falou sobre Angola, onde de facto tinha trabalhado, como jornalista.
Por 1973, trabalhava no extinto jornal “Diário Popular” e ao mesmo tempo dirigia a revista “Rádio & Televisão”, propriedade da mesma empresa do jornal.
A capa era feita a cores, o que motivava, não ser executada nas oficinas do jornal. Era-o então na empresa, onde trabalhava. Todas Sextas-Feiras, cabia-me apresentar ao Director, para recolher fotografias e outros elementos.
A visita dava-se à tardinha, na mesma hora, em que devia acabar a reunião de agenda, para a feitura do número da semana seguinte. Acontecia por vezes, a mesma ainda não ter começado, era normal dizer que voltaria depois.
Assim procedia, até que um dia Acácio Barradas, olhou-me de frente, mirando os presentes, onde se encontravam nomes, hoje sonantes, das letras e disse: “o Daniel é da casa, deve sentar-se e assistir ás reuniões”.
As fotografias a cores raramente estavam prontas, quando acabavam as reuniões. Enquanto as esperava, fui conhecendo, internamente, todos os mecanismos do jornal, desde oficinas, sala de trabalho dos jornalistas, câmaras escuras (onde se revelam fotografias) a impressionante sala dos telex, com estes ininterruptamente a matraqueando a sós, recebendo notícias de todo o mundo e por fim a própria expedição do jornal,
Foco um episódio a que assisti: tinha-se sido eleição da miss Portugal, muita matéria específica, para a revista.
Ao telefone com Vera Lagoa, que coordenava, sobre algo que envolvia noticiário, havia complicação por problema com Ramiro Valadão, o então, director poderoso da RTP:
- Acácio Barradas:
Quero que o Ramiro Valadão se “F”…
Repare-se: era antes da Revolução, no fim olhei-o, este percebeu:
- Que queres? Para conseguir o que se pretende, no próprio interesse deles, por vezes é necessário ser bruto. Verás que assim consigo! Vê tu que a Vera ainda me disse:
- Ai Acácio!...
Em Janeiro de 1974, dada a escassez de papel, devido ao boicote internacional, que estava a ser feito, ao Governo de Marcelo Caetano, havia escassez de papel, tinha havido necessidade de reduzir páginas do jornal.
Várias rubricas foram omitidas, necessariamente. Uma delas era a secção “Filatelia” de Sábado, conduzida por Costa Júnior. Porém, o Acácio Barradas sabia de andar a trabalhar nela. Sem qualquer intenção dei-lhe conta da saída, no mesmo momento agarrou no telefone, do qual falou com o Costa Júnior, disse:
- “Meu caro, saiu a revista “Franquia”, esta semana tens de fazer a tua secção “Filatelia” e editar texto a propósito”.
Não é que saiu?...
Acácio Barradas, que faleceu com 72 anos, depois de passar pelo “Dário de Notícias”, ainda colaborava no “JL – JORNAL DE LETRAS, ARTES E IDEIAS”.
Um artigo seu, do número de 17 a 23 de Setembro noticiava a morte de um amigo comum, João Leitão, que falecera repentinamente, estando em gozo de féria no Algarve.
Coisas da vida!...
Daniel Costa
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
SELOS DE NATAL1974
A ENTREVISTA COM O CRIADOR DA SÉRIA PORTUGUESA – NATAL DE 1974
Numa gentileza de Danilo Bogoni, chegou-me de Itália uma entrevista a Abílio de Mattos e Silva, Criador dos primeiros selos Natalícios Portugueses, distinguidos com o “VII PRÉMIO DE ENTRETENIMENTO INTERNACIONAL D’ARTE FILATÉLICA SAN GABRIELE” que, tem lugar anualmente em VENEZA e se destina a eleger o mais belo e artístico selo do religiosa do mundo.
A entrevista feita ao criador português é assinada por Gabriele Fabris, não tendo sido fornecido mais qualquer elemento, que indique onde foi originariamente publicada.
De posse da entrevista, contactei Abílio de Mattos e Silva, com quem troquei algumas impressões, colhendo alguns elementos, sobre a personalidade do artista, criador já de uma famosa série portuguesa.
Fiquei a saber que, numa primeira experiência, a série “ESTAÇÃO DE MELHORAMENTO DE PLANTAS” (1970), o autor não encara em concursos, porque diz:
- Quando deito a mão a uma qualquer criação, porque me dedico inteiramente, sofro um grande desgaste intelectual e físico, o qual poderá ou não vir a ser compensado, pois como é óbvio, dos vários trabalhos concorrentes, só um obterá o prémio.
Abílio de Mattos e Silva afirma também, que não terá desenhado mais selos pelo simples facto, de não ser hábito os seus serviços, espera sempre que o convidem, como aconteceu, não só com a série do “NATAL 1974”, que por sinal foi realizada numa má altura da sua vida, no tocante a saúde, mas também com a da “ESTAÇÃO DE MELHORAMENTO DE PLANTAS 1970”
Quando deixei o artista, um homem de 64 anos, mas que, nas suas criações, como a da série denominada “NATAL 1974”, ora premiada e os últimos quadros e ilustrações, da sua autoria, que tive o ensejo de apreciar, sobressai um talento inegavelmente jovem.
Mas, deixo Gabriele Fabris conduzir a conversa e comentar a obra, na sua entrevista que chegou em italiano e que se oferece, numa tradução livre, em português, enquanto chamo a atenção para o portuguesismo e modernidade dos selos.
LISBOA: Abílio Leal de Mattos e Silva, artista português, nascido no Sardoal a 1 de Abril de 1911, actualmente decorador do Ministério da Agricultura, desenhador de maquetes de cena, trajes de teatro, cinema, ballet e ópera, ilustrador e pintor.
São dele os três desenhos da primeira série natalícia de Portugal, emitidos em 1974.
Desenho a desenho de selos emitidos no Natal, estes são característico apontamento no que diz respeito á festa anual, visto que se fazem notar imediatamente. Há neles uma característica especial e um grande estilo. Eles têm o privilégio de apresentar a encenação de um Natal absolutamente nacional e ao mesmo tempo artisticamente válido, porque diverso e tipicamente português.
Eu quis, diz Abílio de Mattos e Silva, na sua segunda experiência filatélica – na minha série não um Natal internacional, mas sim um natal absolutamente português, Eis a razão porque os personagens que ilustram os selos são todos de costumes de hoje.
Assim consegui que a série tenha um traço popular.
Os desenhos apresentados em versão definitiva para a realização, são personagens populares, ou melhor, são pescadores da que recitam (seja-me permitido o termo) a parte dos personagens. Pescadores de uma praia portuguesa muito típica e que o artista दिज़ amar imenso. Esta praia, por uma feliz coincidência, chama-se NAZARÉ, que faz lembrar em sintonia a devoção a Nazareth do Natal de Cristo.
E assim foi-me fácil – é sempre Mattos e Silva a falar – executar estes desenhos, porque conheço muito bem a região, as suas tradições e porque ilustrei há alguns anos um livro dedicado aos trjes da Nazaré, que dento de muito tempo, devido à civilização terão desaparecido.
Os desenhos originais tinham os formatos de 20 X 20 cm, que depois de aprovados pelos técnicos dos correios, foram em selos, pelo processo de impressão offset.
Depois da aceitação dos desenhos Mattos e Silva não seguiu as várias fases de impressão, porque diz – os correios têm bons técnicos e extraordinariamente bem dirigidos por um artista plástico muito qualificado, que os mandou executar na litografia Maia.
Imprimiram nove milhões para o primeiro selo e um milhão para os restantes, compreendendo três taxas, coincidindo como fecho da fase final da celebração do Ano Santo, cujo tema condutor era “a paz fruto da reconciliação”, que não é outra coisa, que uma variante do Hino de Natal “Glória a Deus no Alto dos Céus e paz na terra aos homens de boa vontade”.
Sobre o primeiro valor de 1$50, um insólito Arcanjo S. Gabriel vestindo um branco capote com capucho monacal, anuncia à Virgem – uma doce trabalhadora do campo – a próxima maternidade. Maria toda impregnada das palavras que estão escritas sobre o mastro do estandarte do mastro que Gabriel tem nas mãos: - “Avé Maria Cheia de Graça” – está vestida com uma modesta saia escocesa, uma camisete e tendo a fazer de chapéu, um lenço atado na nuca. Uma pomba branca estilizada, símbolo do espírito, esvoaça suavemente sobre a Virgem da Nazaré.
No segundo valor, de 4$50, Maria apresenta o Menino aos pastores e aos pescadores que curiosos o observam. Uma saia plissada cinge o corpo da Virgem que se cobre com um manto escuro.
À esquerda do grupo e postados em terra, vasos de unguento, juntos a peixes e mais apetrechos usados pelos pescadores da Nazaré, que se vestem com trajes de trabalho dos nossos dias.
O de 10$00, que fecha a série no fundo das palmeiras, José que conduz pela mão o burrico, sobre o qual Maria está sentada protegendo com o mesmo o menino.
O modo como a Virgem vai sentada – volteando as costas para burro – é curioso, estranho e ao mesmo tempo sugestivo.
Em suma, uma série bem realizada, graças sobretudo à notável capacidade artística de Abílio Leal de Mattos e Silva, que nos premeia, como à posteridade – com o conferir de feliz simbolismo e um carácter tipicamente português de grande religiosidade e sentimento. E o tema universal, o pintor conseguiu transportá-lo e ao mesmo tempo quase ambientá-lo na própria terra.
Largamente merecida a atribuição do “San Gabriele”, a esta série considerada por conseguinte a melhor religiosa emitida em no mundo emitida em 1974, até porque a mesma sintetiza completamente a finalidade do prémio evocando o Arcanjo S. Gabriel. Que dizer a mensagem religiosa, transferida e visualizada através de desenhos artisticamente válidos e seguidos pela realização filatélica, tendo também a devida consideração pela finalidade própria dos valores postais.
Entrevista de Gabriele Fabris
NOTA; A primeira introdução foi feita especialmente para a revista FRANQUIA número 10, de Outubro de 1975. A entrevista foi retrovertida do italiano.
Tanto a apresentação, como a retroversão teve a autoria de Daniel Costa.
sábado, 25 de outubro de 2008
LISBOA CAFÉ - 21
A zona era bastante familiar a João Moisés, que frequentara aulas por ali em dois estabelecimentos diferentes. Um na Rua Francisco Sanches, a mesma que entroncava a Sul com a Pascoal de Melo, era nessa no número um, em que se situavam as instalações da sua novíssima ocupação.
No dia vinte e seis da Janeiro entrara numa editora e tanto que o que desejara! Visto que por oposição a gráficas, era estar do lado de lá, talvez menos tempestivo, pelo menos para um espírito irrequieto, como era o caso.
O acompanhamento das várias fases, de cada obra gráfica, tornava-se absorvente.
Dessa tarefa constante dependia o saber o como ia encaminhado cada trabalho. Disso dependia por vezes o frenesim dos clientes. Quem tinha o encargo de os representar internamente, procurando que tudo andasse harmoniosamente, tinha de procurar insistentemente esse desiderato.
Agora iniciara, numa editora, não era o trabalho almejado, mas parecia a contento, uma empresa, cuja casa mãe era alemã, dali criara raízes em Barcelona, que se estavam a estender a Lisboa.
João Moisés seria o nono elemento, contando mesmo com o catalão senhor José Maria Esteve, o Administrador que, de Barcelona tinha a incumbência de instalar o Circulo de Leitores em Portugal, que viria a atingir as centenas de funcionários.
Ao lugar dava-se a designação de inspector de tutela e controlaria externamente um grupo de agentes trabalhadores recrutados em várias ocupações, para exercer serviço de vendas em regime de “part-time”.
Entrar de novo numa empresa, fazer parte do seu lançamento, de conceitos avançadas para a época, tudo era o máximo que se poderia exigir e a confirma-lo estava imediatamente num adequado modo de formação.
Para o verdadeiro lançamento comercial, entenda-se, foi escolhida a zona de Moscavide. Três promotores formadores mais o seu chefe, que tinham vindo de ter formação na congénere de Barcelona e já alguns por formar, entre os quais João Moisés, embora já destinado a outras funções, que no fundo também faziam parte das vendas, deram início ao grande lançamento.
Começou pela entrada num prédio, um dos promotores, dirigiu-se à porteira e pediu para andar na escada e bater a todas as portas afim de fazer o trabalho.
A cordialidade resultou e foi a senhora a primeira a receber a embaixada do Circulo de Leitores e a promoção começou logo assim:
- “Minha senhora se houvesse em Portugal uma empresa que, por uma pequena quota de mensal 37$50 pudesse adquirir, pelo menos um livro de três em três meses, resultaria em hábitos de mais leitura”?
- Resposta:
– Sim!
-“Pois bem essa empresa já existe, chama-se Circulo de Leitores e nasceu na Alemanha, com o nome de Bertelsemenn”. - Deseja aderir?
Evidentemente, o grupo de palavras precisas e concisas, tinha sido estudado e ensaiado, produzindo efeitos visíveis imediatos. Não obstante o novo sócio, receberia um impresso próprio, com o qual teria de confirmar a adesão, dirigindo-o assinado, à firma em carta posterior.
Logo após essa jornada, João Moisés começou as suas funções, entre as quais a de transformar em sectores toda a Lisboa, fazia-o de carro e apeado, no sentido de avaliar o número de sócios existente, consoante alturas de prédios, extractos sociais, escritórios e outros factores.
Cada sector, poderia abranger, várias ruas, uma, parte, lado direito ou esquerdo, partes de rua, de ambos os lados. Tudo era anotado e no caso de ruas partidas, ficava marcado os números de portas onde começava ou acabava.
Para cada seria recrutado um agente de tutela local. Receberia a primeira quota do trimestre, entregaria uma revista com a designação dos livros já editados. Na mesma, aparecia em destaque o considerado livro do mês, o livro de prémio por cada novo sócio, que conseguisse. Um direito atribuído a cada inscrito e o cartão de pedido, a entregar preenchido no mês seguinte com o pagamento da segunda quota.
No terceiro mês efectuaria o pagamento três, contra a entrega dos livros pedidos, que podia, obviamente devia, ultrapassar os 112$50, sendo de imediato liquidada a diferença.
Ali à Praça do Chile no número um da Rua Pascoal de Melo estava a nascer uma nova empresa, em Portugal, uma lufada de novo ar no meio, em 1971, em que afinal já se vivia uma época pré revolucionária.
Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
PENSAMENTO GRANDES ESPÍRITOS
Pensamento
As árvores de que se conhecem os frutos admiram-se.
Daniel Costa
terça-feira, 21 de outubro de 2008
MUNDO DA FILATELIA
Visto que a língua portuguesa é uma das mais faladas no mundo, é natural que encontremos bastantes cultivadores dos seus selos, para além do rectângulo Ibérico, mesmo se pusermos de parte o Brasil e os novos PALOPS.
O Brasil onde aparecem extraordinárias figuras da literatura, os periódicos, os livros, a rádio ou a televisão, que honram e fazem, cada vez mais versátil a língua lusa.
Não causa estranheza, pois, ter havido neste imenso país, o lançamento, em 21 de Outubro de 1995, de uma série de três selos denominada – LITERATURA – tendo Carlos Drummond de Andrade e Ruben Braga, o grande cronista, repórter, editorialista, poeta, tradutor ambos brasileiros. Apareça junto outra grande figura portuguesa da novelística, do conto, da crónica, da crítica literária e da epistolografia, José Maria Eça de Queiroz.
Isto porque, aparte de se haverem cumprido da 150 anos da morte do escritor, foi um dos maiores expoentes da literatura de língua portuguesa. Segundo João Gaspar Simões, foi ele que deu à literatura de Portugal e do Brasil a sua fluidez e maleabilidade actual.
Bom é que, na realidade, que os filatelistas dedicados a selos que falam de Portugal e da sua história tenham conhecimento desta emissão brasileira. Não deixa de contribuir também para marcar as boas intenções postas, no relacionamento da amizade cultural entre as duas nações irmãs.
Para terminar, podemos adiantar que os selos do Brasil podem encontrar-se nas boas casas filatélicas de Lisboa e Porto.
O texto foi escrito, por Daniel Costa, para a revista Crónica Filatélica, que a Afinsa publicava em Madrid. Saiu no número 129, de Janeiro de 1995.
Daniel Costa
sábado, 18 de outubro de 2008
POEMA CRISE NA FINANÇA
Sempre assusta a crise
Do mal parece aliança
Parece não haverá dinheiro
Se algum se tem,
Entra-se no banco, empresta-se
Dizem-lhe que deposita
Agora chegou a da finança
Mais uma a tirar esperança
A quem convém
Dizem as culpas serem de todos
Só porque muitos ficam sem dinheiro
A culpa é de alguém, não será do primeiro
Coitado!...
Quem comanda é o financeiro
Ele subirá a outro poleiro
Se menos, empresta
Ainda paga, à banca, dita
Comanda a malvada
Paga a gestores pantomineiras
Dizem: o patrão ganhou boas
Somas avultadas de dinheiros
Reparte lucros, torna-os banqueiros
Criam-se novos poleiros
Exigem pagar a mais banqueiros
Não fazem nada, mas
Afluem dinheiros
Sabem explorar o aforrador
Quais mineiros
Gerem os dinheiros
Na mão uns papéis, uma ilusão
Há crise? Deu o dele
Pode pagar em primeiro
Vai ele subir a outro poleiro
Onde haja outro dinheiro
O pobre fica triste, mas paga
Não se lembrou do colchão
Tudo dava certo, ali à mão
De atalaia vigia, o banqueiro
Isento de culpas, com novo dinheiro
Outro assina na atrapalhação
Hossana ao nosso primeiro!...
Daniel Costa
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
LISBOA CAFÉ - 20
DE CARTAS DE JOGAR
O João Moisés teria o raro privilégio de contar naquele outro posto de trabalho, no seio de impressoras gráficas, a estadia na última fábrica de cartas de jogar a par, da impressão em folhas de flandres. No fundo só não ficaria a conhecer, por dentro, o processo de impressão em flexografia.
Sabia apenas tratar-se do único meio onde se empregava a cor do branco, já que nas restantes essa era a do próprio papel.
Não havia encomendas de baralhos de cartas, viriam todos já do estrangeiro, por serem de preço mais acessível devido talvez, à utilização de uma cartolina altamente resistente, enquanto muito flexível, sempre importada de países como a Inglaterra.
Ali estava o pintor João Nascimento, a funcionar como director industrial, cuja flexibilidade na criação de pintura era inegável, a inventar motivos gráficos para cartas, que iam servir de brindes publicitários.
Criou vários, naturalmente adequados ao produto a que se destinavam prestigiar publicitariamente.
A destacar por exemplo, um baralho de cartas para a prestigiada papeleira Sarrió: uma árvore estilizada e projectada, num fundo cinzento, a preto dando a impressão de a mesma estar espelhada em água, aparecendo com prendas dependuradas que são, nem mais nem menos o que o logótipo da firma.
Para as cartas era utilizada uma cartolina corrente, fornecida pela própria Sarrió. Na carta ÁS de espadas estavam sempre presentes as letras Viúva J.J. Nunes & Cª. Lda, aposto também por debaixo desse mesmo valor.
A vertente policial, mas de observação de certas pequenas corrupções, continuava sempre presente no espírito, vive e deixa viver de João Moisés, que no fundo o levavam a parecer inofensivo e a observar com espanto, muitos tipos humanos, bizarrias! Ficavam apenas na conta de bizarrias. No fundo tudo assuntos que só eram possíveis numa cidade como Lisboa, porque na sua diferença abismal da aldeia era suficientemente evoluída, para se detectarem certos comportamentos de fazer pena.
Era uma maneira de tirar dividendos, como as tentativas de Donitz nomeado por Hitler ao alto cargo de comandante, lugar a que se tinha feito demonstrando a mediocridade de pensamento ao preparar-se para negociar, com honra uma rendição condigna do terceiro Reich, com os altos comandos Aliados, que numa última e avassaladora batalha estavam já às portas de Berlim.
Sendo muito tardiamente, só restava ao grande Império, projectado para mil anos, depor armas e sem mais aceitar o que, aceitar todas as imposições – ai dos vencidos!
Com este pensamento foi alertado, na vertente de tratar de vários assuntos de pessoal, por algo parecido, também caricato, a tomada de um privilégio sem sentido:
- Um refeitório. O facto não passava de uma perigosa bizarria, que acabou por ser sanada.
Como era possível a casa de banho da oficina de uma empresa em funcionamento, à hora do almoço, virar refeitório privado?
Quando se tratava de entregar alguma obra, lá ia o João Moisés, que tinha optado por deixar estacionado à porta de casa o seu novinho Ford Escort, em virtude do uso nesses trabalhos ser um facto sem contrapartidas.
Havia dois carros, um conduzido pelo patrão, um Ctroen, daqueles conhecidos como “boca de sapo”, o outro pela patroa, um Ford Cortina. Era dada a liberdade para escolher entre um e outro, como não gostasse de conduzir o da marca francesa, a opção passara a estar tomada.
Em altura que o trânsito fluía em Lisboa, comandado por polícias postados nos cruzamentos mais importantes, fazendo a sua sinalética manual em cima de peanhas, com capacetes altos, imaculadamente brancos e por isso carinhosamente apelidados e conhecidos por cabeças de giz.
No entanto observava-se, ao mandarem avançar ou parar o trânsito, um Cortina velho ser privilegiado em relação a um Escort novo.
O João Moisés deliciava-se com a experiência dessa observação, afinal estava apenas na diferença de custo de cerca de quatro contos no stand, Cortina era de patrão, ainda que o condutor fosse o mesmo!
Das coisas agradáveis foi o ter atendido o actor Rui Mendes, que ao serviço do seu Teatro Aberto, tratou de mandar imprimir um cartaz a anunciar uma nova peça.
Um dia o patrão incumbiu João Moisés de lhe comprar um maço de cigarros no supermercado Pão de Açúcar, nascido recentemente no lado esquerdo. Um encolher de ombros, o habitual esgar de riso interior e mais uma missão cumprida!
Então o patrão não podia deitar a mão a trabalhador menos qualificado?
Bizarria, mais uma das bizarrias, observadas com um atónito prazer – tudo por conta do conhecimento de tipos e comportamentos humanos estranhos!
Decididamente a “Viúva”, só servia como uma outra estação de vida e mais nada, se espremida, Homens e mulheres, em gráfica e um atraso abissal demonstrado! Com tão pouca preparação, a todos os níveis humanos, a empresa tinha de se afundar, cada vez mais!
Em conversa com uma colega desenhadora, o desabafo de João Moisés:
- Aqui todos os funcionários, como eu e a senhora, não passam de uns reles desiludidos! Estamos aqui apenas por engano e de passagem, à espera que novos ventos surjam!...
- Resposta lacónica: - já tinha reparado de facto em si, julgando-o dono de um pensamento e vida interior grandes!
Confortável!... Não se estar sozinho!
O ordenado já só chegava aos pingos, no mínimo até meio do mês seguinte. Subsídios por filhos, que ao tempo entravam e eram distribuídos pelas empresas, também acontecia desumanamente, andarem uns tempos desviados!
Não passaram muitos dias e num sinal de puro desprezo, por aquele tipo de patronato, por justa causa, João Moisés saiu, sem qualquer justificativa.
Tinha de acontecer a perda do ordenado do último mês.
Saiu a tempo, porque segundo veio a saber, logo foi declarada falência!
Todos os salários a ficarem por conta de ganhos e perdas!
Adeus “Viúva”!...
Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA
domingo, 12 de outubro de 2008
CRUZEIRO DA ANARQUIA
PORTUGAL DA CRISE
Todos os meios de comunicação parecem não ser demais para comentarem a crise, que vai aparecendo: Há algo nunca visto, os filhos de algo, vulgo fidalgos, depois de arrebanharem muitos cobres, parecem que se desunham a segurar os cordelinhos, espremendo mais o papel, tentando que a bica da fonte não seque.
E, a malta do governo, com as suas tiradas, para nos fazerem crer, que o nosso país ia em crescendo.
Hoje (12/10/2008), em Paris, reúnem-se os líderes da Zona Euro, para debater a crise, enquanto o nosso primeiro, citado pela revista “DOMINGO”, do “CORREIO DA MANHA”, disse:
- “O Estado não deixara de fazer tudo o que puder.”
- Digo eu, naturalmente, serei mau entendedor!...
- A avaliar pelos feitos Estado, entendo que o que se queria dizer é que era necessário continuar a alagar mais a comunidade dos pobretanas, no sentido de engrossar o lóbi dos coitados, para que votem, perdendo a voz.
Será ser oportuno, postar aqui o seguinte texto apócrifo, que me deram a ler agora. Naturalmente bizarrias de algum anarca.
- Aí… se a alma do rapaz Salazar aparece por cá?!...
Como me prezo de não me considerar egoísta deixo o texto:
Passo 1:
Trocamos a Madeira e os Açores pela Galiza, mas os espanhóis têm levar o Sócrates.
Passo 2:
Os galegos, são boa onda, não dão chatices e ainda ficamos com o dinheiro gerado pela Zara (é só a 3ª maior empresa de vestuário).
A indústria têxtil portuguesa é revitalizada. A Espanha fica encurralada entre os Bascos e o Sócrates.
Passo 3:
Desesperados, os espanhóis tentam devolver o Sócrates, a malta não aceita.
Passo 4:
Oferecem também o País Basco. A malta mantém-se firme e não aceita.
Passo 5:
A Catalunha aproveita a confusão para pedir a independência.
Cada vez mais desesperados, os espanhóis devolvem-nos a Madeira e os Açores e dão-nos ainda o País Basco e a Catalunha.
A contrapartida é termos de ficar com o Sócrates.
A malta arma-se em difícil mas aceita.
Passo 6:
Damos a independência ao País Basco.
A contrapartida é eles ficarem com o Sócrates.
A malta da ETA pensa que pode bem com ele e aceita sem hesitar.
Sem o Sócrates Portugal torna-se um paraíso e a Catalunha não causa problemas.
Passo 7:
Afinal a ETA não aguenta o Sócrates, e o País Basco pede para se tornar território. A malta faz-se difícil mas aceita (apesar de lá estar o Sócrates).
Passo 8:
Fazemos um acordo com o Brasil. Eles enviam-nos o lixo e nós mandamos-lhe o Sócrates.
Passo 9:
O Brasil pede para volta a ser colónia portuguesa. A mata aceita e manda o Sócrates para os Farilhões, das Berlengas apesar das gaivotas poderem as penas e as andorinhas do mar deixarem de pôr ovos.
Passo 10:
Com os jogadores brasileiros mais os portugueses Portugal torna-se campeão do mundo de futebol!
Passo 11:
Os espanhóis ficam tão desmoralizados, que oferecem resistência quando os mandamos para Marrocos.
Passo 12:
Unificamos finalmente a Península Ibérica sob a bandeira portuguesa.
Passo 13:
A dimensão extraordinária adquirida que une a Península e o Brasil, torna-nos verdadeiros senhores do Atlântico. Colocamos portagens no mar, principalmente para os barcos americanos, que são sujeitos a uma sobretaxa tõ elevada que nem o preço do petróleo os salva.
Passo 14:
Economicamente, asfixiados por elas tentam atemorizar-nos com o Bin Laden, mas a malta ameaça enviar-lhe o Sócrates e eles rendem-se incondicionalmente. Está ultrapassada a crise!
Facílimo, hein???
Postagem de Daniel Costa
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
TEMPO DE ÁGUA-PÉ
A água-pé é uma bebida feita de uvas, tal como o vinho, segundo me parece, mais utilizada na região centro de Portugal. Na Bufarda ainda considerada região saloia (circundante de Lisboa) dizia-se, com certa verdade, que era o verdadeiro champanhe do povo.
Talvez consiga evocar um pouco a bebida, já que ajudei a fabricá-la na adolescência. No fundo era um vinho mais fraco e sendo mais barato, era o que os patrões utilizavam para dar aos trabalhadores durante o dia, pelo menos no Inverno, porque depois ia torna-se menos convidativa.
Em Lisboa, pelo S. Martinho, toda a gente gostava (ou gosta) de comprar a sua água-pé, para acompanhar as castanhas em muitas casas, no tempo vendiam-na avulso. No entanto nunca me seduzia, porque lhe era atribuído o mesmo preço do vinho, por vezes mais, quando no fundo se adquiria pura e simplesmente um vinho misturado com água.
Também havia quem comprasse umas uvas, esmagando-as em casa num simples alguidar, em seguida deitava o líquido num recipiente próprio, acabava encher de água, deixava ferver e pronto... proclamava ter uma boa água-pé... pois até passava dos dez graus!...
Mas uma vez mais, vinho e água! Ora fazer vinho e depois deitar-lhe água, nunca dá água-pé de jeito, por muito forte que saia.
A verdadeira bebida, que toma a designação, não deve ser feita de vinho mas sim de uva. Procede-se assim: Espreme-se o pé feito do fruto da videira. Por cálculo, saindo o mosto para fazer o vinho. Desmancha-se o pé, espalhando-o por todo o lagar, deita-se a água e em seguida, pisa-se tudo e deixa-se a macerar por cerca de duas horas.
Então, abre-se a bica e enquanto vai escorrendo para o líquido para o tanque, ergue-se toda a massa debaixo da prensa e espreme-se tudo até ao fim.
É assim que resulta o tal “champanhe”.
Que me lembre, já o meu avô produzia uma água-pé de estalar e a do meu pai não lhe ficaria atrás, até parecia ter um gasoso, um sabor do outro mundo. Com piquinhos e tudo.
Estando com a mão na massa, convém dizer que o bagaço, ficando lavado, no fundo era disso que se tratava, já não dava para fazer aguardente bagaceira.
Também do mosto, fervido numa panela, resultava num néctar a que se dava o nome de arrobe, para utilizar na culinária.
Do mesmo também e podia fazer vinho abafado, chamado assim pelo facto de consistir na simplicidade, de não o deixar ferver, abafando-o com álcool vinícola. De imediato fica feita uma bebida melosa. No Oeste usava-se o método, com fins apenas de renovar a garrafeira da casa.
Diga-se que a venda da água-pé, ao público era e creio que ainda é proibida por lei. No tempo da outra "senhora", um dia ouvi pedir um café frio. Questionado o pai sobre o assunto, disse a razão ser simples: quando havia alguém desconhecido por perto pedia-se assim, para evitar complicações, o que era logo entendido.
Isto vem a propósito de ser este mês, o de ir tratando de produzir o apreciado néctar.
Daniel Costa
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
COISAS DA VIDA
Estávamos no princípio dos anos dos anos setenta, estava o “Círculo de Leitores” a iniciar o lançamento para o grande público, através de promoção porta a porta., por uma equipa de promotores, a quem era ministrado curso acelerado e próprio, para o efeito.
Seguia-se uma outra equipa, chamada de tutela, para dar a assistência necessária, com recebimento de quotas mensais (27$50), entrega de revista grátis, com descriminação dos livros, que iam sendo editados. Nela constava o livro do trimestre, os direitos dos novos sócios, como o prémio de um livro, a que tinha direito, no caso de difusão por amizade, etc.
A tutela era composta por um coordenador, chefes e agentes. Estes últimos eram recrutados no exterior, em princípio na área, para exercerem nas horas vagas.
Calhou-me ser o primeiro, interno recrutado, ainda antes do começo, para acompanhar e dar alguma formação a um dos grupos de agentes de tutela.
Ao começar, havia já um outro e entre ele e eu estabeleceu-se natural amizade. O ritmo da promoção e consequente alargamento, uma vez iniciado, prosseguia aceleradamente.
Mercê de anúncios diários no jornal “Diário de Notícias”, eram recrutados constantemente novos agentes, convencionalmente, atribuídos alternados á coordenação dos dois internos existentes.
Depois de algumas instruções, na própria sede da empresa, começaram, ainda no número um da Rua Pascoal de Melo e da demonstração prática, no terreno, de como dar assistência ao sócio. Cada qual ia coordenando um grupo.
Os livros eram entregues em casa dos próprios agentes, que iam recebendo o dinheiro, que escrituram em pequenas fichas próprias, assim como todo o movimento de entrega de livros. Mais ou menos mensalmente entregavam o produto á contabilidade do “Circulo”, que também tinha o seu próprio registo.
Sem garantias, logo começaram a aparecer os pequenos golpes, visto que os coordenadores iam cuidando também do factor produto.
Em primeira instância, as culpas cabiam a quem recrutava e não a quem coordenava. Era só no sector que o meu colega e amigo dirigia creio que, academicamente, mais qualificado do que eu aconteciam.
O facto originou a troca de sectores, entre nós. Como estavam sempre a entrar novos agentes, continuaram os golpes, sempre no sector do colega. Várias vezes, reparava em certos pormenores e avisava: fulano está a dar o golpe!
Achas?... Como?...
Era inevitável acontecer.
Um dia veio contar-me a história de um agente, que tivera a “amabilidade” de o deixar a sós com a esposa.
Disse-lhe está a dar um golpe!...
Como?... Não pode ser verdade, é um agente tão bom!...
Não passou muito tempo e aparecia a fraude!...
Muitas vezes, combinávamos almoçar juntos e conversarmos, sobre os nossos grupos de trabalho.
Num desses almoços, saiu a pergunta:
Como é que fazes afinal? Se só nos meus agentes há “buracos”!...
Sorri e disse: não estou livre, mas ensino tudo, até a facilidade como se podem dar golpes. Todos ficam a saber que, ao primeiro deslize apercebo-me logo. Quem é mal intencionado, nem chega a pegar no trabalho.
Eis a razão porque, são bastantes os que nem chegam a entrar.
Ao contrário explicas muito mais, mas esse pormenor, evitas que saibam, o que é fatal, podes crer.
O meu colega, acabou por ser despedido, não foi isso a causa próxima, mas terá pesado.
Fui instado a testemunhar contra, em assunto que ele tinha razão.
Sim senhor iria, mas testemunhar a verdade e a verdade, era diferente da que me queriam “vender”. Fui excluído e também paguei por isso, cobardemente, faltou a coragem de me despedirem e sai, pelo meu próprio pé, quando entendi.
Curiosamente, morando por perto, devo ter perdido o último elo com agentes.
De facto faleceu agora, repentinamente, em férias, o último ao serviço, com quem mantinha contactos.
Tinha apadrinhado o seu casamento e pela amizade, pela confraternização, pelo dinamismo e até porque, parecia ter saúde para vender, fui deveras atingido por um verdadeiro choque.
PENSAMENTO:
Luto por um mundo vivo, por isso não devo chorar os mortos. Não posso contudo, deixar de lamentar a perda de um amigo.
Daniel Costa
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
POEMA NAMBUANGONGO
Ir a Nambuangongo era como ir à cidade
Nos idos de sessenta e dois e tenra idade
Pela UPA era considerado um reino
Que entretanto, pelo lendário Maçanita
Havia sido retomado, com astúcia e treino
Delimitado pelo rio Lifune,
Por guerrilheiros, pontes destruídas
Tentando cortar avanços, à tropa determinada
A Muxaluando passava uma picada
Entre Vista Alegre e o Lifune, a sua ponte
Ali estava, com a tentativa destruidora ficava
Em Vista Alegre de boas recordações
Tropa do Maçanita, teve ordens, avançava
Depois Nambuangongo retomava
Em Nambuangongo a gente ri depois
Enquanto nas cantinas, se bebericavam
Cucas, em grupos de talvez dez, mais dois
Novidades flutuavam, uma em que os turras
Atacaram, furavam tachos
Em Portugal
Digamos, que pela primeira vez
Um tal, com apodo de Totobola comandava
Ufano da avioneta vociferava
Amigos: mulheres bastantes tinha, até desprezei
Em corridas de automóveis participei
Aqui do alto, as minhas tropas comandarei
Um outro, Tenente-Coronel, fazia espectáculo
Como bobo de qualquer rei
Todas a manhãs fazia preparação física
O risível método consistia em rebolar no chão
Munido de pistola aos tirinhos
Entre acampamentos, onde havia protecção
Sempre bizarrias de superiores oficiais
Eram horas de liberdade rir e dizer
Olhem os exemplos, vejam os tais!
Em Nambuangondo rir inocentemente, não era demais
Daniel Costa
sábado, 4 de outubro de 2008
LISBOA CAFÉ - 19
Se agora o mundo da noite chegou para as bandas de Alcântara – Mar foi por ali, ao longo da Rua Fradesso da Silveira, com entrada para os Serviços Administrativos, do lado Sudoeste do grande prédio comercial de dois andares, a ocupar todo o lado direito de quem sobe.
Era aí que funcionava uma gráfica, entre outros trabalhos, ali se fabricavam desde outros tempos cartas de jogar.
Foi nessa empresa, que João Moisés entrou a um de Julho de setenta. A designação era a de Viúva J. J. Nunes. A “Vúva” como todos os funcionários a designavam, para abreviar, tornando mais simples a nomeação.
A princípio era-lhe atribuído o serviço de vendas. Havia uma renovação em curso, entrara um outro sócio, os anteriores, por falta de rentabilidade e com dívidas sobre dívidas, acharam por bem abandonar o “barco”.
Um gestor de visão moderna, arriscara abandonar uma empresa de futuro para também entrar, formar equipa e elevar a fábrica gráfica rumo à rentabilidade, porém tendo em conta o passivo acumulado.
Em breve João Moisés foi chamado a uma nova ocupação, mais de acordo com as aptidões, servia mesmo de conselheiro para a problemática de encomendas de trabalhos gráficos, rever todos os orçamentos de obras a decorrer, com certa periodicidade e atender clientes. Digamos que tratava de muitos assuntos, como entregas e até lhe estavam cometidos certos assuntos de pessoal.
Chegaram novos homens de vendas, conhecedores do marcado, que passaram a trazer para orçamentar obras de vulto. Parecia ter entrado ali um novo fôlego.
Mais ou menos, à frente da produção, estava o pintor João Nascimento, que por sua vez foi buscar uma sua antiga professora de desenho, para o ajudar a proceder a trabalhos na área da criação artística.
João Moisés, estava a entrar num mundo que o cativara e posicionava-se a desenvolver o melhor que podia, corresponder a essa nova dinâmica, que achava aliciante.
Relacionara-se com todo o pessoal e em breve dominava todas as fases dos serviços, assim como as respectivas secções. O seu dinamismo estava disponível e quase diariamente o novo gestor o convocava, para esclarecimento de determinadas questões, na maioria orçamentais.
Por vezes o esclarecimento deixava este admirado e o interlocutor não o ficava menos, porque acabava de saber os muitos erros de gestão que, saltavam à vista. Por vezes ficava a sensação de várias corruptelas de gerentes anteriores, assuntos que estavam a ser minuciosamente revistos e alterados.
A empresa imprimia trabalhos de toda ordem, era fábrica de cartas de jogar e tinha secção de impressão em folhas de flandres, talvez o motivo de existir ainda.
O último associado, que tentava o dinamismo, tinha entrado porque proprietário e liderava uma fábrica de embalagens de lata de vários tipos, destinados a clientes, para esse fim necessitava de mandar imprimir a folha no exterior. Razão porque já era cliente da “Viúva” e daí procurar salvar a empresa, adquirindo a maior quota o que dava o domínio.
Em pouco o João Moisés, pelo pouco que conhecia de gestão empresarial e pelo quadro que lhe sendo dado observar, começava a ter muitas dúvidas, sobre a viabilidade da empresa.
Embora dissesse não gostar de lutar por causa perdidas, ia trabalhando com denodo, estava a acreditar um pouco na nova gestão, cujo titular competência e afabilidade.
Os vendedores, que traziam trabalhos de envergadura para orçamentar, logo desataram a apresentar escusas e a desandar, porque nenhuma das propostas era aceite.
Do assunto resultara reunião com João Moisés, que fizera os orçamentos baseado nas capacidades dos formatos das máquinas, que o respectivo parque apresentava. Previamente foi referido não ter sido posta em causa a capacidade de orçamento, no entanto eram necessárias elações.
Afinal o assunto era muito simples, face a outros dados até então só na posse do gestor, era a já sabida, a empresa não tinha capacidade para determinadas obras.
Um exemplo concreto foi posto em equação, tratava-se de uma pequena revista semanal de histórias aos quadradinhos, havia o conhecimento de que um orçamento de outra empresa concorrente, por metade do preço. O João Moisés conhecendo o meio logo disse em iguais circunstâncias de maquinaria a “Viúva” podia fazer melhor preço em virtude de dispor de mão-de-obra mais barata.
Aventados os porquês, concluiu-se que afinal, não seria possível laborar ali obras de envergadura.
Passou a então a rever-se todos os orçamentos de trabalhos. Por se executarem periodicamente, havendo apenas a necessidade de ir às prateleiras dos arquivos e com os fotolitos existentes, imprimir de novo, renovando o stock do cliente.
Tudo revisto, orçamentos novos, feitos como se a obra entrasse pela primeira vez, apresentados por João Moisés à gerência, este com a sua habitual timidez, reafirmou não lhe terem sido fornecidos outros elementos, que não os que ele próprio reunira, pelo que não podia ser responsabilizado, por qualquer lacuna.
Por um convénio existente entre os industriais gráficos, os fotolitos e montagens ficavam propriedade da fábrica.
Recebeu logo apoio ouvindo: de erro devem enformar todos!
Desejava-se ver isso mesmo! Verificava-se haver casos em que o cliente estava a pagar obras a metade do preço e parcela por parcela, o novo seria o bem executado e o mais actual, embora a gerência contasse com margem de manobra, para negociar custos, como também fora afirmado.
Fica um exemplo, a empresa familiar dos pudins Mikau, estava a mandar imprimir embalagens de cartão para o seu produto, incluindo também o trabalho de cartonagem a custo, de cinquenta por cento inferior do valor real.
Por ser a encomenda mais recorrente e dada a amizade que existia, traduzida em pagamentos adiantados amiudadamente. Porém havia a necessidade de tomar atitude, lá estava a margem de preço para negociar, mais a existência de fotolitos e montagem.
Naquele caso, acabou por funcionar e o problema ficou bem resolvido.
Daniel Costa – in JORNAL da AMADORA
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
POEMA MEU OESTE NATAL
Foram vinte anos, os que vivi
Naquela casa construída
Em mil nove trinta e quatro
Mesmo quarto em que nasci
Foi-me me agora designado, por dias,
Adorei!... Dele parti
Rumo ao Bombarral
Visitar, numa escola, um irmão
Desci ao casal do Urmal
Confraternizei com o enciclopédico
Velho amigo António Elias
Recordámos! Não fez mal
Um outro dia!... Peniche
Sempre observando a cidade
A velha ilha de pescadores, por sinal
Cabo Carvoeiro
Mais a Escada de Pilatos
Descendo ao mar, por entre pedraria
Trabalhada pelas marés
Defronta, o rugido do mar afinal
Numa admirável demonstração
Insana do trabalho da natureza
Requer um olhar de admiração,
Sem leveza
E a Nau dos Corvos?
Do mesmo nome ali está
Na ponta do Cabo o restaurante
Encimado do inesquecível mirante!...
Frente à Berlenga
Visão de outro mundo
Imenso Éden, figurino de beleza
Proporciona, a mãe natureza
Sempre pela marginal
Passei pelo Baleal
De novo, o avistar dum mundo
Parecia irreal
A Berlenga de novo, ali à mão
Alguém disse: a ilha parece perto
Temos chuva por certo!
À noite muito trovejou
Seguiu-se uma bátega de água
Não, é realmente profecia
A marcação dos tempos
Mentalmente, funcionando
Na varanda da minha lisboeta casa
Quer seja noite, ou dia.
Daniel Costa
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
POEMA AS CONCHINHAS
Ainda não havia chegado a televisão
Jogos e computadores, evidentemente não
Jogava-se a concha, o berlinde, o pião
Improvisado aparecia o jogo da semana
Com oito casas, riscava-se no chão
Os batos feitos de pedaços de caco
Arredondados na cantaria do vão
Jogava-se, para apurar o campeão
Era a vida, a da pequenada, a da ilusão
Para jogos não havia inventos, havia tempos
A professora dizia as fúrias, conforme os ventos
Todos tinham, para jogar, seus instrumentos,
Verdadeiros tesouros de inventos
Escasseavam nos bolsos as conchinhas
A jogar numa nóquinha, como se dizia então
Davam à costa e abundavam na Praia da Consolação
Acabadas as aulas, estava a começar o Verão
Tudo se muniu e a professora lá levou o pelotão
Cada qual apanhava o seu tesouro, o seu quinhão
Tudo mudou, não há conchinhas
Pena, porque estavam ali uns diamantes
A preencher os bornais das ilusões de então
Do jogo das conchinhas poucos se lembrarão
Mas lá está o extenso areal
Qual cosmopolita Copacabana de Portugal
Representando a Praia da Consolação
Daniel Costa
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
LISBOA CAFÉ - 18
Sem se desconcertar e porque não podia estar em descanso, deu início a uma nova tarefa. Teria apenas a duração de um mês.
Foi apresentada e dourada, como de chefia, cargo que podia condizer com o perfil de João Moisés, mas decididamente não, logo não podia ser assumido na plenitude. No entanto a dedicação ao que havia a fazer, em qualquer circunstância, era uma faceta da sua personalidade.
Os tempos eram agora muito difíceis, até porque João Moisés havia subido a um patamar social de certo nível, muito para além do próprio meio, onde agora se movimentava, não obstante as mutações observadas, enquanto procurava nova integração.
No princípio dos anos setenta, constatava-se não haver falta de trabalho indiferenciado, mas sim lacunas de qualificações e evoluções geradas por esta. Várias vezes foi ouvido:
- Não nos serve, queremos alguém sem qualquer qualificação e como hoje os bons lugares estavam reservados a clientelas políticas, cujos dotes estão apenas num cartão de filiado.
No tempo dos afilhados podia só saber pensar, mas eram afilhados!
Porém, uma vivência rica pode ser feita de experiências, mas aconteceu que, no mês quatro de setenta, chegou ao trabalho numa empresa que dava pelo nome de Centro Técnico de Desinfecções.
O cargo era mesmo de chefia, o que dava direito a carro para condução própria de trabalho e recolha de outros empregados, a qualquer hora do dia ou da noite, assim como para transportar os materiais necessários para executar tarefas exteriores.
Não havia qualquer horário de trabalho específico, podia acabar-se um ás quatro da manhã, vinha-se para casa e logo ás onze um telefonema do escritório e… lá estava outro serviço.
A entrada processou-se num dia de chuva miúda, de tal modo que o campo de visão era restrito. O começo iniciou-se com algumas instruções do própria patrão sobre a carrinha “Citroen” que, cabia a João Moisés conduzir.
Deu como resultado, talvez também por falha nos travões, embater num autocarro da Carris estacionado, cujo não sofreu danos, porém a carrinha ficou um pouco amolgada.
O trabalho do dia ficou por aí, mas à noite a casa a chamada: Havia que efectuar a limpeza e desinfecção de todas as instalações de um afamado restaurante de Cascais.
O serviço foi executado de madrugada e até nem correu mal para início. Culminou com uma mesa cheia de boas gambas, para todo o pessoal da desinfestação. Alguns colegas eram alheios ao trabalho, mas fingiram bem, pois tinham sido convocados, por causa do costumado “banquete” e como prémio da empresa prestadora daqueles serviços, a que pertenciam de facto, mas noutro ramo.
A seguir, calhou uma operação interessante, a desinfecção de um grande casarão nas arribas da praia de S. Bernardino, perto de Peniche. Tinha sido mandado construir havia pouco, por uma senhora americana.
Criadagem havia para quase todas as dependências e era bastante visível.
A vagem foi feita no “ Mercedes” do próprio patrão, que comandou o que não seria necessário, mas terá aproveitado para viajar até à vila piscatória de Peniche onde, terminado o trabalho houve o almoço, com a lógica liquidação pela firma.
Contratações, eram diárias, por vezes de dia e à noite, para o caso de restaurantes ou hotéis. Alguns destes eram conhecidos de João Moisés, que ficava com a estranha sensação que se os clientes conhecer as unidades, na acalmia da noite, ficariam enojados de terem feito ali qualquer repasto.
O engraçado é nunca se ter feito a desinfecção em tascas e mesmo assim!... Baratas eram tantas, nem se sabia onde havia espaço para se esconderem da luz do dia, tanta bicharada!...
Certa madrugada, bem de madrugada, depois de um serviço de desinfecção a duo, conduzindo a carrinha, deixou o colega em casa, em Valejas e apanhado a auto-estrada de Cascais, por volta da bifurcação para Benfica, chegou a fraqueza em forma de leve sono, que passou ao lado, mas suscitou susto.
Deu para ficar desperto, até finalmente descansar por quanto tempo?
Não haverá vivências: O homem é que as faz. Decididamente, a ocupação era engraçada, pondo de parte aquilo, a que se achava ser exploração laboral, para posto de observação era óptimo, mas como as ambições estavam noutro lado, por elas continuava a lutar.
Certo dia a convocação chegou, para a limpeza dos insectos de um hotel de Sagres, estadia de três dias no mesmo, para o que se havia de ir preparando. Trabalho de noite, durante o dia descanso, com algumas idas à praia e a observação como a indústria de turismo ia chegando a todo o Algarve.
Estávamos ainda em 1970, deu-se a viagem no “Mercedes”, do patrão, com este a mostrar a excelência duma condução feita num daqueles caros topo de gama e a estadia, mais uma vez era adoptada por este, tanto mais que desta vez era de conta do hotel.
Os dois empregados ficaram instalados nos quartos de dormir destinados a motoristas particulares, eram óptimos.
Para as refeições foi destinada sala própria, sendo o serviço igual ao de todos os funcionários de cozinha. Havia sido destinado um rapaz dos seus quinze anos, a servir tudo o desejado, disse ser destacado e para receber todas as ordens nesse sentido.
João Moisés, já se instalara em diversos hotéis, porém um tão eficaz atendimento de restauração nunca tinha conhecido.
O trabalho só se processava à noite, porque para ser diurno, teria de haver interrupção dos serviços a prestar ali.
Chegou a vez de se fazer uma desinfecção a uma pousada a uma pousada no litoral alentejano, após trabalho nocturno, um serviço e uma experiência também interessante.
Na volta para Lisboa, o almoço processou-se num restaurante de Santiago do Cacém.
Afinal quem comandava, nunca tinha sido João Moisés e o colega, antes da liquidação, informou ser usual mandar fazer factura com uma quantia mais elevada, ficando o suplemento a distribuir pelos comensais intervenientes.
A firma pagava após serem apresentadas contas.
Depois, o que andava a ser equacionado passou-se naturalmente. Não tinha decorrido trinta dias e era apresentada a renúncia. A patroa a comandar a retaguarda, no escritório, mostrou zanga, o patrão mostrou o seu indesmentível bom relacionamento e afirmou:
- Apesar de ver em si, sempre bom funcionário, observando-o e reparei que este tipo de trabalho estava longe das suas aptidões e justas aspirações, razão porque não lhe cheguei a entregar a chefia como o pretendido e para a qual o havia contratado.
Daniel Costa
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
POEMA DIAMANTES
Histórias mirabolantes
Estão na literatura que conhecemos
Dos cobiçados diamantes
No fundo são as pedrinhas
Que príncipes oferecem a princesas
Também reis ofertavam a amantes
Tudo jogatinas
Em reinos distantes
Polícias, ladrões, espiões, traficantes
Muitos cifrões
Num mundo de burlões
Parece tudo organizado
Num meio de muitas confusões
Para Diamantino, disseram um dia
Num país em guerra
Tudo o que vês é pedra
Não uma pedra qualquer
Esquece, mesmo que tropeces
Numa mais brilhante
Porque tudo é diamante
Nenhuma vês
Pode estar a espionagem
E faz-te a folha de vez
Visitando um museu
Foi como pisasse o chão, o que comoveu
Mais tarde alguém, Diamantino esclareceu
Gananciosos compravam todas as pedras
Que as guerras sustentavam
Porém uma parte
Sendo de diamante, não tinha quilate
Desfaziam-se por entre dedos num instante
E a guerra continuava incessante
Ninguém percebia, só porque tinham goela
Proibiam-se animais de capoeira
Talvez disfarçando qualquer asneira
Porque havia discriminação
Julgava-se que para a vida inteira
E os diamantes
Reluzentes, os verdadeiros
Embarcavam para mundos inteiros
Daniel Costa
domingo, 21 de setembro de 2008
CURRICULUM - POEMA
Para subir na sociedade
Cheguei a perito em anúncios
A própria modéstia constrangia-me
Seria um princípio, a tenra idade?
De facto, continuo sendo modesto
Floresceu da minha condição
Há por outro lado a hipertensão
Esta esvoaçava, soltava-se o gesto
Ficava outro, talvez eu
Empolgava-me, falava
Sem falar de mim, dizia o que convinha
O emprego era meu
Curriculum até tinha
Provei-o sempre
Para continuar a subir
Só entrava noutra linha
Novo, trabalho, novo sucesso
Até que um dia, um convite
Um engano, uma insensatez
Seria progresso?
Sem trabalho não podia
Num suspiro fundo
Uma pequena pausa
Ténue paragem de um dia
Enfim o curriculum até valia
Creio que julgaram mal
Os que vieram depois
Além de curriculum
Não estava ali um pão sem sal
Encarnava a infinita bondade
Podia ter espalhado dúvidas
Fazendo certas revelações
De espantar a máxima autoridade
Não aquele antro clerical
Sem interferências, viria a acabar
O previsível deu-se
A mentira publicitária
Não terá sido o menor mal
Daniel Costa
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
LISBOA CAFÉ - 17
Numa empresa, com pretensões a tornar-se moderna tornava-se urgente tomar outros caminhos, mesmo vivendo num regime fascista, cuja propaganda oficial, lhe chamava Estado Novo. Não podia ser dominada por uma sociedade clerical do tempo, como se verificava.
Demais na indústria gráfica, o sector da sociedade, onde maior evolução se notava.
João Moisés observava que ali ao invés do que era corrente, em conversas mesmo que não fossem de trabalho, referia-se o administrador, como o Senhor Director… o Senhor Doutor e por aí fora.
Mundo estranho aquele!...
Bem se pode saber que o edifício ainda era habitação de freiras, eram tratadas por irmãs, uma chefiava a encadernação, outra a loja de paramentos, santinhos, hóstias, secção de pessoal dirigida por um sacerdote, etc.
O Jornal Novidades, que reflectia as tendências do Patriarcado, tinha ali a sua sede e era dirigida das mesmas instalações por um eclesiástico, monsenhor Moreira das Neves.
A revista Flama, do mesmo grupo sedeada ao virar da esquina, na Rua Rodrigues Sampaio, executada também na União Gráfica e dirigida por António Reis, é que parecia querer trilhar caminhos mais modernos, os próprios trabalhadores, onde se contava o desenhador Manuel Vieira que, fora autor o boneco Zip Ziz, do célebre programa de televisão do mesmo nome, a dar mostras de anti religiosidade, mostravam um certo distanciamento, relativamente ao que dissesse respeito à casa mãe.
O mal menor seria a presença de elementos afectos à Opus Dei, mas esses estariam mais virados a inovações, de que uma grande gráfica havia de trilhar por força.
Tal como sempre, pelo menos depois de Gutenberg, o meio gráfico tinha de se posicionar, como a principal alavanca de progresso e elevação da sociedades.
Tentativas feitas para elevar a empresa eram letra morta, à partida estavam marcadas para uma espécie de selo de insucesso, redundavam assim em retrocesso.
Definitivamente, o Patriarcado tinha colocado ali os anti corpos, os pequenos poderes constituídos pelos afilhados, como o eram por exemplo, ex seminaristas.
Grande parte dos clientes vinha do clero o que à época não ajudaria. Recorda-se o pároco da freguesia das Mercês, em Lisboa, o padre Marques Soares que, sendo fervoroso do culto de Santa Teresinha ali implantado, editava e dirigia uma publicação periódica, denominada precisamente Rosas de Santa Teresinha, que mandava executar na empresa da Rua de Santa Marta.
Da mesma constava uma secção de correspondência, normalmente eram cartas vindas do Portugal de Angola, naturalmente de gente colocada em missões. Delas faziam parte relatos de milagres, nascidos de factos tão comezinhos que, podiam mesmo nem ter lugar na categoria de incríveis, porque se baseavam em pequenas incidências diárias.
Só por si, o facto não traria grande admiração a João Moisés, que até já tinha passado por Angola e sabia como seria fácil um envelhecido missionário, isolado dum mundo em desenvolvimento, retroceder no foro intelectual, no entanto as respostas elaboradas pelo pároco das Mercês de Lisboa, constituíam uma coisa incrível, nem poderia haver já qualquer entidade celestial, que não tivesse o poder de perdoar tamanho atraso mental ou retrocesso, mesmo se visto com um olhar místico.
Coisas que não podiam agradar à mentalidade de João Moisés, que achando por muitas razões, não merecer que as divindades o tivessem conduzido àquele mundo, que não reflectia nem de longe o seu tempo.
A alimentação do ego situava-se na procura de futuras soluções, onde os seus conhecimentos deviam esvoaçar com melhor aproveitamento.
Por vezes também chegavam clientes representadas por pessoas causticadas com tanta mesquinhez, que vinham prontas para a dureza, como a Maria João Aguiar, ao serviço do Donas de Casa.
À índole pessoal rebelde, por natureza, acumulavam-se factores de desagrado. Encaminhada para João Moisés, desabafou e acalmou..
Assuntos resolvidos!... Acabou por tornar-se um prazer interagir com alguém do tempo.
Ainda pior chegou depois: Entrou-se na administração de um padre, monsenhor Assis, um homem forte e meio anafado. Estaria ali uma solução para a elevação da empresa?
Decididamente, nem pensar, tinha entrado mais retrocesso, talvez obra de demónio. Já se manifestavam os “reizinhos”, com quem promovia reuniões, no próprio passeio da rua, mesmo em frente da janela do departamento, os desabafos eram uma constante e finalmente estavam a ser recuperados velhos privilégios, com os inerentes poderes pessoais.
Monsenhor Assis tomara um poder principal, o de humilhar os de maior qualificação, com a ideia concebida de despedimentos, naturalmente investia primeiro contra os mais novos do quadro.
Feitas sondagens a respeito, uma irmã diria sem rodeio: não diga que veio ganhar mais de cinco contos?
Era a chefe da loja, ficou deduzido que seria a cifra do seu próprio salário!...
Com alguns vindos do Dafundo, era a ideia de refrescar a empresa, estava uma boa amiga. Abordada, ficara conhecida a apreensão que grassava naquela gente.
Definitivamente a chegada do clérigo, transformado em director, funcionava como a encarnação de um demónio. Coisas estranhas de um velho mundo!
Pouco tempo passou e João Moisés foi chamado ao serviço do pessoal, deu-se o que pensava, no fundo já o esperava!
- Ordem de despedimento!
Foi depois encaminhado a um senhor padre, este começou por dar conselhos, relativos ao despedimento, devia ser o psicólogo da turma!
Como estava a tratar, com quem se considerava da época! Este nada satisfeito pelo seu despedimento, tinha de partir para outra e era só no que pensava, no momento, abortou a abordagem da maneira seguinte:
Por favor, é melhor poupar retóricas, tudo será solucionado!... Jamais desejarei ver clérigos na minha frente, Deus acaba de perder um devoto!...
Nos pagamentos, uma outra freira, o dinheiro em cofre devia ser pouco, a irmão bonita como a apelidavam, era-o e diziam as línguas más, na clandestinidade teria um amante, fazia o seu papel de adiar o procedimento de pagar.
Que nada, se podem fazer despedimentos, logo devem prestar contas!...
- A veemência terá tido o efeito de fazer encolher a contabilista e João Moisés foi satisfeito.
Entretanto, tendo já passado pela grande provação, saiu!...
Daniel Costa – in JORNAL DA AMADORA
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
A GALENA
Muitos não saberão o que foi um aparelho radiofónico, que julgo ter sido pouco utilizado, o qual tomou o nome de GALENA.
Pensando no assunto e porque me coube o privilégio de usar um desses receptores, proporcionando-me um período de rara felicidade, nos meus tempos de juventude.
Tentarei descrever o aparelhómetro.
Verificando vários dicionários e enciclopédias, não encontrei este nome, senão mencionando um metal como sendo um dos mais vulgares dos minerais de chumbo. Por outro lado, fazendo uma recolha, pude verificar serem os cristais de galena usados como detectores na T.S.F.
Depois destas breves pesquisas, conclui que a denominação de GALENA para o citado aparelho emissor de ondas de rádio, vem do metal galena, visto ser um pedaço desse, o principal elemento funcional da citada peça radiofónica.
Nos tempos em que utilizei o tal aparelho, porque foi na década de cinquenta, só a Emissora Nacional possuía capacidade de difusão, para se fazer ouvir com tão rudimentares recursos, que dispensava energia eléctrica. Lembro contudo de ter conhecimento da Rádio Graça, a difundir da Rua da Verónica e dos Emissores Associados de Lisboa. Com certeza haveria outros.
Ainda não existia TV em Portugal e a rádio sendo já uma "senhora", era uma coisa de real sedução.
Por isso a GALENA era uma verdadeira atracção, até pelo gozo que proporcionava, uma vez que era um autêntico "faça você mesmo". Ainda muito miúdo lidava bem com a atraente geringonça!
Primeiro estendia um longo fio desde o cocoruto de uma árvore até uma janela, que havia no sótão. Antes da entrada, três elementos de louça ligados com a ponta do fio, evitavam qualquer contacto entre a parede e o mesmo, daí derivava a ligação para o interior. Depois uma extensão segura a uma pedra enterrada no chão, fazendo a necessária "terra" a completar o exterior. Chegado o Verão, tornava-se necessário regar o chão, afim de ser criada a humidade necessária ao contacto com as ondas de rádio.
Aquilo era de uma simplicidade que, por falta de uma parte dos elementos, começou por funcionar apenas com fios, com ligações aérea e terráquia, a uma ficha cada, uma das quais ligada a um pedacinho de galena, a outra estabelecia o contacto com a Emissora, com a busca de qualquer saliência a dar essa possibilidade. Um auscultador apenas fazia chegar a emissão ao tímpano respectivo, que por sua vez só era audível com aquele elemento pegado mesmo ao ouvido.
Mais tarde chegou o resto do material, que se resumia a quatro tabuinhas, com as quais foi montada uma caixa própria encimada com um pequeno rolo de vidro, onde era introduzido o tal pedaço de galena e uma espécie de monitor, composto por um fio de forma encaracolada. Ficava mais prática, rodando a peça, a forma de entrar no som do posto da Rádio Nacional. A mesma estrutura ficava a constituir o rudimentar rádio, tinha acopladas as respectivas ligações referidas anteriormente.
Evidentemente que hoje, por puro entretenimento, ainda se podia montar um destes sistemas tanto mais que já cheguei a ver apresentado um exemplar num célebre programa de televisão, que dava pelo nome de 1-2-3.
Claro que, para montar o esquema, seria necessário espaço abundante fora de zonas citadinas, porque nestas é reduzido.
No entanto com a vivência dos dias de hoje não se pode pôr algo do género em equação, basta ver que a rádio de há cinco décadas, nem funcionava todo o dia, não havia ainda satélites, para se ter no ar todas as transmissões efectuadas actualmente, por tudo e por nada, em todo o mundo moderno.
Daniel Costa, in JORNAL DA AMADORA